domingo, 5 de maio de 2013

SENHORA

Elenco da peça













Trechos de crítica
Última Hora – por João Apolinário – 4/8/1971
APROVEITE. É DE GRAÇA. VEJA SENHORA, UM BOM ESPETÁCULO
Há mil razões, todas maravilhosas, para aplaudir este espetáculo que o povo pode ver no Teatro Popular do Sesi (Rua Três Rios, 252, sem pagar nada). E se me dão licença os mercenários do teatro, vou aplaudir de pé todos os que fazem de Senhora uma prova provada de que estão certos aqueles que defendem a necessidade de um teatro brasileiro popular.
Em seguida, um aplauso muito intencional para Osmar Rodrigues Cruz, não só como diretor desta encenação, mas sobretudo por ter sabido usar os recursos do Serviço Social da Indústria no sentido que devia e pela primeira vez aplica com total objetividade didática e cultural, em função do público em formação de que também dispõe aos milhares.
Chamo agora a vossa atenção para Sérgio Viotti: ele provou com esta adaptação do romance de José de Alencar, Senhora, ao povo que o teatro brasileiro que devemos poder alcançar com boas adaptações como a sua, um alto nível catalisador no desenvolvimento da formação de espectadores, sintonizando neles todo um repertório estudado em sucessivos graus de revelação cultural que utiliza não só as peças existentes, mas a nossa literatura de ficção, adaptada inteligentemente, não apenas para adultos, mas também para os estudantes secundários.
Exatamente a proposta que já foi feita pela Comissão Estadual de Teatro, da qual o Sesi dá este primeiro passo e magnífico exemplo.
Exemplo ainda mais significativo, o quanto Osmar Rodrigues Cruz soube reunir uma equipe de rigorosa capacidade profissional e com ela realizar uma encenação cujo mérito está em alcançar o nível artístico que teria se se tratasse de uma exploração comercial, o que prova que o diretor sabe que deve ao povo, a quem oferece gratuitamente o resultado do seu trabalho e dos recursos do Sesi, o máximo do desenvolvimento que é possível atingir-se entre nós em espetáculos do gênero, sem que se subestime o mínimo detalhe.
Está nesse caso, por exemplo, a concepção dos cenários e figurinos, aparentemente contraditórios, mas a meu ver certos na sua justaposição realista e impressionista, com o objetivo igualmente certo de apoiar o ator a exprimir, essencialmente, a expressão verbal, resultado último da adaptação do romance para a qual havia necessidade de se criar um lugar dramático, um local generalizado, de ação múltipla, por vezes quase simultânea, aqui suprindo a falta orgânica da carpintaria, impossível de dar a um texto que não nasceu para o teatro.
E Túlio Costa, o cenógrafo foi muito feliz, mas Ninette Van Vuchelen muito mais, caracterizando os figurinos em uso na sociedade carioca do Segundo Reinado não só de uma leveza de bom gosto, mas ainda mais no equilíbrio das cores, permitindo a fusão plástica com a luz, cuja distribuição visava só o essencial para sugerir o lugar dramático e a emoção, o que aliás foi conseguido plenamente.
O estilo de representação, obrigado a impor-se no sentido de uma convincente e consistente expressão verbal, teria de ser indiscutivelmente naturalista, como é, embora realizado melhor por uns do que por outros intérpretes, isto se exigíssimos deles mais do que podem dar. O que dão, porém, é eficiente, claro e uma nítida substância da ideia ou tema do romance feito peça [...] todos a final merecendo aplausos e, em nome do espectador mais comum, o nosso agradecimento.
Desculpem se ainda não foi desta vez que fizemos o comentário popular que também devemos aos espectadores de Senhora, mas não resistimos ao entusiasmo de somente saudar todos os que colaboraram com o Sesi para dar ao público o teatro que ele precisa.
(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida no Teatro Hucitec 2001)







VISITE TAMBÉM 
WWW.BLOGDOVICTORINO.BLOGSPOT.COM