domingo, 9 de fevereiro de 2014

PUTZ


Eva , Tatá e Juca falam sobre Osmar, o diretor  (Programa da peça)
Osmar é o típico diretor “Sumerhill” ou seja, o diretor da liberdade sem medo. Ele nos dá a impressão de que, finalmente, pela primeira vez em nossa carreira teatral, temos a possibilidade de fazer artisticamente aquilo que muito bem entendemos. A sua presença carinhosa e paternal nunca interferiu nas verdadeiras batalhas, atritos e xingamentos que constantemente desencadeamos sobre esta ponte (aliás não entendemos como ela ainda se mantém em pé). É provável que tais conflitos tenham provocado efeitos maléficos na sua constituição psico-física, já tão trucidada por persistente hipocondria. Senão vejamos: no início dos ensaios ele se ministrava apenas 4 Cibalenas, 2 Alka-Seltzers, 3 Engovs, meio tubo de descongestionante nasal, uma ampola de Metiocolin com B-12 (aplicação endovenosa), e um comprimido de Arovit por dia. Agora na véspera da estreia, o que ele consumia de medicamentos, não consta nos manuais farmacológicos da maior drogaria da cidade. Estamos desconfiados, de que agravamos um pouco o seu estado de saúde. Como dissemos, a gente tinha a impressão de que estava fazendo o que muito bem entendia. Acontece, porém, que no exato momento em que redigimos estas despretensiosas linhas, nos assaltou o terrível pressentimento de que, pérfida e maquiavelicamente, o homem nos levou a fazer aquilo que ele muito bem entendeu! Conclusão: Somos três crianças conduzidas a esta Ponte, totalmente desamparadas. E queremos deixar bem claro, que, tudo aquilo que vier a ocorrer sobre o palco esta noite, é de inteira e total responsabilidade de Sr. Osmar Rodrigues Cruz. E nesta nossa ciranda, ele nos transmitiu essencialmente uma coisa. Como foi bom nós quatro nos encontrarmos. PUTZ!!!
 
TRECHOS CRÍTICA - JORNAL DA TARDE – POR SÁBATO MAGALDI – 21/01/1971
Putz, novo cartaz do Teatro Aliança Francesa, preenche uma função definida e sem dúvida importante: procura atrair de novo o público arredio, oferecendo-lhe um entretenimento com as necessárias garantias de agrado. Já que não há condições para romper a estrutura que regula atualmente a atividade cênica, esse é um caminho de bom senso acomodado e de eficaz luta pela sobrevivência.
(...) Murray Schisgal, o autor, havia sido mais ambicioso em dois textos anteriores, Os Dactilógrafos e O Tigre. Embora sem acrescentarem  nada ao processo da vanguarda, esses atos únicos assimilam a experiência que vai das sínteses futuristas italianas a Ionesco, encaixando-a na realidade norte-americana. O substrato é a indefectível incomunicabilidade e o desejo de comunicação, num mundo que aliena o homem. Embora estejamos cansados de peças com duas personagens, essas obras, reunidas, num espetáculo, poderiam propiciar um rendimento artístico apreciável.
Putz (Luv, no original) parece uma demissão das propostas anteriores. Schisgal barateia a vanguarda, suaviza o que provocaria atrito. Com as concessões sucessivas na trama, passa-se do absurdo ao inverossímil. E a mecânica do maldito “play-writing”, pelo forçado e pela repetição dos recursos, acaba por cansar. Dentro de todo o artificialismo da história, tranquiliza-se a plateia: o amor do primeiro matrimônio é o verdadeiro, as outras inclinações esvaziam-se no efêmero.
Uma virtude da encenação de Osmar Rodrigues Cruz está em não mistificar a peça, fazendo o que ela é. Outra se refere ao resultado que obtém do elenco. A montagem, em relação aos seus trabalhos anteriores, se mostra mais flexível, aberta, movimentando os atores com liberdade.
(...) Um bem concebido cenário de Túlio Costa ambienta a ação, numa prova de que esse gênero de peça atinge o público pelo cuidado em todos os elementos do espetáculo.