terça-feira, 12 de novembro de 2013

O TPS ITINERANTE


Essa ideia de viagem, nasceu por acaso. No tempo do Paulo Correia eu tinha a intenção de fazer um grupo para viajar, mas a despesa era muito grande, o De Nigris era o presidente na época e a peça que estava em cartaz mexeu com todo mundo, era o Milagre, e ele quis levar para a Convenção da Fiesp em Campinas, só que precisava fazer um novo cenário, ele autorizou e foi o começo de tudo.
A partir daí fomos levando outras montagens, adaptamos Noites Brancas, levamos Caprichos do Amor, com outro elenco. Viajar era muito bom, eu achava muito bom e viajei bastante com o Milagre, com Noites Brancas, era cansativo, viajava de carro por quase todas as cidades do estado. Mais tarde algumas foram feitas de avião, o que era melhor, você vai para Ribeirão Preto, por exemplo, em quarenta e cinco minutos. Araçatuba, Presidente Prudente, fiz tudo por rodovia. O elenco ia de ônibus leito. Algumas fizemos por trem, as que tinham trem-leito. Bauru, por exemplo, fizemos de trem, era cansativo, porque fazíamos essas cidades aos fins de semana, em algumas de sexta a domingo, e voltávamos para São Paulo no domingo depois da sessão da noite e recomeçávamos viagem logo na quinta ou sexta, dependendo da cidade.
Em Campinas montamos a peça num auditório de um colégio, que não tinha a mínima condição, foi uma loucura, mas gostaram. Não havia ainda o Teatro Castro Mendes, havia o Municipal, mas não sei por que não foi feito lá. Mas a ideia primeira das viagens era levar as peças que fossem feitas aqui em São Paulo para o Interior. (ORC)

Como o material jornalístico dessas peças é muito escasso, optamos em citá-las dentro de sua cronologia:
O Milagre de Annie Sullivan – de William Gibson (tradução de R. Magalhães Júnior) 1969 – Sorocaba

Noites Brancas – de Dostoiévski (adaptação de Edgard Gurgel Aranha) 1970 – Lindóia

O Primo da Califórnia – de Joaquim Manuel de Macedo 1972 – Bauru

O Médico à Força – de Molière (música de J.-B. Lully) 1973 – São Carlos

O Barão da Cotia – de França Júnior 1974 – Santo André

Guerras do Alecrim e da Manjerona – de Antonio José de Silva 1976

Trocas e Trapaças – de Américo Azevedo 1978

Madalena, Seduzida e Abandonada – de Ronaldo Ciambroni 1981 – Santo André

Coitado do Isidoro – de Sebastião de Almeida (João Garrucha) 1983 – Santo André

Senhora – de José de Alencar (adaptação de Sérgio Viotti) 1984

O Caso da Casa – de Machado de Assis (adaptação de José Rubens Siqueira) 1988

O Tipo Brasileiro – de França Júnior (adaptação de Cecília Macedo) 1992


OUTRAS ATIVIDADES DO TPS

O Teatro Infantil foi feito de 1969 a 1978, foram dez peças dirigidas pelo Eduardo Manuel Curado. Esse teatro deixou de ser feito com a morte dele.

Foram diversos os cursos no TPS. O primeiro teve Ruggero Jacobbi dando aula de História do Teatro e também o Flávio Rangel.
O primeiro Curso de Formação de Atores foi feito com intuito de criar o Teatro Experimental, concluído o curso os alunos que mais se destacaram passaram a fazer parte da primeira peça do Teatro Experimental, que foi A Torre em Concurso. Junto com esses alunos eu coloquei também os que faziam o curso de atores para cinema do MASP, foi daí que veio a Nize Silva, alguns alunos da Caixa Econômica que também haviam feito curso comigo lá. A seleção dos atores foi feita por teste de leitura de um texto e improvisação de uma cena. Havia 180 inscritos. A ideia de fazer o primeiro curso no Sesi nasceu da necessidade de formar gente para fazer teatro amador, pois havia gente muito ruim e no Sesi não dava para fazer com os operários.
[...]
No TPS eu fazia um curso por ano, no princípio dava para contratar professores de fora, depois eu comecei a pagar professores da casa mesmo, como o Eduardo Manuel Curado, o Francisco Medeiros. Um dos cursos, foi quando estávamos alugando os dois teatros lá no TBC, foi no Teatro de Arte que era o teatro onde ministrávamos aula. Eu montei com os alunos o Beijo no Asfalto, do Nelson Rodrigues, fez muito sucesso, nós distribuíamos convite para as pessoas que iam assistir O Noviço, que era a peça que estava em cartaz no TPS. Quando nós fomos para o teatro da Avenida Paulista fizemos outro curso e eu montei com eles O Chapéu de Sebo, do Francisco Pereira da Silva. (ORC)


