quarta-feira, 22 de maio de 2019


instituto osmar rodrigues cruz 



TEATRO NACIONAL POPULAR BRASILEIRO (TNPB)


As obras de Antônio José – Introdução I (continuação)

A prisão foi a 6 de agosto de 1726:
“A captura do filho de Lourença Coutinho não fez estranheza. A inquisição e os devotos lembravam-se ainda da judia, que saira absolta (...). Grande parte do público estava escandalizado daquele singular caso de indulgência, que, até certo ponto, ameaçava quebranto na inteireza dos inquisidores. Por isso, com a notícia da prisão de Antônio José da Silva, os pios escandalizados sentiram a satisfação desagravante.”

Esteve oito dias, no cárcere até que foi levado a perguntas diante da Mesa. Foi sincero, confessando que não seguia religião alguma nem a judaica; mas quantos erros havia cometido abjurava-os.
No texto dos autos consta que durante as torturas infames que lhe aplicaram para arrancar a confissão, só invocava a Deus e não a Virgem, o que foi tomado por sinal seguro de que era judaizante.
Todavia, desta vez, os Inquisidores aceitaram a abjuração e a penitência do culpado, e no dia em que haviam de ouvir a sentença, a 13 de outubro daquele ano, Antônio José e outros, de cabeça raspada, de sambenito e descalço, saíram dos cárceres até a igreja de S. Domingos, atrás de um Jesus crucificado e erguido pelos esbirros desse triste e sangrento cristianismo.
Houve, desta feita, alguma misericórdia e Antônio José foi absolvido.
Aqui se interpõe um período de tranquilidade em que Antônio José dedicado aos trabalhos da sua profissão e em seus lazeres, ao teatro, aperfeiçoou a sua ópera Vida do grande Dom Quixote de la Mancha e a fez ensaiar muito tempo pela companhia que então representava no Bairro Alto. O número incrível de tramoias, os aparatos cênicos e mutações eram coisas indispensáveis e exigidas pelo gosto da época.
O povo aplaudia com entusiasmo ilimitado as facécias e jocosidades das óperas de o Judeu, e nessa época em que era maior a sua reputação literária, Antônio José desposou Leonor de Carvalho, a 20 de abril de 1734.
A Ezopaida seguiram-se Os Encantos de Medea, representada em 1735, o Anfitrião em 1736 e ainda neste mesmo ano o Labirinto de Creta; e no carnaval de 1737 as famosas Guerras do Alecrim e Manjerona.
Os quatro primeiros anos que se seguiram ao casamento foram, pois, os mais fecundos da sua vida literária; coincide com os Encantos de Medea a consumação da felicidade doméstica com o nascimento de uma menina, a Lourencinha, encanto e poesia do lar.
Era impossível que a sua popularidade, a sua boa fortuna não fizesse despertar a inveja. A liberdade de linguagem, os remoques, sátiras e apodos que se entrevem nas suas comédias deviam aludir a muitas das pessoas em evidência na sociedade daquele tempo. Os poucos que odiavam o poeta tinham mais ódio do que lhe tinha amor e aplauso a multidão.
Assim é que onze anos depois da primeira prisão baixava de novo aos cárceres do Santo Ofício o desventurado Antônio José.
Não são bem conhecidas as causas verdadeiras desta inaudita violência. Parece que foi a denúncia de um ente inepto e miserável, uma preta escrava da mãe do poeta, Lourença Coitinha.
(continua)


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