domingo, 15 de dezembro de 2013

Noites Brancas no Grupo União

TRECHOS CRÍTICA - JORNAL DA TARDE – POR SÁBATO MAGALDI – 14/11/1968

Depois de uma peça violenta, outra montagem, boa, desta vez, poesia e amor.
Delicadeza, ternura, sensibilidade definem Noites Brancas, o novo espetáculo do Grupo União no Teatro Itália. Sob todos os aspectos, a adaptação cênica da novela de Dostoiévski está no polo oposto de Navalha na Carne, montagem inaugural do conjunto. Mais uma oportunidade para ver que tudo tem o seu lugar, desde que feito com rigor e propósito honesto.
Noites Brancas não é ainda o Dostoiévski de Os Demônios e Os Irmãos Karamazov. Parece uma balada, diante da composição sinfônica dos grandes romances. O leitor ou a platéia sentem de imediato, porém, a presença do ficcionista que sabe penetrar no mundo subterrâneo e extrair das personagens as notas mais íntimas e profundas. Uma poesia melancólica banha todo diálogo de Nastenka e Wladimir, os seres solitários que num momento se encontram, se reconhecem e quase se aproximam, para logo depois tomarem caminhos diferentes. Edgard Gurgel Aranha soube preservar a atmosfera do original e ao mesmo tempo deu-lhe credibilidade cênica, pondo em flash-back a narrativa de Nastenka sobre os seus encontros com Stepan. A peça não adquire total autonomia na linguagem do palco, mas falta ao espectador como um sofrido poema dramático.
A tarefa de Osmar Rodrigues Cruz, na encenação, foi mais a de assegurar fidelidade ao espírito da obra e fazer que desempenho e luz mantivessem o indispensável clima poético. Suas marcações são simples e espontâneas, como convém ao espetáculo, e pode-se afirmar que ele muito acertadamente desapareceu atrás dos atores.

(...) Seria Noites Brancas uma encenação romântica e por isso fora da realidade atual? Ou essa reivindicação de poesia, em meio às dissonâncias do mundo de hoje, guarda um encanto secreto e tem o dom de comover-nos? A resposta afirmativa à segunda pergunta parece a verdadeira.



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sábado, 30 de novembro de 2013

Censura: alguém se lembra ou já ouviu falar?

REPORTAGEM -  FOLHA DE SÃO PAULO – 12/02/1968
Teatros cerram hoje suas portas em repúdio à censura.
A classe teatral de São Paulo, em reunião que se prolongou até a madrugada de hoje, decidiu paralisar totalmente suas atividades, até amanhã, e concentrar-se nas imediações do Teatro Municipal, em protesto contra as últimas determinações da censura federal. A medida foi tomada em solidariedade aos artistas do Rio de Janeiro, que adotaram atitude semelhante em repúdio aos cortes impostos pela censura no texto de “Um Bonde Chamado Desejo”, peça de Tenessee Willians que a atriz Maria Fernanda estava apresentando em Brasília, e à proibição da peça “Senhora da Boca do Lixo”, de Jorge Andrade, em todo território nacional.
A concentração no Municipal terá início às 14 horas de hoje, com Procópio Ferreira à frente, e prosseguirá até a meia-noite de amanhã. Com a greve de artistas, estará suspensa, amanhã, a apresentação dos seguintes espetáculos: “Lisístrata” (Ruth Escobar); “Deus lhe Pague” (TBC); “O Homem do Princípio ao Fim” (Bela Vista); “Navalha na Carne” (Oficina);”O Olho Azul da Falecida” (Cacilda Becker); “Sérgio Ricardo na Praça do Povo” (Arena); “Dois na Gangorra” (Aliança Francesa) e “O Milagre de Annie Sullivan” (SESI).    

REPORTAGEM - DIÁRIO DE SÃO PAULO – 20/02/1968
No último sábado, os artistas da Guanabara mantiveram-se em assembléia até as 4 horas da madrugada. O motivo era o mesmo da semana passada: cobrar as promessas feitas pelo ministro Gama e Silva. Tonia está através de um “slogan”, convidando o público a também participar do movimento, passando um telegrama ao ministro ou então ao presidente da República. Como sabemos, além das proibições que já são do conhecimento de todos, o filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol” foi proibido no Maranhão e a Censura ameaça retirar do cartaz o espetáculo “Roda Viva”. Mas o problema mais grave que o teatro enfrenta no momento não é somente com proibições mas principalmente com a centralização da Censura Federal. Os censores não dão a mínima e os empresários ficam sem ação. Fernando Torres já gastou um dinheirão com telefonemas para Brasília e não consegue resolver nada sobre o problema da peça “A Volta ao Lar”. Provavelmente irão repetir-se os mesmos casos de “O Sonho Americano” e “Dois na Gangorra”, que no dia da estréia, ainda não haviam chegado de Brasília. Aliás, consta que esta semana ainda o ministro Gama e Silva, antes de mais nada, iria baixar um decreto, transformando a Censura Federal em estadual. Isto é, cada Estado teria sua Censura, sem depender de Brasília.

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domingo, 17 de novembro de 2013

DOIS NA GANGORRA

OUTRAS DIREÇÕES

Iniciamos hoje as direções de espetáculos realizadas por Osmar Rodrigues Cruz, paralelas às direções do TPS. 


