quarta-feira, 2 de abril de 2014

OSMAR 90 ANOS



OSMAR 90 ANOS

No dia 2 de Abril de 2014, Osmar faria 90 anos, se estivesse entre nós. Preferimos “comemorar” seu aniversário de vida, afinal sua memória está viva em todos nós, nesse blog e em todos os pequenos passos que o Instituto dá. Lembrar é trazer da memória algum fato, alguma pessoa, lembrar é comemorar, é reviver.
É sempre disso que tratamos aqui, da memória viva, tão árdua tarefa em nosso país. Com o milagre da Internet o mundo inteiro tem acesso ao longo caminho que percorremos para trazer a vida teatral de Osmar. A primeira etapa desse blog foi cumprida.
Até que consigamos realizar nosso sonho, de colocar as obras raras on line e ter uma sede própria para que possamos colocar todo acervo disponível, estamos aqui em busca de recursos. Numa espera ativa teremos novidades em nosso blog, na aparência e no conteúdo. Nosso modesto presente Osmar Rodrigues Cruz.

Eugenia Rodrigues Cruz 

terça-feira, 1 de abril de 2014

OS AMANTES DE VIORNE

TRECHOS CRÍTICA – FOLHA DE SÃO PAULO – POR FAUSTO FUSER – 27/05/1972
Os amantes obrigatórios
OS AMANTES DE VIORNE é um espetáculo apoiado unicamente na interpretação individual dos atores. Esse depoimento de um passado vivo deve passar ao público pelo estímulo do questionante, nosso representante no drama de um assassinato.
Livrando-se da prima surda-muda, a mulher livra-se de tudo o que a oprimiu durante toda a sua vida de casada e está satisfeita porque agora a casa está abandonada, suja e breve o mato tomará conta do jardim onde passou, sentada, inativa, mais de vinte anos.
Seu marido é pessoa desconhecida para ela, perdida que está na perseguição de fantasmas imaginários e transferindo o melhor de sua existência ao homem que poderia ser seu segundo grande amor: um vagabundo, homem inteiramente livre, de certa forma parecido com aquele que amara loucamente e por quem tentara o suicídio. O marido, feitas as contas, jamais chegou a entrar em sua vida.
Pequeno-burguês em busca de seu pequeno conforto, ele por sua vez, jamais sequer tentou conhecer a esposa. O interesse sexual do início do matrimônio transferiu-se para encontros fortuitos com prostitutas, mas a lembrança do grande amor que sua mulher tivera por outro ainda o perturba.
Não há qualquer busca policial no espetáculo: quando ele se inicia, a mulher já está presa e já confessou o crime. Aliás, foi ela mesma que, muito simplesmente, se denunciou, apesar de estar ainda fora de suspeita. Ela não declara poucas coisas: porque matou e onde é que depositou a cabeça do cadáver. O corpo da gorda e saudável surda-muda fora cortado em pequenos pedaços e distribuído em muitos trens que seguiam para regiões e países diferentes. Para completar a reconstituição falta apenas a cabeça, mas onde está a cabeça a criminosa insiste em ocultar.
É a única maneira de despertar o interesse por seu passado, por seus pensamentos. Se ela contar onde está a cabeça, ninguém mais a ouvirá.
Um homem sentado à nossa frente conta durante todo o primeiro ato, sua vida, declara suas ambições, confessa seus erros. No segundo ato é a mulher que ocupa a mesma cadeira. Nenhum deles sequer tenta se levantar e é por isso que, no final da peça, quando a mulher vem apressada até a frente do palco para chamar o interrogador, muita força intencional fica registrada no espectador e se esboça uma solução para o mistério. Mas as luzes já estão se apagando.
Osmar Rodrigues Cruz trabalhou seus atores dentro de perspectivas psicológicas e nesse sentido seu resultado é surpreendente.

(...) OS AMANTES DE VIORNE, pelo desempenho perfeito de dois atores de altíssimo nível e uma direção inteligente, por um texto apaixonante, é espetáculo obrigatório, embora não faça nenhuma concessão para agradar através de atalhos das facilidades conhecidas. 
(in Osmar Rodrigues Cruz - Uma vida no teatro. Hucitec 2001)

Sérgio Viotti, Nathalia Timberg e Geraldo Del Rey. Fotógrafo anônimo.


Quando as máquinas param de Plínio Marcos
REFERÊNCIAS SOBRE A PEÇA: Reportagem de Itamar Cunha
(...) Sua problemática gira em torno de um casal onde o marido desempregado não encontra trabalho. A falta de dinheiro, o futebol e as novelas fazem com que o casal vá vivendo, ou melhor, sobrevivendo em total alienação diante dos fatos que o tornou assim. Envolvidos pelo sistema, os dois são vítimas sem alcançar a noção do verdadeiro motivo que cerca toda a realidade concreta onde estão colocados. Nesse círculo surgem outros problemas que fazem com que os personagens se conscientizem do todo social em que vivem, e a peça, que até então não passava de uma comédia, traz em seu final o gosto amargo de uma denúncia.(...)
(in Osmar Rodrigues Cruz - Uma vida no teatro. Hucitec 2001)