O ESTÚDIO DO TPS

Já foi dito várias vezes que o meio para aprender a representar é representar. Se isto fosse verdade, o meio para aprender a tocar uma sonata de Beethoven seria sentar-se ao piano e tocar uma sonata de Beethoven, sem antes estudar as notas e as escalas mais simples. A primeira tarefa do artista é dominar seu instrumento. No caso do pianista, o piano; no caso do ator, ele próprio. Somente depois de adquirir o domínio de si mesmo está o ator pronto para interpretar uma parte em uma peça. Representar um papel não significa aprender a marcação, as deixas, conhecer o palco e saber dar a réplica. Significa criar a vida interior do caráter delineado no texto. Isto inclui pensamentos, emoções, sensações, percepções e técnica. Somente quando o ator cria essa vida interior, esta corrente de sentimentos e comportamentos de outra pessoa, pode ele dizer que está representando e criando. Portanto o Estúdio de Atores do TPS terá um método de desenvolver e capacitar o ator a interpretar, sem ser através de fórmulas e conceitos preestabelecidos.
Sabemos que nenhum método, entretanto, pode por si só capacitar um indivíduo a tornar-se um ator. Um ator deve ter talento. Talento é uma aptidão superior, essa superioridade é um dom e não pode ser adquirida artificialmente.
Um ator de talento é o que pode expressar em termos próprios a vida interior de outro indivíduo. Ele deve ter as qualificações de todos os outros artistas, como: elevada sensibilidade, imaginação viva e a facilidade de comentar a vida através de um dado meio. O preparo do ator deve incluir, ao lado destes dons, concentração desenvolvida, observação aguda, corpo plástico, técnica vocal perfeita, além de outros conhecimentos gerais.
Enquanto o talento não pode ser transmitido em uma sala de aula,os elementos que integram a técnica, podem. O propósito do curso é esse: fornecer um método simples de adquirir essa técnica de desenvolver o talento.
A representação é um tema inesgotável. Tem toda a fascinação da arte e toda a complexidade da ciência. Assim como um indivíduo difere do outro, a representação é um assunto que contém material discutível e sempre renovado para discussão.
No método de trabalho que iremos desenvolver no Estúdio, não defenderemos regras rígidas e fixas. Certos atores podem chegar aos mesmos resultados com métodos diversos. Alguns atores podem necessitar dessas sugestões apenas em parte. Outros podem exigir ainda maiores esclarecimentos. Resumimos para o treinamento do ator um sistema seguro que visa capacitá-lo a ser um artista sincero e inspirado.
O teatro de hoje não é mais lugar de pura diversão, não mais se satisfaz em ser um derivativo, uma fuga para as realidades da vida. Hoje ele é fonte de saber e um meio de comunicação entre indivíduos e grupos de indivíduos. Conquanto o teatro tenha sido quase sempre de elite, a despeito dessa elite ele teve períodos ruidosos e populares e atualmente esse é o seu único caminho – ser popular e ao mesmo tempo educar esse público.
Para atingir a dupla finalidade do teatro atual, cada indivíduo ligado a ele não deve poupar esforços para dar o melhor de si. Não há lugar para o diletante. Participação desinteressada em uma arte de tais dimensões é sacrílega. O maior inimigo do teatro é a mediocridade.
Há necessidade de tentar colocar o teatro em bases mais científicas. Há atores ou candidatos que frequentemente desprezam sugestões que podem ser encontradas entre as páginas de um livro. O teatro exige laboriosos e inesgotáveis esforços.
Se o Estúdio de Atores conseguir dar à mente de seus frequentadores a enorme tarefa do ator e a necessidade de uma humildade e aplicação, terá servido ao propósito que foi criado. (ORC)



Fizemos também algumas Leituras Dramáticas dirigidas por Celso Ribeiro, com participação de alguns atores do TPS, apresentando os textos A Casa Fechada, de Roberto Gomes, Mimosa, de Leopoldo Fróis e Micróbio do Amor, do Bastos Tigre.
O curso, como já disse, não profissionalizava, então os interessados diminuíam. Nesse período eu fiz um exercício de improvisação sem palavras e o Alienista, do Machado de Assis, sem o personagem do alienista, os atores comentavam sobre ele, foi uma criação coletiva.
Esses cursos complementavam um “Plano” que eu fiz em 1962, 1963 das coisas que eu queria ver no teatro: Galeria de Arte e Concertos. As ideias contidas no plano foram sendo colocadas em prática aos poucos, com muito sacrifício. A última grande coisa que nós fizemos no TPS foi um plano que o Mário Amato pediu-me que fizesse de teatro infantil, mas eu criei algo melhor. Ao invés de fazer um teatro para crianças, criei os Núcleos de Artes Cênicas que funcionavam nos conjuntos do Sesi. Contratávamos professores que tinham especialidade em Artes Cênicas e em cada conjunto do Sesi havia um Núcleo de Artes Cênicas, que eu nem sei se ainda são mantidos, onde os professores davam aulas para alunos menores em idade de primeiro grau, antigo primário, que passavam praticamente o dia nos conjuntos, lá almoçavam, porque todos os conjuntos têm cozinhas. Essas aulas complementavam o curso primário com “educação artística” e no fim do ano eles montavam um espetáculo. Funcionou com sucesso. (ORC)

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