Consta do programa da peça:
“Os atores discutem a direção e a controvertida personalidade do diretor” (por Juca e Lilian)
Osmar escapa ao padrão convencional do moderno diretor de teatro. Não constatamos durante os ensaios ataques de histeria, manifestações de impotência intelectual ou desfalecimento em face da incompreensão dos seus dirigidos.
Habituados muitas vezes a tratar com artistas-geniais-geniosos, ficamos um pouco sem graça ao constatar que o nosso diretor não passa de uma criatura apenas normal. E o incrível é que ele tinha certeza sobre o que queria. Tinha uma idéia clara quanto à peça, quanto às personagens e quanto ao que pretendia transmitir.
Isso não quer dizer que essa idéia seja correta, apenas que ele atingiu o seu (dele) objetivo.
Só uma coisa não compreendemos na sua normal personalidade. Sempre nos pareceu corriqueiro que seres humanos tivessem o direito de suspender momentaneamente seus afazeres para tomar sua refeição diária, mitigar a sede com um mísero copo d’água ou “ir lá fora” enfim. Mas Osmar acha que não. E sempre que isto acontece e é de se esperar que isto aconteça aos animais superiores  –  na cabeça dele se desencadeia um complexo de culpa de caráter nitidamente patológico, só aplacado pelo regime de trabalho escravo a que ele nos submeteu a fim de anestesiar seus remordimentos.
Como nosso diretor chorasse na platéia a cada ensaio de cenas dramáticas, desenvolvemos uma dúvida em nosso espírito; ou já havíamos atingido um bom nível de atuação a ponto de provocar lágrimas, ou essas manifestações se deviam à sua excessiva sensibilidade.
Nem uma coisa nem outra: simplesmente desvio do cepto e uso indiscriminado de um desentupidor nasal do qual ele jamais se separa.
Apesar de tudo somos de boa constituição física. Sobrevivemos às suas enxaquecas, à sua mania de feitor de senzala, à sua tara pela perfeição, às suas fungadelas, ao seu espírito de gozador incorrigível e bem humorado. Saímos vivos do empreendimento e tocados pela sua amizade e gentileza.
Há controvérsias, mas gente boa tá aí.                                                                    

“Por questões de modéstia Juca prefere falar de Lilian e calar sobre si mesmo”
Que ela tinha saído de um lugar muito estranho eu percebi logo nos primeiros ensaios: com a maior naturalidade do mundo a moça dizia “trancar” no lugar de “prender”, “infante” no lugar de “moleque”, “taça” no lugar de “copo”, “umbral” e não “batente”; até – se não me engano – ela andou usando “ânfora” no lugar de “litro”. Foi quando eu soube que ela tinha nascido nas querências de Porto Alegre e tudo se esclareceu para mim. A despeito das dificuldades iniciais de comunicação sua língua é por demais exótica para as minhas limitações linguísticas – tem sido uma beleza trabalhar com ela. Pelo menos até aqui. Só conhecia Lilian de palco: “Onde canta o sabiá”, “Noite de Iguana”, “Toda donzela tem um pai que é uma fera”, “Mary, Mary” e finalmente “Quem tem medo de Virgínia Woolf” com Cacilda e Walmor, e cheguei a conclusão, pois lhe deram o “Saci” de melhor atriz coadjuvante em “Virgínia Woolf”.
A gaúcha é muito fechada, evita falar sobre si, sobre sua vida e seu ofício, mas a saca-rolha e talho de foice fui arrancando umas lascas do seu início de carreira : Diz que começou em 56 em Porto Alegre, fazendo “À margem da vida” no Teatro Universitário, direção de Abujamra. Devia ser gozado ver ela recitando Tennessee Williams lá na língua dela. Começou levantando prêmio “O Negrinho do Pastoreio”. Bom, um prêmio gaúcho. “O Pai” de Strindberg, “A Bilha Quebrada” de Kleist foram outras peças que ela andou fazendo lá pelo Sul. Por volta de 63 Walmor e Cacilda levaram a Porto Alegre “Em moeda corrente do País” e “Oscar”; e para realizar um bom intercâmbio cultural entre metrópole e província trouxeram Lilian na bagagem. (Intercâmbio aliás altamente desvantajoso para a província nesse caso)
“Lemmerites”- É um apelido que eu botei nela para desbastar um pouco as consoantes de Lemmertz – também ataca de cinema. “Corpo ardente” de Walter Hugo Khouri que ela filmou durante a carreira de Virgínia Woolf lhe deu o prêmio de melhor coadjuvante pelo I.N.C., donde se conclui que ela tem a mania de começar esnobando. Defeito de criação? Sei lá acho que esnobismo de gaúcho, só isso. Depois veio “As Cariocas” de Fernando de Barros. E agora anda dublando seu papel em “As Amorosas” de Khouri, que logo estará pelos cinemas daqui e do mundo. É minha boa parceira de “Buraco”; jogamos cientificamente e fazemos uma dupla absolutamente invencível. Só perdemos mesmo quando os azares da sorte se tornam azares de fato.
Tem uma filhinha por demais boneca e linda – a Júlia, Juju para todos – de quem ela se despede às noites fazendo binóculo com as mãos, olhando-se ambas nos olhos e dando-se os “beijinhos tradicionais”. Uma ternura!
Lemerites fila cigarros “Consul” e chupa compulsivamente umas bolinhas de mentol, na razão de um milhão por dia, um verdadeiro inferno. É do signo dos gêmeos, toma café sem açúcar, penteia os cabelos de dois em dois minutos, come uma tonelada de rocambole por dia e fala pelos cotovelos na sua língua. Mantém com ferocidade usos e costumes da província de onde veio e resiste com igual ferocidade às benéficas influências da civilização paulista.

