quarta-feira, 22 de maio de 2013

TPS 10 ANOS!



Um sonho que virou realidade

Há dez anos, neste mesmo teatro um sonho transformou-se em realidade. Um sonho que durava, também, há quase dez anos. Esse sonho era transformar o teatro, que havia dentro do Serviço Social da Indústria, num organismo forte, irradiador de prazer e cultura, enfim um Teatro Popular para uma massa não afeita a esse tipo de manifestação.
Em fins de 1962 apareceram alguns homens de grande visão, homens fundamentalmente da indústria, mas que tinham também a responsabilidade de um Serviço Social.
Pois bem, esses senhores, hoje encabeçados pelo Sr. Theobaldo De Nigris, seus companheiros do Conselho Regional do Sesi, e a Superintendência do Sesi, acreditaram num plano, num trabalho, num ideal e transformaram o Teatro Popular do Sesi, num exemplo de como, sem visar interesses, dar ao trabalhador um pouco daquilo que ele nunca poderia ter por várias questões, principalmente por falta de hábito, de poder aquisitivo (o teatro é um divertimento caro) enfim, por uma vasta série de fatores.
Posso afirmar com a maior satisfação que o Teatro Popular do Sesi sempre mereceu desses senhores, a maior atenção, o carinho de quem vê um filho crescer. Não acredito que haja no mundo exemplos parecidos. No nosso país o caso é segundo me parece, o único.
Depois de dez anos é justo que se saiba, e principalmente, este nosso grande público, que esses senhores são os responsáveis, pois acreditaram em nós, como nós acreditamos neles.
Um dia, na história do nosso teatro, se poderá constatar que alguns senhores, respeitáveis homens de negócios, tornaram realidade um sonho, porque viram que o homem só pode acreditar na vida, no trabalho e no progresso, quando ele se instrui, adquire bons hábitos, e o Teatro é o grande meio. Eles acreditaram e com isso escreveram uma página do Teatro Paulista.
O Teatro Popular do Sesi agradece a todos os que contribuíram para o seu desenvolvimento e sua fixação, desde o humilde servidor até a mais alta administração. Isolados, os homens são uma partícula, unidos formam uma comunidade. (ORC)
(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida no Teatro Hucitec 2001)



Entrevista 1 – Folha da Tarde – coluna “No Teatro”
por Paulo Lara – 11/7/1973

Você tem uma solução para a crise do teatro?
Osmar Rodrigues Cruz é o diretor do Teatro Popular do Sesi desde sua fundação, há dez anos. Seu trabalho de popularização de teatro tem dado significativos resultados. Suas montagens, além de ficarem muitos meses em cartaz, conseguem obter um público sempre acima dos cinquenta mil espectadores. Para provar isso, seu último trabalho encontra-se em cartaz no Maria Della Costa. É a comédia de França Júnior – Caiu o Ministério – que já ultrapassou os trinta mil espectadores e continua sempre com a lotação esgotada. Vejam o que ele tem a dizer sobre a atual crise de público que afeta a maioria dos teatros paulistas.
“A crise pela qual passa o teatro em São Paulo nunca deixou de existir, pelo menos nestes últimos anos: ora mais acentuada, ora menos. Mas, atualmente, essa crise não deixa de ser consequência de uma falta de planejamento no que diz respeito à popularização do teatro. Sendo uma arte cara para o nosso poder aquisitivo, ela deixa de fazer parte do hábito do paulistano e a elite que vai ao teatro, hoje em dia, só comparece àqueles espetáculos que lhe interessa ver. Não é como em certas capitais da Europa ou nos Estados Unidos onde o público assiste a tudo. Um teatro, como é feito aqui, quanto mais tempo passa, mais distanciado vai ficando do grande público.
“O que precisa ser feito é habituar esse público, alheio às casas de espetáculos, a comparecer. Mas como? Através de uma programação a longo prazo, pois a curto prazo tem-se tentado, pelas subvenções, temporadas populares mas que nunca atingem a vinte mil pessoas. Então, está provado que isso não tem alcance nem relevo.
“A necessidade é de se equacionar o problema da crise teatral, realisticamente, a longo prazo, e isso não se pode exigir do empresário que tem que manter uma companhia. O teatro é caro para quem vê e para quem o faz.
“Cabe então, aos poderes públicos, talvez unidos – Prefeitura, Estado e União – amparar o teatro. Uma campanha de popularização seria feita usando: 1) Um repertório nacional de linguagem popular que se comunique de imediato com a massa; 2) Subvenção ampla para que se possa cobrar um quarto do valor do ingresso atualmente; 3) Ampla promoção do teatro, das peças e elenco, junto a essa massa; 4) Paralelamente aos espetáculos, criar estímulos para que o público não veja no teatro uma arte de elite, mas uma manifestação comum: associações, exibições de filmes de peças, exposições e principalmente material didático sobre as apresentações.*
“O teatro tem que ser pedagógico e divertimento ao mesmo tempo – como diz Brecht. Não se pode esquecer nunca que, antes de tudo, ele tem que interessar, fazer o público sentir prazer em estar no teatro. O esquema apresentado pode ser feito por duas, três até seis empresas se revezando entre a Capital e o Interior. O teatro não pode ser um serviço público executado por particulares.
“Para esse esquema, claro que haveria problemas. Um deles: a quem se daria essa tarefa? Concorrência. E quem ficasse de fora resistiria? Essa pergunta foi feita, há mais de seis anos, quando, como membro da Comissão Estadual de Teatro, apresentamos ao então secretário do Governo um plano de popularização. E a resposta dada foi: “Ou se salva o teatro ou tentemos salvar meia dúzia de empresários e o teatro continuará em crise”. É o que está acontencendo. E nem precisa dizer que aquele plano não foi executado. Isso de distribuir uma quantia entre muitos nunca irá resolver esse problema.
“O Sr. Ministro da Educação, mostrou-se interessado em destinar uma soma bastante razoável para solucionar a crise. Se ela for dividida com as empresas do Rio e São Paulo, não vai adiantar nada. E o que é pior: o teatro continuará em crise, pois a solução do problema não está em “subvenção”, mas sim em “popularização”. Quando trezentas mil pessoas forem ao teatro – cinco por cento da população da Capital – não haverá necessidade de subvenções, nem crises, e todos poderão viver bem do teatro. Mas, para isso, é urgente um plano lógico no qual o repertório escolhido atenda, pelo menos inicialmente, às exigências do público. mas o espetáculo popular não pode ser vinculado à exigências estéticas de vanguarda, deve se ater a uma “comunicação” que atinja a maioria do povo”. (continua amanhã)
(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida no Teatro Hucitec 2001)
* grifo nosso




