domingo, 15 de dezembro de 2013

Noites Brancas no Grupo União

TRECHOS CRÍTICA - JORNAL DA TARDE – POR SÁBATO MAGALDI – 14/11/1968

Depois de uma peça violenta, outra montagem, boa, desta vez, poesia e amor.
Delicadeza, ternura, sensibilidade definem Noites Brancas, o novo espetáculo do Grupo União no Teatro Itália. Sob todos os aspectos, a adaptação cênica da novela de Dostoiévski está no polo oposto de Navalha na Carne, montagem inaugural do conjunto. Mais uma oportunidade para ver que tudo tem o seu lugar, desde que feito com rigor e propósito honesto.
Noites Brancas não é ainda o Dostoiévski de Os Demônios e Os Irmãos Karamazov. Parece uma balada, diante da composição sinfônica dos grandes romances. O leitor ou a platéia sentem de imediato, porém, a presença do ficcionista que sabe penetrar no mundo subterrâneo e extrair das personagens as notas mais íntimas e profundas. Uma poesia melancólica banha todo diálogo de Nastenka e Wladimir, os seres solitários que num momento se encontram, se reconhecem e quase se aproximam, para logo depois tomarem caminhos diferentes. Edgard Gurgel Aranha soube preservar a atmosfera do original e ao mesmo tempo deu-lhe credibilidade cênica, pondo em flash-back a narrativa de Nastenka sobre os seus encontros com Stepan. A peça não adquire total autonomia na linguagem do palco, mas falta ao espectador como um sofrido poema dramático.
A tarefa de Osmar Rodrigues Cruz, na encenação, foi mais a de assegurar fidelidade ao espírito da obra e fazer que desempenho e luz mantivessem o indispensável clima poético. Suas marcações são simples e espontâneas, como convém ao espetáculo, e pode-se afirmar que ele muito acertadamente desapareceu atrás dos atores.

(...) Seria Noites Brancas uma encenação romântica e por isso fora da realidade atual? Ou essa reivindicação de poesia, em meio às dissonâncias do mundo de hoje, guarda um encanto secreto e tem o dom de comover-nos? A resposta afirmativa à segunda pergunta parece a verdadeira.



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