“Vice-versa”
Juca nasceu em São Roque, é o que ele diz. Eu pensei que não nascesse gente lá. Mas vou lhe dar um crédito de confiança. Ele também me contou que quando terminou o serviço militar esteve um tanto confuso quanto ao que iria fazer. E provou isso, pois tendo cursado durante quatro anos a faculdade de direito, bandeou-se para a Escola de Arte Dramática. Claro que este curso ele completou, pois pelo jeito nasceu para isso. Pelo menos é o que indica a sua ficha técnica. Ele estreou como profissional em “A Semente” de G. Guarnieri, no Teatro Brasileiro de Comédia. Alguém deve tê-lo convidado por engano, mas ele levou o convite a sério, e não arredou o pé de lá por muito tempo. Atrapalhou em várias peças, entre as quais “As Almas Mortas” de Gogol, “A Escada” de Jorge Andrade, “A Morte do Caixeiro Viajante” de A. Müller, pela qual – milagre! – ganhou o prêmio Saci como melhor coadjuvante de 62. Acho que deveríamos investigar a atribuição desse prêmio. Mas, pensando melhor, se não fora o talento mereceria pela simpatia. Em 62 resolveu dar umas voltinhas e associou-se com Guarnieri, Paulo José, Flávio Império e  A. Boal, na direção do Teatro de Arena. No Arena fez “Eles não usam Black-tie”, “O Noviço”, “A Mandrágora”, “O Melhor Juiz o Rei” e “O Filho do Cão”. Ao tempo das duas últimas peças eu já tinha emigrado dos “pagos” comprovei que afinal de contas ele tinha futuro.
Quando vi “Depois da Queda” de A. Müller, no Teatro Maria Della Costa me convenci que afinal de contas São Roque com seus trinta mil habitantes não é de desprezar.
Ele fez no Municipal “Júlio César” de Shakespeare. Essa eu não vi, mas me disseram que ele era o melhor. E eu acredito. Porque depois desta eu assisti “O Estranho Casal” no Teatro Ruth Escobar e ele estava bom as pampas.
Em televisão ele também não é de todo mal. Senão ele não estaria na TV Tupi Canal 4 desde 64. Trabalhou na “TV de Vanguarda” em : “As Feiticeiras de Salém”, “Hamlet”, “Esta noite improvisamos” e “Em moeda corrente do País”. E meteu o nariz em inúmeras novelas “Cara Suja”, “Gutierritos”(Oba!), “A ré misteriosa”, “A Outra”, “Paixão Proibida”, “Estrelas no Chão”.
E fez até cinema! Com Person, “O caso dos irmãos Naves”.
E como ele não pára quieto andou fazendo uma série de recitais na VII Bienal de São Paulo e em mais umas trinta cidades do Interior de São Paulo e outros Estados. E também foi contratado várias vezes pela Comissão Estadual de Teatro para dar cursos e conferências em faculdades e na própria CET (Comissão Estadual de Teatro).
Afora tudo que foi dito acima ele é uma pessoa excelente. Tem uma disposição inesgotável para o trabalho. Vive gritando que a vida está sensacional. Faz um regime de carboidratos mas adora a comida. Vai toda segunda-feira visitar Mamã em São Roque, o que prova que é um rapaz de bons sentimentos. Desconfio que ele tem complexo de Édipo, mas segundo seu psicanalista esse problema não existe.

Mas...implica muito com a civilização gaúcha. Isto me irrita. Mas eu o perdôo porque ele é um moço muito bom.




BOLSA DE CINEMA E TEATRO - FOLHA DE SÃO PAULO – 03/1968 
1º - Dois na Gangorra (Aliança Francesa)
2º - Deus lhe Pague (Brasileiro de Comédia)
3º - O Homem do Princípio ao Fim (Bela Vista)
4º - Sérgio Ricardo na Praça do povo (Arena)
5º - Navalha na Carne (Oficina)
6º - O Olho Azul da Falecida (Cacilda Becker)
7º - Lisístrata, A Greve do Sexo (O Galpão)

terça-feira, 12 de novembro de 2013

O TPS ITINERANTE


Essa ideia de viagem, nasceu por acaso. No tempo do Paulo Correia eu tinha a intenção de fazer um grupo para viajar, mas a despesa era muito grande, o De Nigris era o presidente na época e a peça que estava em cartaz mexeu com todo mundo, era o Milagre, e ele quis levar para a Convenção da Fiesp em Campinas, só que precisava fazer um novo cenário, ele autorizou e foi o começo de tudo.
A partir daí fomos levando outras montagens, adaptamos Noites Brancas, levamos Caprichos do Amor, com outro elenco. Viajar era muito bom, eu achava muito bom e viajei bastante com o Milagre, com Noites Brancas, era cansativo, viajava de carro por quase todas as cidades do estado. Mais tarde algumas foram feitas de avião, o que era melhor, você vai para Ribeirão Preto, por exemplo, em quarenta e cinco minutos. Araçatuba, Presidente Prudente, fiz tudo por rodovia. O elenco ia de ônibus leito. Algumas fizemos por trem, as que tinham trem-leito. Bauru, por exemplo, fizemos de trem, era cansativo, porque fazíamos essas cidades aos fins de semana, em algumas de sexta a domingo, e voltávamos para São Paulo no domingo depois da sessão da noite e recomeçávamos viagem logo na quinta ou sexta, dependendo da cidade.
Em Campinas montamos a peça num auditório de um colégio, que não tinha a mínima condição, foi uma loucura, mas gostaram. Não havia ainda o Teatro Castro Mendes, havia o Municipal, mas não sei por que não foi feito lá. Mas a ideia primeira das viagens era levar as peças que fossem feitas aqui em São Paulo para o Interior. (ORC)

