segunda-feira, 15 de abril de 2019




TEATRO NACIONAL POPULAR BRASILEIRO (TNPB)


As obras de Antônio José – Introdução I

A tolerância pelo judaísmo foi um dos princípios que a paz na Holanda parecia haver imposto ao fanatismo religioso dos portugueses. Dentro em pouco, porém, essa conquista da consciência livre não tardou a extinguir-se. Logo nos começos do século XVIII desenvolve-se enérgica perseguição aos judeus que viviam no Brasil; os agentes da Inquisição aqui trabalham ativamente contra a raça desditosa que havia crescido à sombra do Brasil holandês e, por toda parte, mormente na Paraíba e no Rio de Janeiro o zelo dos Dominicanos recobra nova energia.
Antônio José nascera no Rio de Janeiro, a 8 de maio de 1705, e era filho do advogado João Mendes da Silva e de D. Lourença Coitinho, de cujo consorcio vieram ao mundo três filhos André Mendes, Baltazar Rodrigues e o mais jovem dos três, Antônio José.
Por esse tempo instituíra-se a caça aos judeus e muitas famílias foram levadas a Lisboa por denuncia e intimação dos familiares da Inquisição.
Havia nesse zelo ao mesmo tempo fanatismo e roubo porque as famílias que mais morreram foram sempre as mais abastadas e aquelas que podiam deixar, pelo confisco, as riquezas que a humildade cristã vesgamente invejava. A sociedade parasitária e aladroada que já havia saqueado África e Índia e por inépcia esgotado os tesouros que não soube valorizar, ia ressarcindo pelas garras da fé o que lhes haviam perdido o desmazelo e a ignorância.
E, assim, como muitas outras foi obrigada a embarcar para Lisboa a família do advogado João Mendes da Silva. E nunca mais voltou a colônia. A esposa do advogado, a mãe de Antônio José, não podia afastar-se de sob a vigilância dos Inquisidores, tendo sido várias vezes acusada de judaísmo.

“O pequeno Antônio José começou em Lisboa sua educação, enquanto a mãe sofria os tratos do Santo Ofício por cristã nova”. – Afinal a pobre foi solta; mas é muito provável que o ferrete de judaísmo, com que se estreavam na Corte, limitasse o círculo de suas relações aos de sua igualdade. E o jovem Antônio José, ainda que batizado na Sé do Rio de Janeiro, vendo-se agora só rodeado de cristãos novos perseguidos, e de judeus, foi-se imbuindo das doutrinas destes, até que as professou.
“Foi a Coimbra estudar Cânones, e nem por isso mudou de crenças. Em 1726 estava de volta em Lisboa: e já advogava com seu pai quando aos 8 de Agosto foi agarrado para os cárceres da Inquisição. Tinha então 21 anos de idade, e o susto que lhe souberam incutir, e o modo como puseram em contribuição seu gênio dócil, fizeram que ele não só se descobrisse aos Inquisidores culpado, como delatasse alguns cumplices. No exame de Doutrina que lhe fizeram errou alguns pontos. Sendo, porém a final, posto a cruéis tratos de polé sem nada mais revelar, propôs-se a fazer decidida abjuração; e aceita esta foi solto no auto público do mês de Outubro. No sofrimento dos tratos, que puseram o padecente na impossibilidade de assinar o seu nome, os Inquisidores tomaram nota de que o abjurando gritava por Deus, e não pela Virgem ou santo algum!”
Esta conjuntura da sua vida merece ser tratada com maior individuação.
A história, com as circunstancias da prisão de Antônio José é a seguinte. Um dia três familiares de Santo Ofício intimam o poeta a comparecer perante o Tribunal.
Filho de família suspeita de heresia judaica era natural que todos os seus passos fossem vigiados.          
(continua)  

     



                                        OSMAR ESPECTADOR



Coleção de Programas de Teatro das décadas de 40 e 50