segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Instituto Osmar Rodrigues Cruz



REVISTA EDUCATIVA SESI ANO II ABRIL 1955 Nº3

Primeiras manifestações de teatro no Brasil (Osmar Rodrigues Cruz – Chefe do Serviço de Teatro)

Diz Viriato Corrêa que “a nossa civilização começou com o Teatro”, e é bem verdade! Nenhuma nação teve um início tão singular quanto a nossa. Aqui mesmo em São Paulo, mais tarde em São Vicente e Niterói, foi que Anchieta adotou, como a melhor maneira de catequizar os indígenas (dando-lhes noções de religião, moral e educação), o teatro, que age diretamente sobre o cérebro e os sentidos e ensina por meio de exemplos que são vistos e não apenas narrados. A fórmula usada por Anchieta foi por ele trazida da velha Espanha.
O efeito foi grande. Ao lado da sua choupana, Anchieta construiu um tablado, escreveu autos em castelhano, português e tupi-guarani, língua que logo aprendeu, e ensaiava as peças com os indígenas. O enredo delas, geralmente, girava em torno do mal que deveria ser expulso da aldeia. Assim escolhia para o papel de “mal”, um morador que fosse realmente mau ou tivesse fama de mau; para cada papel, pessoa com as características do papel a ser representado. Tendo como cenário as folhagens das árvores, o pôr do sol e o canto dos pássaros, eram armados o tablado e os bancos para os assistentes; e entravam logo depois os personagens, interpretando o “Auto da Pregação Universal” texto bilíngue de Anchieta, sobre a luta do bem e do mal. Representaram mais tarde os “Mistérios de Jesus”. Pouco a pouco, foi Anchieta iniciando nossa civilização através da arte do Teatro. Todos os indígenas, aos poucos, foram-se aproximando dessas representações, aderindo à escola, à igreja; através delas, receberam os primeiros ensinamentos, aprenderam a língua, boas maneiras e o principal, que era o trabalho.
Não escrevia Anchieta em linguagem difícil. Tudo era compreensível para os selvagens, desde a trama, até os locais onde se passava a ação. Muitas vezes o efeito desejado por Anchieta era recebido com palmas e gritos do auditório, que entendia perfeitamente.
Surgiu assim o nosso Teatro, entre as árvores de Piratininga, representado por nossos indígenas, e com a finalidade única de educar.
Essa deve ser a finalidade da arte.


quinta-feira, 1 de novembro de 2018










Instituto Osmar Rodrigues Cruz




Após a conturbada quinzena das eleições voltamos ao trabalho, ao nosso cotidiano de resistência. Por isso, pensamos em publicar um texto que reúna a todos que trabalham com teatro, educação, cultura e todas as artes. Aos nossos leitores vale a reflexão para um futuro melhor.

“O Teatro Brasileiro está em crise porque o Brasil ainda não conseguiu educar o seu povo ao ponto de se tornar o teatro uma verdadeira exigência de sua civilização. O teatro é uma necessidade, mas só existirá quando o povo dele venha a sentir falta.(...) não basta proteger e amparar o teatro para que ele exista, se antes não são solucionados os problemas de ordem econômica, o da difusão do ensino e até o da própria saúde pública. Um povo inculto não é um povo civilizado, e o Teatro é um produto espontâneo da civilização. Onde há cultura, haverá necessariamente, Teatro. E disso depende até o próprio padrão de vida dos povos, cujo nível econômico está sempre em relação com a cultura, que mostra os caminhos a seguir para a consecução desse máximo ideal de todos os povos civilizados: independência econômica.”
(...)
“A história das civilizações ensina que as artes só florescem, em todos os países, apenas em épocas de fastígio econômico. O velho pré-conceito, segundo o qual é a miséria a maior força criadora da arte, pode absurdamente aplicar-se aos indivíduos, mas nunca às coletividades. Um povo pobre será sempre inimigo das artes. Um povo pobre será sempre um povo doente, e um povo doente será sempre contrário, naturalmente, a quaisquer manifestações do espírito.”   