Como o material jornalístico dessas peças é muito escasso, optamos em citá-las dentro de sua cronologia:
O Milagre de Annie Sullivan – de William Gibson (tradução de R. Magalhães Júnior) 1969 – Sorocaba

Noites Brancas – de Dostoiévski (adaptação de Edgard Gurgel Aranha) 1970 – Lindóia

O Primo da Califórnia – de Joaquim Manuel de Macedo 1972 – Bauru

O Médico à Força – de Molière (música de J.-B. Lully) 1973 – São Carlos

O Barão da Cotia – de França Júnior 1974 – Santo André

Guerras do Alecrim e da Manjerona – de Antonio José de Silva 1976

Trocas e Trapaças – de Américo Azevedo 1978

Madalena, Seduzida e Abandonada – de Ronaldo Ciambroni 1981 – Santo André

Coitado do Isidoro – de Sebastião de Almeida (João Garrucha) 1983 – Santo André

Senhora – de José de Alencar (adaptação de Sérgio Viotti) 1984

O Caso da Casa – de Machado de Assis (adaptação de José Rubens Siqueira) 1988

O Tipo Brasileiro – de França Júnior (adaptação de Cecília Macedo) 1992


OUTRAS ATIVIDADES DO TPS

O Teatro Infantil foi feito de 1969 a 1978, foram dez peças dirigidas pelo Eduardo Manuel Curado. Esse teatro deixou de ser feito com a morte dele.

Foram diversos os cursos no TPS. O primeiro teve Ruggero Jacobbi dando aula de História do Teatro e também o Flávio Rangel.
O primeiro Curso de Formação de Atores foi feito com intuito de criar o Teatro Experimental, concluído o curso os alunos que mais se destacaram passaram a fazer parte da primeira peça do Teatro Experimental, que foi A Torre em Concurso. Junto com esses alunos eu coloquei também os que faziam o curso de atores para cinema do MASP, foi daí que veio a Nize Silva, alguns alunos da Caixa Econômica que também haviam feito curso comigo lá. A seleção dos atores foi feita por teste de leitura de um texto e improvisação de uma cena. Havia 180 inscritos. A ideia de fazer o primeiro curso no Sesi nasceu da necessidade de formar gente para fazer teatro amador, pois havia gente muito ruim e no Sesi não dava para fazer com os operários.
[...]
No TPS eu fazia um curso por ano, no princípio dava para contratar professores de fora, depois eu comecei a pagar professores da casa mesmo, como o Eduardo Manuel Curado, o Francisco Medeiros. Um dos cursos, foi quando estávamos alugando os dois teatros lá no TBC, foi no Teatro de Arte que era o teatro onde ministrávamos aula. Eu montei com os alunos o Beijo no Asfalto, do Nelson Rodrigues, fez muito sucesso, nós distribuíamos convite para as pessoas que iam assistir O Noviço, que era a peça que estava em cartaz no TPS. Quando nós fomos para o teatro da Avenida Paulista fizemos outro curso e eu montei com eles O Chapéu de Sebo, do Francisco Pereira da Silva. (ORC)


