sábado, 28 de abril de 2012















ARTIGO – REVISTA RECREIO E ARTE ANO 3 (SESI) JANEIRO/MARÇO DE 1960
Analisando a temporada
Pouco animadora a última temporada teatral em São Paulo. Das peças apresentadas, apenas podemos destacar dois espetáculos de categoria: “ Plantão 21” e a “Farsa da Esposa Perfeita”, respectivamente no Pequeno Teatro de Comédia e no Teatro de Arena “Plantão 21” é, sem dúvida, um dos melhores espetáculos que tivemos nos últimos tempos.
A peça não possui grande força intelectual, mas é compensada pela força dramática. Sidney Krisgley não é um autor da categoria de Arthur Miller, mas mesmo assim sabe, com maestria e coragem, transpor temas simples para a cena. Esse seu “Plantão 21” é a história de uma delegacia de polícia, durante um pequeno espaço de tempo. Desenrolam-se, perante os olhos do público, cenas que, umas após outras, vão construindo o caráter e o drama do personagem principal, detetive MacLeod. Seu temperamento, inflexível perante os fora-da-lei, não permite transigir, e o maior caso de sua carreira envolve sua própria esposa. Aos poucos, sensivelmente, o autor vai fazendo o tema principal sobrepor-se aos secundários, e a explosão final dá-se com a morte do detetive, assassinado por um ladrão na própria delegacia. Dessa peça, tremendamente realista, surgiu um espetáculo também excessivamente realista. Não se nega a Antunes Filho, que a dirigiu, acerto e maestria. Ele fez, de uma coleção de cenas, um só quadro dramático. Sente-se claramente, no decorrer do espetáculo, a presença do diretor. O excesso de realismo é que põe a peça de pé. As interpretações foram de vários níveis, salientando-se Jardel Filho, no papel de detetive, substituído posteriormente por Mauro Mendonça, também feliz na interpretação. Moura Neto, Vadeco, Elias Gleiser, José Serber, Felipe Carone e outros. Decepcionaram: Laura Cardoso, substituída depois com felicidade por Irina Greco, e Edmundo Morgadouro. Destaca-se entre todos os atores e atrizes, Célia Camargo. O papel que lhe coube na peça talvez não seja mesmo bom, mas Célia transformou-o em verdadeiro personagem, vivo, comovente, brilhante. Os cenários de Túlio Costa foram bem idealizados e executados. Enfim, um ótimo espetáculo.
No Teatro de Arena continua a apresentação de peças brasileiras. Desta vez, com a “Farsa da Esposa Perfeita”, de Edi Lima. Vimos a peça como se estivéssemos na idade média, assistindo as espetáculos medievais. A peça, não se pode negar, possui a estrutura daqueles folguedos e assemelha-se à “A Compadecida”, de Suassuna. Talvez a autora não tivesse a intenção, mas ao transportar para a cena, lendas e fatos populares regionais, é-se obrigado a cair no arremedo formal do teatro medieval. História viva, alegre, cheia de incidentes, a farsa não é uma obra prima, mas não decepciona. A direção de Augusto Boal, trabalhada e objetiva, levou a peça para a brincadeira e daí resultou um belo espetáculo. Riva Nimitz, Henrique César, Ferreira Leite e Ceci Pinheiro tornaram aceitável e agradável a peça. O Teatro de Arena continua vencendo. Sua linha é a melhor e os resultados melhores ainda.
Dos outros teatros, Bela Vista e T.B.C. continuam na mesma linha: espetáculos limpos, sérios, mas peças ruins, interpretações medíocres. “A Idade Perigosa” e “Quando as Paredes Falam” não trazem nada de novo e nem mesmo contribuem para nosso teatro.
Assim, neste início de ano, o teatro está à espera de grandes espetáculos.