Joracy Camargo

quinta-feira, 11 de outubro de 2018



 






Instituto Osmar Rodrigues Cruz



                          TEATRO NACIONAL POPULAR BRASILEIRO (TNPB)


AINDA UM POUCO DE HISTÓRIA...

Todo país colonizado e colônia por muito tempo, como é o caso do Brasil, há de levar em conta dois fatores que influenciam sua produção artística. Seja na literatura como na dramaturgia sofremos influência do povo que já habitava este país, os indígenas, os que vieram para cá negros e os colonizadores portugueses.

Na mestiçagem decorrente da convivência entre esses povos houve a prevalência da influência dos negros, pois estavam mais próximos dos dominadores, os portugueses. Os índios, é claro, tiveram primazia com os “brancos” no processo de mestiçagem. Porém os índios que resistiram e puderam fugir da escravidão, desapareceram nas matas e lá permaneceram refugiados. Os negros unidos em sua condição de escravos também reagiram, mas sem êxito, deixando-nos sua imensa cultura. Podemos inferir que o português, com seus hábitos europeus, foi a maior influência em nossa cultura tentando imitar a corte com seus parcos conhecimentos e ostentar riqueza. Enfim começam a nascer os herdeiros da mestiçagem, o brasileiro que somos todos nós.

Como já vimos o Brasil foi dividido em Capitanias Hereditárias que não deram certo! Então o rei de Portugal resolve mudar o sistema político brasileiro da Colônia Brasil em Governo Geral. Não muda muita coisa, apenas a centralização no Governo Geral da arrecadação do que era extraído do país. O primeiro Governador Geral foi Tomé de Souza, após meio século do descobrimento. Lembrando que as áreas habitadas do país eram São Vicente, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Maranhão.

Nessa época a Europa passava por uma crise séria, econômica, é claro, e Portugal continuava de olho muito aberto para o Brasil e seus lucros. Assim como, os franceses e holandeses que tentavam invadir o Brasil. Enquanto isso no mundo ocorrem fatos importantes para o teatro mundial, a criação do Teatro Kabuki no Japão, que torna-se seu teatro nacional e a obra A Fábula de Orfeu de Monteverdi que estabelece a ópera como forma de arte em 1607.

E no Brasil passamos dois, eu disse 2, séculos sem registro de atividades teatrais. O mínimo que podemos dizer é que companhias portuguesas vinham ao Brasil, porém não há registros para comprovar. Na Europa a vida fervilhante de arte e aqui não havia nem público para apreciar os abnegados artistas. Um público reduzido que não frequentava a praça onde artistas de todo tipo (malabaristas, palhaços e atores) se apresentavam nas feiras. De uma Idade Média mal vivida o Brasil passará para um capitalismo selvagem.



                         

                              
                           OSMAR ESPECTADOR


Coleção de Programas de Teatro das décadas de 40 e 50


Hoje uma homenagem à Nicette Bruno, Antunes Filho e José Renato. E saudosas lembranças de Paulo Goulart, Bassano Vaccarini,Walmor Chagas, Ruggero Jacobbi e Clovis Garcia.
Riquíssimo programa que conta com artigos de Ruggero Jacobbi e Clovis Garcia. Além das maravilhosas fotos de Fredi Kleemann.














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segunda-feira, 10 de setembro de 2018









Instituto Osmar Rodrigues Cruz



TEATRO NACIONAL POPULAR BRASILEIRO


NOSSAS RAÍZES
Todos nós brasileiros somos indígenas, afro brasileiros e portugueses, não tem discussão quanto a isto, somos mestiços até de outros povos que por aqui estão como descendentes e construtores de nosso país. A diversidade étnica é nossa maior riqueza quando se fala em cultura como sendo “a aplicação da inteligência de cada povo para produzir alguma coisa”. A cultura popular é espontânea, resultado da convivência, geralmente resultado da oralidade do conhecimento e da sabedoria, vinda desta convivência e reverenciada por um grupo de pessoas que participam de sua manifestação.