O ESTÚDIO DO TPS

Já foi dito várias vezes que o meio para aprender a representar é representar. Se isto fosse verdade, o meio para aprender a tocar uma sonata de Beethoven seria sentar-se ao piano e tocar uma sonata de Beethoven, sem antes estudar as notas e as escalas mais simples. A primeira tarefa do artista é dominar seu instrumento. No caso do pianista, o piano; no caso do ator, ele próprio. Somente depois de adquirir o domínio de si mesmo está o ator pronto para interpretar uma parte em uma peça. Representar um papel não significa aprender a marcação, as deixas, conhecer o palco e saber dar a réplica. Significa criar a vida interior do caráter delineado no texto. Isto inclui pensamentos, emoções, sensações, percepções e técnica. Somente quando o ator cria essa vida interior, esta corrente de sentimentos e comportamentos de outra pessoa, pode ele dizer que está representando e criando. Portanto o Estúdio de Atores do TPS terá um método de desenvolver e capacitar o ator a interpretar, sem ser através de fórmulas e conceitos preestabelecidos.
Sabemos que nenhum método, entretanto, pode por si só capacitar um indivíduo a tornar-se um ator. Um ator deve ter talento. Talento é uma aptidão superior, essa superioridade é um dom e não pode ser adquirida artificialmente.
Um ator de talento é o que pode expressar em termos próprios a vida interior de outro indivíduo. Ele deve ter as qualificações de todos os outros artistas, como: elevada sensibilidade, imaginação viva e a facilidade de comentar a vida através de um dado meio. O preparo do ator deve incluir, ao lado destes dons, concentração desenvolvida, observação aguda, corpo plástico, técnica vocal perfeita, além de outros conhecimentos gerais.
Enquanto o talento não pode ser transmitido em uma sala de aula,os elementos que integram a técnica, podem. O propósito do curso é esse: fornecer um método simples de adquirir essa técnica de desenvolver o talento.
A representação é um tema inesgotável. Tem toda a fascinação da arte e toda a complexidade da ciência. Assim como um indivíduo difere do outro, a representação é um assunto que contém material discutível e sempre renovado para discussão.
No método de trabalho que iremos desenvolver no Estúdio, não defenderemos regras rígidas e fixas. Certos atores podem chegar aos mesmos resultados com métodos diversos. Alguns atores podem necessitar dessas sugestões apenas em parte. Outros podem exigir ainda maiores esclarecimentos. Resumimos para o treinamento do ator um sistema seguro que visa capacitá-lo a ser um artista sincero e inspirado.
O teatro de hoje não é mais lugar de pura diversão, não mais se satisfaz em ser um derivativo, uma fuga para as realidades da vida. Hoje ele é fonte de saber e um meio de comunicação entre indivíduos e grupos de indivíduos. Conquanto o teatro tenha sido quase sempre de elite, a despeito dessa elite ele teve períodos ruidosos e populares e atualmente esse é o seu único caminho – ser popular e ao mesmo tempo educar esse público.
Para atingir a dupla finalidade do teatro atual, cada indivíduo ligado a ele não deve poupar esforços para dar o melhor de si. Não há lugar para o diletante. Participação desinteressada em uma arte de tais dimensões é sacrílega. O maior inimigo do teatro é a mediocridade.
Há necessidade de tentar colocar o teatro em bases mais científicas. Há atores ou candidatos que frequentemente desprezam sugestões que podem ser encontradas entre as páginas de um livro. O teatro exige laboriosos e inesgotáveis esforços.
Se o Estúdio de Atores conseguir dar à mente de seus frequentadores a enorme tarefa do ator e a necessidade de uma humildade e aplicação, terá servido ao propósito que foi criado. (ORC)



Fizemos também algumas Leituras Dramáticas dirigidas por Celso Ribeiro, com participação de alguns atores do TPS, apresentando os textos A Casa Fechada, de Roberto Gomes, Mimosa, de Leopoldo Fróis e Micróbio do Amor, do Bastos Tigre.
O curso, como já disse, não profissionalizava, então os interessados diminuíam. Nesse período eu fiz um exercício de improvisação sem palavras e o Alienista, do Machado de Assis, sem o personagem do alienista, os atores comentavam sobre ele, foi uma criação coletiva.
Esses cursos complementavam um “Plano” que eu fiz em 1962, 1963 das coisas que eu queria ver no teatro: Galeria de Arte e Concertos. As ideias contidas no plano foram sendo colocadas em prática aos poucos, com muito sacrifício. A última grande coisa que nós fizemos no TPS foi um plano que o Mário Amato pediu-me que fizesse de teatro infantil, mas eu criei algo melhor. Ao invés de fazer um teatro para crianças, criei os Núcleos de Artes Cênicas que funcionavam nos conjuntos do Sesi. Contratávamos professores que tinham especialidade em Artes Cênicas e em cada conjunto do Sesi havia um Núcleo de Artes Cênicas, que eu nem sei se ainda são mantidos, onde os professores davam aulas para alunos menores em idade de primeiro grau, antigo primário, que passavam praticamente o dia nos conjuntos, lá almoçavam, porque todos os conjuntos têm cozinhas. Essas aulas complementavam o curso primário com “educação artística” e no fim do ano eles montavam um espetáculo. Funcionou com sucesso. (ORC)

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domingo, 3 de novembro de 2013

EXTRA URGENTE


DOIS CASOS DE OMISSÃO DA MEMÓRIA NACIONAL


Sala Osmar Rodrigues Cruz
Lamentamos muitíssimo o ganho de causa contra a Fiesp no processo por nós movido, sobre a retirada do nome da Sala Osmar Rodrigues Cruz. Em nosso Blog encontra-se a inauguração da sala – postagem do dia 21/10/2013.




Eurico Neiva

O trabalho de pesquisa e documentação da memória nacional exige um alto grau de conhecimento e um cuidado extremo com o objeto trabalhado.
Em seu livro recém lançado, pode-se constatar um grande descuido com os verdadeiros fatos, que já se tornaram históricos sobre o nascimento da TV.
Foi muito decepcionante encontrar a biografia de Osmar Rodrigues Cruz citada na bibliografia do livro e não haver qualquer menção de Osmar, criador do teatro na TV. Em nosso Blog na postagem do dia 21/10/2012 encontram-se as informações sobre o assunto.



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domingo, 20 de outubro de 2013

Sala Osmar Rodrigues Cruz



Discurso de Mário Amato
Inauguração “Sala Osmar Rodrigues Cruz” – TPS 30 anos
6/4/1992

