domingo, 3 de junho de 2012

Os Espectros - 1947














ARTIGO - CORREIO DA MANHÃ POR PASCHOAL CARLOS MAGNO -  25/10/1947
Às quatro da tarde de sábado último no salão da Escola de Comércio Álvares Penteado, em São Paulo, assisti ao ensaio geral de “Os Espectros” de Ibsen, pelo Teatro Universitário do Centro ‘”Horácio Berlinck”. Se não encontrei intérpretes perfeitos, como deixar de admirar-lhes a sinceridade e o entusiasmo, esses rapazes e moças responsáveis pelos cenários, adereços, do espetáculo que teve lugar, segunda-feira última, no Municipal, encontram-se completamente desamparados. As autoridades estaduais e municipais não lhes conhece o endereço, para um auxílio qualquer em cruzeiros ou facilidade na doação de um terreno para construir ao menos um barracão onde pudessem encenar e representar peças. Admirei-me da cultura de cada um, particularmente no que diz respeito a efeitos luminosos, o que envergonhariam muitos dos nossos atores metidos a diretores. Até sala para ensaios, é arranjada a custa de muito esforço, como esmola ou favor. No avião que, na tarde de domingo, me trazia de volta ao Rio, lembrava-me  do encontro que tivera, no Municipal, sábado à noite com Antonieta Rudge, durante o segundo recital do “Conjunto Coreográfico Brasileiro” e mais tarde em recepção que, em homenagem aos nossos grandes-pequenos dançarinos, ofereceram em sua residência, o Sr. e Sra. Romeu Camargo. Lembrava-me das palavras de admiração que lhe dissera e ao mesmo tempo  acusando-a de roubar ao Brasil e ao mundo o direito de ouvi-la mais freqüentemente, na perfeição da sua arte. Antonieta Rudge bem podia, a fim de ajudar os moços do “Teatro Universitário do Centro Horácio Berlinck”, beneficiá-los com a renda de um recital seu. O Teatro Municipal de São Paulo, como em qualquer parte onde se anuncia o gênio de Antonieta Rudge, encher-se-ia. E os moços de São Paulo, que representaram segunda-feira última “Os Espectros”, de Ibsen, poderiam realizar o sonho que têm em mente: o de um teatrinho armado em um caminhão para representações ao ar livre. Tenho certeza que se Antonieta Rudge ler este pedaço de coluna, consentirá no empréstimo da sua glória para esse belo fim.