Assim sendo o dito folclore torna-se uma manifestação teatral na maioria das vezes. As festas populares são assim e no Brasil foi a base do nosso teatro e permanecem até hoje atravessando o tempo de geração em geração. Vamos tentar mostra-las.

A festas predominantes sempre foram originárias do calendário religioso católico, exatamente por ser a Igreja Católica companheira fiel junto aos portugueses na dominação dita colonizadora. O ciclo natalino talvez seja o mais constante e do qual se inicia as festividades católicas: o Reizado e a Folia de Reis, o Pastorio, representação diante do Presépio. Depois o ciclo Junino ou Juanino com a Festa de Santo Antônio padroeiro dos casamentos, São João que corresponde ao solstício de verão (no hemisfério norte) e São Pedro padroeiro dos navegantes. Festa de Santa Cruz em 3 de maio e Nossa Senhora Aparecida em 12 de outubro. Semana Santa com seus vários rituais transformados em representações sobre a Paixão de Cristo. E Corpus Christi. Além dos Santos locais de cada cidade, pois toda cidade brasileira tem uma igreja por menor que seja.

Os outros temas das manifestações populares são o Boi Bumba, talvez o mais conhecido, ou Bumba Meu Boi, Boi de Mamão, cujo mito central é de morte e ressureição do boi. Manifestações vindas de Portugal (Boi de São Marcos), França (Boi gordo) e Angola (Procissão do Boi). Na temática marítima temos a Chegança uma dramatização entre mouros e cristãos. A Nau Catarineta, a Marujada, o Fandango e a Barca, todas elas representações em forma de Revista. O Folguedo Moçambique que não tem a participação de mulheres, o Brigue que inclui as águas de rios e lagos e a Marujada.

A Cavalhada é um tema muito conhecido também, pois inclui uma coreografia a cavalo lembrando os cortejos medievais, o torneio em forma de luta entre mouros e cristãos. Os Jogos, Histriões e as mascaradas lembram muito as festas medievais e são lembrados em muitas regiões do país até hoje.

Os indígenas eram reservados e divididos em grupos de várias regiões do Brasil com seus idiomas próprios de cada tribo. São conhecidos como representações o Pássaro de Comédia que é um ritual de morte e ressureição, um Pássaro embalsamado é levado por uma criança às ciganas e feiticeiras. E Caboclinhos ou Cabocolinhos cuja temática é de guerra com Cacique, Pagé, Caboclo e Índio chefe de cocares, cabelos compridos, flexa, estandarte e apito. Eram acompanhados por flauta, maraca, surdo e cuíca. Em Piracáia Índios, Pagé, Macurú faziam a dança mágica de cura acompanhados de caixa, buzinas, reco-reco e matraca. 

Os africanos trazidos ao Brasil como escravos pertenciam a várias regiões do continente africano. Os Sudaneses eram Iorubás, Gês, Nagôs e Dahomeanos que tinham forte influencia dos elementos hindus em suas Danças das Pernas. Já os Bantos eram de Angola e Moçambique e trouxeram a Capoeira em manifestações musicais e coreográficas. De Moçambique veio a Congada, um musical completo com personagens definidos a Rainha, a Princesa, o Capitão, o Mestre e o Meirinho. A coreografia consistia em duas fileiras e os personagens dentro de um conflito entre eles usavam guizos nos tornozelos, dançavam descalços, exceto o Rei e a Rainha. Os instrumentos incluíam caixas, bastões, viola, rabeca e apito. O Maracatu consiste na coroação do rei do Congo, sai da porta da Igreja em grupos chamados de Nação; os personagens são Calunga (boneca mística), Rei, Rainha, Escravo, Dama do Paço, Caboclos (índios), Condes, Condessas e figuração! A coreografia era reservada às baianas e aos caboclos acompanhados de uma toada cantada em diálogo e os instrumentos que acompanhavam era o tarol, a caixa e a zabumba.