O motivo que nos une aqui hoje é a vontade de prestar uma justa homenagem. O homenageado desta noite é o homem que durante quarenta anos dirigiu os grupos teatrais desta casa, que ao longo desse tempo soube lhe reconhecer o talento e a capacidade de trabalho.
Neste e em muitos outros palcos, a cada vez que se leventaram as cortinas, saíram engrandecidos o teatro brasileiro, o Sesi e, através dele o empresário de São Paulo.
Sucesso foi sempre um personagem presente na vida de Osmar Rodrigues Cruz, dificilmente o Brasil teria tido um melhor economista do que homem de teatro, caso Osmar, aluno da Faculdade de Ciências Econômicas de São Paulo na primeira metade dos anos 40, não houvesse encontrado sua verdadeira vocação, ao reunir os colegas para uma primeira experiência teatral. Muitos foram os momentos de consagração, desde então, na sua trajetória. Seu gênio foi reconhecido pelo extraordinário Nelson Rodrigues, que elogiou a montagem de Osmar Rodrigues Cruz da peça A Falecida, garantindo-lhe que havia sido um dos melhores trabalhos já produzidos a partir de sua obra. Em 1969, Osmar conquistou todos os principais prêmios de teatro, entre eles o “Molière”, que voltaria a ganhar em mais duas outras oportunidades.
Não haverá exagero em se afirmar que o empresariado deve a Osmar Rodrigues Cruz o reconhecimento a boa parte da sua ação no campo da cultura. O Sesi, uma entidade mantida e administrada pela indústria, converteu-se nas últimas décadas, pelo trabalho de Osmar, numa importante base de sustentação e revigoramento da atividade teatral em nosso estado. [Grifo nosso.]
São provas disso, não apenas o elenco estável e um itinerante que o Sesi mantém, mas também o apoio que a entidade oferece ao surgimento de grupos teatrais amadores em suas unidades instaladas pelo estado afora, sem esquecer desta sala modelar de espetáculos em que nos encontramos nesta noite, onde, através de ingressos distribuídos gratuitamente à população, muitos trabalhadores têm seu primeiro contato com os textos teatrais.
É importante frisar que se trata de apoio a uma atividade que aguça os sentidos da cidadania, já que o teatro ajuda as pessoas a melhor entender o mundo à sua volta. [Grifo nosso.] Por isso mesmo podemos dizer que esse apoio confirma, uma vez mais, a disposição dos empresários de contribuir para o amadurecimento de uma sociedade viva e participativa.
Todo esse trabalho se deve a Osmar Rodrigues Cruz, que durante essas quatro décadas dedicou toda a sua capacidade à construção de uma obra que hoje merece o reconhecimento, não apenas dos empresários que a tornaram possível, mas de toda a classe teatral, que tem em Osmar Rodrigues Cruz um exemplo de dedicação, talento e amor ao teatro.

(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida no Teatro Hucitec 2001)


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terça-feira, 15 de outubro de 2013

CONFUSÃO NA CIDADE

Cena de todo o elenco. Foto: Hélio 




Trechos de crítica – Jornal da Tarde
por Alberto Guzik – 21/2/1990

Um Goldoni inédito e hilariante. Em Brigas na Cidade, uma correta, embora um pouco fria, montagem do TPS.
Com o nome de Confusão na Cidade esse importante trabalho de Goldoni, até hoje inédito em São Paulo, está no TPS, em tradução muito boa de José Rubens. A montagem, dirigida pelo Osmar Rodrigues Cruz, entrou em cartaz no início de janeiro, quase às escondidas. Pois só pela importância de se oferecer ao público um Goldoni de primeira água, o espetáculo deveria ter sido mais divulgado. E ainda que a encenação não seja particularmente inspirada, exibe a correção e seriedade características do TPS, que em 93 vai comemorar três décadas de atividade. Os cenários e figurinos, também assinados por José Rubens Siqueira, são eficientes. O dispositivo cênico ajuda a montagem a correr com a fluidez necessária.
A produção foi levantada com o capricho costumeiro do TPS. O espetáculo de Osmar Rodrigues poderia ter mais brilho. Mesmo assim, faz gargalhar a plateia que lota a confortável sala da Avenida Paulista. Um elenco adequado é responsável também por tal facilidade de comunicação.
[...]. Mas a ressalva não pode impedir o reconhecimento de que se trata de um espetáculo correto, que atinge os objetivos a que se propõe. E a que o público do TPS assiste com prazer.

(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida no Teatro Hucitec 2001)


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domingo, 6 de outubro de 2013

ONDE CANTA O SABIÁ

Todo o elenco ao final do espetáculo



Trechos de crítica – A Tribuna de Santos 
por Carmelinda Guimarães – 2/10/1988

[...]. O TPS foi buscar uma comédia de Gastão Tojeiro, de 1921, para comemorar seus vinte e cinco anos de atividades, e criou um espetáculo adorável com Onde Canta o Sabiá.
[...]. Osmar Rodrigues Cruz que tem recuperado para a cena os clássicos do teatro brasileiro, mas como homem comprometido com o grande público do TPS, ele tem feito esta recuperação utilizando peças que fizeram grandes sucessos populares. Foi o caso de Feitiço de Oduvaldo Vianna, e agora de Sabiá, de Gastão Tojeiro, que na época de sua primeira encenação atingiu duzentas representações.
A montagem atual está destinada a atingir o mesmo sucesso. Direção precisa de Osmar Rodrigues Cruz, cenografia adequada de Zecarlos de Andrade.
[...]. “Um sabiá que canta, mostrando que as aves que lá gorjeiam, não gorjeiam como aqui...” A peça salvou uma temporada, exaltou um autor e consagrou definitivamente no conceito do público valores novos da cena nacional, como Procópio Ferreira, Artur de Oliveira, Manuel Durães, Abigail Maia, Apolônia Pinto. Atores como Nestório Lips, por exemplo, nunca mais puderam gozar de oportunidade semelhante para merecer tão fartos aplausos do público. Viriato e Oduvaldo, à vista do grande sucesso da peça, resolveram elevar para cinquenta mil-réis por sessão. Gastão não aceitou. Era muito, afinal, depois de alguma relutância, concordou em receber trinta mil-réis por sessão. Dois meses depois da retirada do cartaz, a peça voltava à cena, para fazer o público retornar ao velho “Trianon”.

