domingo, 2 de dezembro de 2012

Homenagem especial

NIZE SILVA






Um dia como na vida de muitas pessoas afortunadas, surge outra pessoa que o fará mudar de rumo, modificar sua vida para sempre e fazê-lo realmente feliz.
Quando Nize apareceu para fazer o curso, talvez ele não tivesse prestado atenção, fora a beleza, é claro, nem ela muito menos. Estamos falando dos anos 50, época de Elvis, quase Beatles, época de revolução dos costumes. Ele casado com uma filha, ela noiva, mas afinal é apenas um curso de teatro, um curso que mudará totalmente o curso da vida dos dois.
O professor era Osmar, a aluna Nize e a filha eu. Ora, diria meu pai, “não vamos falar de vida particular”. Vamos sim, porque estamos nessa vida para encontrar a pessoa que nos fará MELHOR, nos compreenderá e, assim sendo, será nossa companheira. Estou aqui apenas como testemunha ocular para poder afirmar que meu pai era apaixonado por Nize. Então, Sr. Osmar, com licença, vamos falar de sua musa!
Eles começaram como amigos, afinal os dois eram compromissados. Mas quem resistiria diante das confissões, dos desabafos e de toda cumplicidade que nasceu entre eles? Seria isso história de folhetim? Seria um enredo teatral? Não, foi vida real mesmo. Depois o tempo se encarregou de unir, para sempre, duas pessoas incomparáveis.
O tempo também fez aparecer o enorme talento de Nize como atriz e de Osmar como diretor. Quantas histórias assim existem no mundo artístico? Sabem por quê? Porque isso é maravilhoso!!! O teatro é uma força que nos leva e trás da realidade para a magia, força que nos faz mergulhar em nós mesmos, em observar os outros a nossa volta e de nos apaixonarmos verdadeiramente.
Com tamanha sinceridade nascida da amizade entre eles, logo aconteceu o primeiro beijo... (que eu soube, foi no teatro)
Ninguém mais conseguiu separar esses dois, profissionalmente como pessoalmente. A própria vida havia se encarregado disso.
E eu, finalmente, consegui conhecer a Nize! Esse dia foi inesquecível, não pensei em nada, apenas estava ali, diante da pessoa que meu pai amava. Para mim bastava isso. Mas eu também pude conhecê-la, conviver com ela, aprender.
Tem sido, e será para sempre uma experiência insuperável. Meu pai me deixou de herança muitas coisas, mas a melhor e maior, certamente, é continuar a conviver com a Nize, minha mãe, amiga e confidente.
Por tudo isso, com licença, vamos falar muito da Nize! Ela encantou a plateia do Teatro Popular do Sesi (TPS) desde sua criação. Havia uma sintonia entre ela e o diretor, que colaborava para que o espetáculo resultasse perfeito. Nize fazia a plateia rir ou chorar com ela, ganhando assim o maior prêmio que um ator pode ter, o reconhecimento do imenso público do TPS.






















Depoimento de Nize Silva (Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida no Teatro, SP, Hucitec, 2001)
Professor Osmar
Osmar, meu professor no “Curso de Atores para o Cinema” do Museu de Arte, convidou-me para fazer teatro no Sesi; ao aceitar o seu convite não poderia supor o quanto minha carreira estaria ligada à trajetória do TPS em todas as suas fases, desde a primeira peça do TES (Teatro Experimental do Sesi), a Torre em Concurso de J. M. Macedo até Confusão na Cidade de Goldoni, trinta anos depois. Sinto-me recompensada por ter participado da única companhia brasileira, cujo projeto de popularização do teatro logrou êxito.
Lembro-me de como foi emocionante ver uma enorme massa popular se comprimindo junto às portas do Teatro Municipal, quando da apresentação de O Fazedor de Chuva do Richard Nash. Os funcionários do teatro temerosos recomendavam que as portas do teatro fossem abertas mais cedo, temendo pelo pior. Do camarim onde estávamos ouvíamos a correria em busca dos melhores lugares. Quando a cortina abriu a casa estava lotada, lotada de gente que vinha pela primeira vez assistir a uma peça teatral e que pela primeira vez entrou num teatro até então frequentado pela elite paulistana. Nessa noite percebi que se o Osmar conseguisse levar adiante o seu projeto, teria sucesso.
Não foi sem luta, força de vontade, entrega, que o TPS obteve o reconhecimento, da própria entidade e da crítica. (...)
Impossível por isso dissociar o TPS do homem. (...)
Prazer era o que ele sentia ao dirigir uma nova peça. Quando esta entrava em cartaz, assistia a alguns espetáculos até apurá-los. Depois durante toda a temporada em que as peças permaneciam em cartaz, não assistia mais, mas ouvia!... de sua sala, onde mandou que instalassem uma caixa de som. Era assim que controlava os atores.
Até hoje me pergunto como conseguia administrar todas as funções que exercia, sim, porque além de Diretor Artístico, administrava o Teatro e ainda dirigia uma Divisão de Divulgação. Não é à toa que morava praticamente no teatro, de segunda a segunda a qualquer hora do dia ou da noite era encontrado nas dependências do teatro. Acumulou um colosso de férias.
Esse entusiasmo foi me envolvendo de tal forma, que mesmo quando não estava na peça em cartaz, ia quase toda noite ao teatro. Desse convívio, meu professor, meu diretor, tornou-se em 1974, meu marido. Continuei minha carreira no Sesi, das vinte e cinco peças do seu repertório, devo ter participado de umas vinte. Para aqueles que sempre acharam que como esposa do diretor eu tinha privilégios, enganaram-se, nunca fui tão cobrada, nunca tanto foi exigido de mim depois de casados.
(...)






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