domingo, 11 de março de 2012

Teatro Amador













Elenco de "O Badejo" com o diretor Osmar Rodrigues Cruz


ARTIGO – DIÁRIO COMÉRCIO E INDÚSTRIA – 22/01/1950
Teatro Amador
Vamos hoje discorrer sobre o teatro amador e estudantil, bem como sobre a sua influência e contribuição ao desenvolvimento do teatro nacional e em particular o teatro paulista.
Em todo o mundo são os grupos de amadores que apresentam às platéias de sua terra espetáculos que, por seu alto grau de cultura, muitas vezes não podem ser levados por companhias profissionais por não serem obras de bilheteria, mas cujo valor artístico é respeitável. São sempre os grupos de teatro amador que fornecem a maioria dos atores  e técnicos aos elencos profissionais. Isso se passa tanto aqui como em outras terras. Sendo o teatro uma arte quase que inteiramente prática, o amadorismo é a oficina onde se pratica essa nobre arte. Quantos atores e diretores não surgiram da obscuridade do teatro amador? Stanislawski foi amador na arte cênica durante muitos anos, somente quando fundou o “Teatro de Arte” é que se tornou profissional, mas seu gênio já era o do eterno pesquisador desde o começo da sua vida no palco. Um homem como ele pode ser considerado um gênio da arte dramática, pois seus ensinamentos são seguidos em todo o mundo desde os Estados Unidos até a Rússia seu país de origem. Muitos outros atores, e a lista seria enorme, saíram do teatrinho da sociedade estudantil. Em nosso país a maioria de nossos atores e atrizes foi amador. É o Teatro do Estudante do Brasil que tem sido o maior celeiro de jovens inclinados ao palco. Graças a Paschoal Carlos Magno um grande número de jovens vem servindo o Teatro Brasileiro. Pelo Brasil afora, em cada cidade surge um teatro de estudante com uma vontade enorme de trabalhar e progredir, de poder contribuir para a cena nacional com um pouco de dedicação e esforço.
São Paulo atualmente está pobre de teatro amador, somente o Teatro Universitário do C. A. “Horácio Berlinck”, e o Teatro do Estudante de São Paulo, que recém fundado irá apresentar-se em março com a peça “Nossa Cidade”, e ainda o Corpo Cênico Bancário que tem apresentado aos seus elementos de classe peças nacionais, o que não deixa de ser uma contribuição.
Portanto, apenas três teatros amadores lutam em São Paulo. Aqui, onde devia haver mais de uma dúzia de grupos.
Qual a causa, perguntam? Não se pode responder que ela seja uma só, não. Mas a principal é a falta de apoio quer por parte oficial como particular. O Teatro do Estudante de São Paulo não se apresentou ainda porque a entidade que está patrocinando – União Estadual dos Estudantes – ainda não lhe pôde fornecer os recursos financeiros; por outro lado o próprio grupo não encontra eco em parte alguma. Entretanto, o seu espetáculo é uma novidade para São Paulo, pois nunca a peça de Thorton Wilder foi representada em português para nós. Ali estão mais de trinta jovens esperando um dia poderem apresentar-se ao seu público.
Por que algumas pessoas que possuem dinheiro não auxiliam numa causa dessa? Isso não tem resposta porque ela reside na boca de cada um. No entanto, quantos benefícios não poderiam os grupos amadores oferecer à nossa pobre capital artística!
Em todas as capitais os teatros dos estudantes lutam com o mesmo problema, mas sempre, quando não é o prefeito é o secretário, e às vezes o próprio governador, ou mesmo particulares que auxiliam o grupo. Haja vista o Teatro do Estudante do Paraná, que excursionou por todas as cidades vizinhas representando “Os Espectros” de Ibsen. O mesmo poderia ser feito aqui em São Paulo; cada grupo daria um espetáculo nas cidades próximas, onde nunca se viu uma companhia profissional, justamente porque não há público suficiente para mantê-la. Mas, o amadorismo, dirigindo-se para lá, teria possibilidade de formar esse público. Quantas pessoas no interior do Paraná hoje já sabem o que é um espetáculo e quem foi Ibsen. Mas aqui, quando o Teatro Universitário do C. A. “Horácio Berlinck” representou os “Espectros” os “snobes” e os “entendidos” não apoiaram e muito menos estimularam. Todavia, quantos paulistas não poderiam conhecer Ibsen e ver um espetáculo moderno. Para isso levariam prospectos e fariam apresentação do espetáculo para que a platéia compreendesse a obra do dramaturgo norueguês. Isso deveria ser feito e ainda deve ser feito. Uma missão de cultura está nas mãos dos jovens amadores e estudantes para ser cumprida, mas antes de tudo, senhores, o vosso apoio deve ser dado. A chama do progresso está sempre com os moços, deles é que parte o grito de vanguarda, a sua missão deve merecer o aplauso geral, porque muito precisa o teatro nacional de renovação, e somente a mocidade poderá fornecer essa mudança.