(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida no Teatro Hucitec 2001)



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domingo, 29 de setembro de 2013

FEITIÇO



Trechos de crítica – Shopping News
por Carmelinda Guimarães – 4/10/1987

Feitiço AO ALCANCE DE TODO MUNDO

Você gosta de teatro? Então venha assistir a uma peça excelente, que vai diverti-lo muito, num teatro confortável, com atores de primeira linha e com ingresso gratuito! É o trabalho do diretor Osmar Rodrigues Cruz, há quase trinta anos engajado com o TPS.
Convencido de que o preço do ingresso afastava os espectadores do teatro, criou uma companhia estável comprometida com formas populares de espetáculo, patrocinado pelo Sesi.
Seu último trabalho está excepcional. É das melhores comédias em cartaz no momento.
[...]. A montagem, é atual e sofisticada, utiliza todos os recursos do teatro de hoje, perfeita na reconstituição da época, nos cenários e figurinos, cuidados nos detalhes.
Osmar é um excelente diretor de comédias brasileiras, um mestre neste campo. Já provou sua habilidade anteriormente, dirigindo um memorável Caiu o Ministério, de França Júnior, e comprova com Feitiço.
[...]. Uma peça para ser recomendada sem restrições, para quem procura no teatro o divertimento ou a discussão. Os primeiros vão distrair-se com a comédia, os outros encontrarão no texto, de uma carpintaria extraordinária, uma verdadeira lição de como escrever um bom teatro.
Um trabalho de um autor engajado com a problemática política, social e cultural de seu País. Um homem perseguido e exilado pelo Estado Novo, que deixou marcada sua contribuição cultural dentro da história do teatro brasileiro.
É um prazer ver o teatro de Oduvaldo Vianna ressucitado com tanto brilho e dignidade.

(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida no Teatro Hucitec 2001)
 
Lúcio Freitas, Eugenia R. Cruz, Roberto Azevedo, Nize Silva, Lia de Aguiar, Zecarlos de Andrade, Rosamaria Pestana, Paulo Hesse, Anamaria Barreto. Foto: Vadinho 

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domingo, 22 de setembro de 2013

25 ANOS DE TPS




“As “Bodas de Prata” do TPS foram festejadas com um coquetel apenas para convidados. Publicamos uma revista na qual fiz um histórico desses anos em que estive à frente da única companhia estável do País. Ilustramos com fotos de todas as peças montadas desde sua profissionalização. Alguns representantes da imprensa e da classe teatral deram sua visão do TPS em pequenos depoimentos, e Sérgio Viotti escreveu um artigo.” (ORC)

Trechos de artigo – revista comemorativa 25 Anos TPS
por Sérgio Viotti

O TPS é caso ímpar no panorama brasileiro. Caso raro, mesmo, na listagem dos grupos estáveis não subvencionados pelo Estado, no resto do mundo. Seus vinte e cinco anos de atividade ininterrupta, em São Paulo, o tornam, sem dúvida, o único (isto sem contar outros dezenove anos com atividades paralelas de espetáculos itinerantes e de teatro infantil).
O TPS tornou-se, assim o único onde foi e continua sendo possível assistir às peças que, seguramente, jamais seriam apresentadas, por outras companhias.
[...]. Vendo o TPS em atividade desde 1977, na sua magnífica casa de espetáculos própria, tendemos a esquecer que, antes desta, apresentou-se em outras salas pela Capital, sem jamais perder o impulso que o comandava, a tenacidade que o mantinha coeso, e o espírito que o conservava vivo. Havia um homem vigilante e atento, seguindo-o. Ele insiste que a sua importância em relação ao grupo não é tanto quanto se lhe pretende dar, mas é indiscutível que toda realização deste tipo é, quase sempre, produto de um ideal que move um empenho, e por detrás de um e outro sempre existe alguém.
Assim, não é possível dissociar o TPS de Osmar Rodrigues Cruz. Não fossem a sua tenacidade e determinação, sem deixar de lado aquela parcela básica de amor insistente, o TPS não seria o que é, como é, e tampouco teria alcançado a posição que ocupa no teatro brasileiro. Claro que lhe foram dadas as ferramentas para alcançar os alicerces; as armas para entrar na luta. Ele as recebeu, fez uso delas e foi avante, enfrentando os mesmos, às vezes imensos, problemas que os diretores de companhias subvencionadas no mundo inteiro teriam de enfrentar. Não basta um subsídio sem quem o transforme em criatividade, em coerência com os seus objetivos básicos e essenciais. O que ele se propunha fazer, fez: criar um teatro de qualidade que pudesse ser visto e apreciado pelo grande público, não aquele grande público pagante que determina a frequência flutuante do teatro comercial, mas o seu público maior, para o qual o TPS se tornaria um hábito pessoal, que o teatro é dele. Pode ser que pela sua natureza não comercial muitos espectadores de certos segmentos da população não tenham assistido às montagens do TPS. Sempre que isso acontece, ou vier a acontecer, o grande perdedor foi quem deixou de participar dessa magnífica aventura pelos caminhos do teatro adentro.
Não podemos recuar diante do espantoso fato consumado: a longevidade criativa do TPS, e só podemos desejar ardentemente que a entidade que tornou possível esta longa sobrevivência a mantenha no futuro remoto, sempre em plena atividade.
Que o TPS não se limite a ser memória dos homens de empresa dispostos a apoiar o sonho e a aplicação de um homem de teatro, mas que continue sendo apoio vivo e atuante ao Teatro e ao público que gosta dele. Afinal, há sete milhões de espectadores como comprovação da bem-querença.
Ao longo destes anos, sinto que o TPS adquiriu as dimensões, ao mesmo tempo amplas e concentradas, de um ser humano, e muitos dos que dele se aproximaram podem afirmar, sem receio de erro ou excesso: foi um privilégio conhecê-lo, trabalhar com ele e ser seu amigo.