Entrevista 2 – Folha da Tarde – coluna “No Teatro”
por Paulo Lara – 12/3/1973

“É necessária uma intervenção direta no teatro”

“Aos que discordam de uma intervenção direta no teatro, temos a lembrar que a Comissão Estadual de Teatro existe há mais de vinte anos e até hoje não conseguiu solucionar os problemas da crise do teatro, justamente porque as verbas são divididas de tal maneira que, em alguns casos, nem chegam a cobrir a folha dos atores na fase de ensaios.
“Criada uma seleção de qualidade, é dar a esses uma dotação que realmente possibilite que entrem num verdadeiro esquema de popularização. Os que ficaram de fora continuarão reclamando, mas ou se resolve o problema máximo do teatro, ou os menores. E faço minhas as palavras de Jean Vilar, quando lhe foi entregue a direção do Teatro Nacional Popular em Paris: ‘Há uma certa inquietude por uma pretensa concorrência desleal com referência aos preços muito baixos cobrados por nós. Concorrência? Com quem? Não com o teatro. Ao contrário do que acontece muito frequentemente, é que em razão do preço modesto de nossas poltronas, o TNP ganha para o teatro espectadores que não têm meios de conhecê-lo. Uma vez que esses espectadores tenham adquirido o hábito de ir ao teatro, farão, sem dúvida, no futuro, um sacrifício e o teatro se beneficiará com isso‘.*
“Isso de dizer que o teatro está morto é conversa de quem não gosta de sua profissão. O teatro está tão vivo que quando o espetáculo interessa, o público briga para entrar no teatro. O que talvez esteja morta é a vontade de se violentar um pouco e ir até onde o povo espera que o teatro chegue. O estágio artístico-cultural da plateia brasileira exige espetáculos nos quais ele sinta vibrar a sua própria capacidade de entendimento, onde ele possa criticar, discutir, enfim, compreender o que vê. Depois, o teatro tem que aparentar um divertimento que não se assemelhe aos outros meios de comunicação. Só assim ele poderá interessar.
“Resumindo, o problema do teatro seria resolvido com: 1) Repertório condicionado a quem se dirige, porém variado e em evolução constante. O bom autor de teatro sempre é popular. Exemplo: Plínio Marcos e Guarnieri. 2) Artisticamente bem acabado: elenco, montagem, técnica, etc. 3) Preços mais do que acessíveis à massa. 4) Sem problemas de ordem econômica (subvencionado). 5) Popular, comunicação direta, sem falsas pretensões estéticas. 6) Não poderá nunca estar a serviço de vaidades ou ser especificamente pedagógico. Antes, tem que divertir, preencher as horas de lazer. Isso não quer dizer que culturalmente seja de baixo nível. 7) Tem que ser um serviço público, útil, necessário e sem demagogia.
“Não se pode esquecer que o consumidor vai ao teatro depois de horas de trabalho. Há necessidade de fazê-lo relaxar, sentir prazer estético, emocional, tomar conhecimento que aquelas horas foram importantes para seu bem-estar físico e psicológico: esse, podem crer, é mais um conquistado para o teatro.”

* grifo nosso
(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida no Teatro Hucitec 2001)


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