terça-feira, 9 de junho de 2015

                                                              
INTRODUÇÃO 

Existem muitos estudos, pesquisas e teorias sobre a preparação do ator. Muitos deles são utilizados isoladamente como técnicas a serem apreendidas e aplicadas, primeiramente em exercícios e depois na concepção de um personagem. A partir da metade do século XX, muitas dessas técnicas foram aglutinadas a outras e experiências teatrais foram empreendidas visando à criação de novos métodos. Porém, a base continuava a mesma, chegando-se a conclusão de que nenhum método pode conter em si todas as soluções para uma arte tão complexa como a da atuação teatral. Sem dar ênfase demais às emoções, à mente ou ao corpo, a aglutinação das diversas técnicas possibilitou que se passasse a ver o ator tal qual um ser humano vivo e não mais como uma figura idealizada e pronta, por vezes artificial e retórica.

O mergulho feito na cultura oriental por parte de diretores-encenadores, tais como Peter Brook e Eugênio Barba, pôde trazer à luz outra realidade para o ator, surgindo a necessidade de um conhecimento maior de sua própria personalidade, num primeiro momento, para somente então criar um personagem dentro de um processo de construção e elaboração: é o início de uma busca por uma filosofia que norteie o trabalho do ator.

Filosofia no sentido de criar o fazer e o saber, de adquirir a maior quantidade de conhecimento possível acerca do teatro, da arte de atuar e de ensinar, ao mesmo tempo em que produz saber. Colocar, em seguida, todo esse conhecimento em benefício da própria coletividade, direcionando o teatro para a evolução do país.

Diante dessa nova realidade investigativa, também realizamos pesquisas e vivências, porém no âmbito pessoal, pois ocorreram dentro de um processo pré-definido de concepção de um espetáculo, a fim de que pudéssemos reconhecer a eficácia ou não desses novos caminhos. Foi uma investigação inserida na atuação propriamente dita, dos diversos métodos e aplicações possíveis, dentro de um espetáculo e um personagem já definidos, com o público como medida do resultado obtido ou não. Esse exercício dialético nos possibilitou, mais tarde, que todo material teórico e prático fosse transformado em vivências em sala de aula, seja na preparação de atores, seja no trabalho com não atores. O estudo e a vivência na atuação forjaram a orientação para sala de aula, que viria a ajudar no processo de aprendizagem do aluno-ator e na busca por uma filosofia que marcasse o trabalho como sendo mais de conscientização e desenvolvimento, de conhecimento e experimentação de si mesmo.

O trabalho realizado ao longo dos anos em Oficinas de Teatro é analisado a partir da prática em sala de aula. Como também a reflexão, por intermédio dos depoimentos escritos expressos em relatórios dos próprios alunos, possibilita a formulação de uma proposta que possa servir de estímulo aos atores, professores, alunos e todos aqueles que utilizam o teatro como meio de expressão. Partindo do pressuposto de que é de bom hábito esvaziar a cesta das laranjas velhas, antes de colocar as novas, o aluno-ator necessita primeiro saber lidar com suas próprias emoções, reconhecê-las, ter consciência de seus próprios conceitos e preconceitos sobre o mundo em que vive e conhecer o seu próprio corpo. Somente depois desse processo, (ele pode até jogar algumas laranjas fora) nós podemos oferecer alguma técnica, inserir exercícios mais elaborados, pois se o ator resolver interpretar sem o conhecimento do funcionamento de sua psicologia e do seu corpo, certamente as laranjas velhas apodrecerão com o tempo! Visto que o teatro exige do ator o envolvimento integral de sua mente, suas emoções e seu corpo é preciso despertar, o quanto antes, todas as potencialidades do aluno-ator.  