É claro que devo ter esquecido muita coisa, pois sendo apenas um panorama do tema e graças a nossa grande diversidade peço a sua compreensão. Mas se quiserem podem incluir o que acharem necessário através do Blog ou na nossa Página no Face ficaremos felizes! 


                                                     
                                          OSMAR ESPECTADOR


Coleção de Programas de Teatro das décadas de 40 e 50





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domingo, 26 de agosto de 2018






Instituto Osmar Rodrigues Cruz



TEATRO NACIONAL POPULAR BRASILEIRO

FOLCLORE E (É) TEATRO
Devido ao acentuado racismo nos Estados Unidos, os negros se fortaleceram muito na união de seus povos e criaram “a mais poderosa influencia musical de que há memória". Vindos em sua maioria do Congo sempre se reuniram aos sábados, seja para reverenciarem seus deuses, seja para festejar com sua música ímpar e, principalmente, tentar alimentar a força que tem a união para lutarem contra a segregação racial.
No Brasil muitos séculos se passaram até surgir o samba, propriamente dito, pois sofreu várias influências e se subdivide em várias graduações rítmicas em nosso país continental. Desde o legítimo tambor africano nas suas reuniões e celebrações, até chegarmos à inclusão de vários instrumentos passaram-se séculos.
O colonialismo no Brasil foi muito intenso, deixando sua marca até os dias de hoje no comportamento e no imaginário de todos nós. Seja na cultura importada e massificante que influencia, através dos meios de comunicação mais simples e que hoje qualquer um tem – a televisão, até os meios eletrônicos mais sofisticados como o computador na sua versão mais corriqueira – o celular. O que vem de fora sempre é o melhor entranhando-se em nós, nos tornando meros expectadores, repetidores, imitadores de uma forma de vida que não é a nossa. Assim sendo, aprendemos que não temos cultura própria, não produzimos arte, que o popular é folclore e este é pequeno, coisa do passado, vinda dos pobres.
É exatamente aqui que descobrimos nossa verdadeira origem de um teatro nacional popular brasileiro. Uma observação, o popular, desculpem-me os mestres e doutores como eu, é nossa raiz e a nossa vocação, aquela arte que todo mundo gosta e prestigia. “É teatro lotado, cheio de gente” como dizia Plínio Marcos.
Como aconteceram no Brasil diversas expedições de outros países, sofremos muitas invasões. Os ricos espanhóis, franceses e holandeses andaram por aqui para tirar seus pedacinhos. Entretanto, foram os náufragos, degredados de navios perdidos e condenados que eram mandados para cá como pena a ser cumprida e traficantes de escravos que ocuparam boa parte da costa nacional.
A igreja católica também vinha nas expedições como já vimos e catequisou, como também construiu seus templos em grande parte do país. Podemos constatar em todas as cidades brasileiras, nas capitais ou interior dos estados, construções de igrejas que datam desde o século XVII, até do século anterior. E a influência da igreja foi extremamente importante na criação junto ao povo de festas populares. Já que o Padre Anchieta não havia dado muito certo. Assim foram surgindo nas procissões dos dias santos, muitas canções em português, língua do povo, já que as missas eram rezadas em latim. Surgiram figurinos, estandartes e alguns instrumentos musicais para conduzir as músicas, além de mais tarde a representação de certas datas cristãs mais importantes como a Paixão de Cristo e Autos de Natal, que permanecem até hoje com apresentações profissionais.    
As manifestações detalhadas deste primeiro teatro popular serão analisadas, conforme cada região do país constatando nossa maior riqueza cultural a diversidade.

Livro consultado: Drama para Negros e Prólogo para Brancos do criador do Teatro Experimental do Negro – Abdias do Nascimento 1961.




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