(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida no Teatro Hucitec 2001)


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terça-feira, 17 de setembro de 2013

MUITO BARULHO POR NADA


Rosamaria Pestana, Luiz Carlos de Moraes, José Rubens Siqueira, Zecarlos de Andrade, Margarida Moreira, Elias Gleizer, Miro Martinez, Nize Silva. Foto: Vadinho


Trechos de crítica – Jornal da Tarde
por Alberto Guzik – 11/7/1986

UMA BRILHANTE COMÉDIA DE SHAKESPEARE. PARA SE VER COM GENUÍNO PRAZER.

[...]. A encenação de Osmar Rodrigues Cruz parte do pressuposto de que a obra shakespeariana tem como alvo a diversão popular. O trabalho todo foi orientado para a busca de uma certa rudeza, de uma vitalidade que não dispensa um toque de desbragamento. O recurso funciona quase sempre, embora soe forçado em certas passagens.
[...]. O público encanta-se com as pequenas surpresas teatrais que povoam a marcação e deixa-se levar pela alegre celebração da arte cênica proveniente do palco. Não se trata de uma leitura revolucionária ou inovadora de Shakespeare, mas a montagem dá ao texto uma interpretação plausível, realizada com solidez e competência.
Com Muito Barulho por Nada, o TPS continua a cumprir a função pela qual foi criado há vinte e três anos. É uma equipe sólida, e o trabalho que realiza, sério e consequente. O método dá resultado. Pela intensidade com que o público se entregava à representação de Muito Barulho por Nada no último domingo, pode-se vaticinar uma longa carreira para a comédia de William Shakespeare. 

(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida no Teatro Hucitec 2001)



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domingo, 8 de setembro de 2013

O REI DO RISO


Nelson Luiz, Sérgio Rossetti, Nize Silva, Ednei Giovenazzi, Jairo Arco e Flexa, Paulo Prado, Luiz Carlos de Moraes, Miro Martinez e Lúcio de Freitas. Fotógrafo: Vadinho









Trechos de crítica – Jornal da Tarde
por Sábato Magaldi – 24/5/1985

O Rei do Riso, O AMOR AO TEATRO BRASILEIRO

Felicíssima ideia teve Osmar Rodrigues Cruz ao encomendar a Luiz Alberto de Abreu, autor de Bella Ciao, uma peça sobre Francisco Correia Vasques, nosso maior intérprete cômico do século passado. O Rei do Riso, em cartaz no TPS, recupera para a plateia não só uma figura de cativante personalidade, amada pelo povo, mas um momento fundamental do palco brasileiro.
A iniciativa partiria mesmo de Osmar, um dos poucos encenadores, que dominam profundamente o nosso teatro. Não conheço outro tão amorosamente preso aos valores do passado, tendo trazido à cena Macedo, Alencar, Oduvaldo Vianna, Manuel Antônio de Almeida (na adaptação de Francisco Pereira da Silva, recentemente falecido) e França Júnior, além dos contemporâneos, Plínio Marcos, Nelson Rodrigues, Lauro César Muniz e Maria Adelaide Amaral. O espetáculo revela a necessária intimidade com os bastidores da evolução dramática.
Tanto Osmar como Luiz Alberto se debruçaram carinhosamente sobre a bibliografia disponível, extraindo dela os ensinamentos mais aproveitáveis na montagem. Não se trata de uma reconstituição biográfica de Vasques, o que, em certa medida, teria resultado pitoresco. Por meio da personagem centralizadora do ator, levanta-se um painel do teatro carioca, portanto da capital do Império e dos primeiros anos da República, na segunda metade do século XIX.
[...]. Encontra-se em O Rei do Riso o mesmo preito que levou Correia Vasques a erguer a estátua em homenagem ao mestre e amigo João caetano. Dramaturgo e encenador identificaram-se com o tema escolhido. Um dos mais bonitos quadros do espetáculo é aquele em que Vasques, já condenado pela doença, entra feito um “ratoneiro” no Teatro São Pedro e se deixa tomar pelas reminiscências de João Caetano, com ele contracenando, cada qual na sua maneira.
[...]. Osmar conseguiu reunir um elenco estável em que há intérpretes para os mais diferentes emplois.
[...]. Senhor de cada pormenor mobilizado, Osmar Rodrigues Cruz dirige O Rei do Riso com inteligência e sensibilidade. A dinâmica, às vezes, poderia ser mais ágil e nervosa. Agrada-me especialmente, no espetáculo, o grande amor que ele demonstra pelo teatro brasileiro.

(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida no Teatro Hucitec 2001)



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