Existem em nosso país inúmeros cursos de curta duração, os assim chamados Oficinas Teatrais, nos quais o professor é requisitado a iniciar aspirantes a ator, ou simplesmente atender a uma demanda de pessoas interessadas em “fazer” teatro para ocupar-se e perder a timidez, desconhecendo a profissão de ator. Esses cursos são o primeiro contato que o aluno faz com o teatro, poderíamos até chamá-los de a pré-escola de teatro, pois é exatamente nesses cursos que a sua aptidão se mostrará ou não. Se em nosso país damos pouca importância a quem inicia nossas crianças na escola regular, o que podemos dizer de um curso de teatro?

A originalidade do tema se dá na medida em que se faz o levantamento das técnicas e métodos destinados à atuação, a exposição das bases de uma proposta no ensino de interpretação baseada na exposição de uma práxis, até então, confinada à sala de aula.

A hipótese que esse trabalho coloca é da necessidade do questionamento quanto à seriedade no trato com iniciantes e da criação de uma filosofia em sala de aula. Haja vista que o perfil desse aluno em questão é eclético, no que tange a classe social, escolaridade e faixa etária, a pré-escola de teatro requer o mesmo cuidado que, se presume, haja na pedagogia de uma pré-escola regular.

Utilizo, nesse trabalho, a arte de atuação, assim como atuar, para designar o trabalho do ator, visto estar na própria raiz da palavra ator a palavra atuar, e por ser seu significado mais dinâmico, designando movimento e criação. Acredito ser o trabalho do ator, não mera repetição, mas criação, imitação, improviso, técnica, emoção e racionalidade. O termo representação, portanto, aparecerá sempre que o período teatral citado denote um estilo de declamação, e também por designar a representação de uma forma global, ou seja, quando se refere a todo o espetáculo. Conforme o Dicionário Aurélio, representar é tornar-se presente, é apresentar de novo com uma visão diferente. Atuar é por em ação, é mais relativo ao processo de criação do ator. No Aurélio, somente representar é relativo a teatro, podendo-se concluir que representação é a atuação colocada em cena.

Segundo Paulo Luís de Freitas, estando o teatro comprometido com a própria história humana, visto ser um espelho de sua época, refletindo os acontecimentos sociais e psicológicos do ser humano, há a necessidade de o ator estar em sintonia com o seu tempo, tomar parte ativa dos acontecimentos, formar uma opinião, mas antes de tudo, formar consciência. Para tanto surge a necessidade de que o ensino, de que o trabalho com o aluno-ator seja pautado por uma filosofia, por uma linha de pensamento e de ação. A cada época se exige uma postura sempre levando em conta as várias posturas anteriores, porque somente a partir delas pode-se conhecer o processo histórico e saber situar-se e reconhecer-se na contemporaneidade.

O método utilizado foi o indutivo, através do estudo das experiências e pesquisas em vários cursos, para chegar a uma pedagogia para a preparação de atores. Não foi descartada a pesquisa bibliográfica abrangente a respeito das várias teorias de interpretação, dos métodos pedagógicos adotados, e tomou-se como apoio a linha da psicologia de Wilhelm Reich. Faz parte, também, o relato das vivências por meio da organização da documentação das Oficinas ministradas e relatórios dos alunos participantes, bem como entrevistas com os alunos que aplicaram os ensinamentos adquiridos.

A tese se divide em quatro capítulos, análise e conclusão, bibliografia e anexos:
No capítulo I temos um histórico de algumas das mais importantes técnicas existentes de iniciação teatral, interpretação e sobre a preparação do ator.
No capítulo II estão as bases da minha proposta, como as experiências com os exercícios de Reich direcionados para a atuação; uma pequena explanação sobre o método de Stanislávski e de Brecht, assim como o jogo teatral e a consciência corporal.

No capítulo III formulamos a proposta, como a criação de uma filosofia que tenha um viés nacional, baseada em técnicas com predominância no enfoque corporal e orgânico do ator e metodizamos esta proposta.

No capítulo IV apresentamos algumas Vivências e análises das Oficinas ministradas ao longo de 10 anos.

Finalmente, temos a análise e conclusão, bem como a bibliografia e os anexos.

(IORC)




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