domingo, 17 de junho de 2012

"As Mulheres não querem Almas" - 1950















REFERÊNCIAS SOBRE A PEÇA “AS MULHERES NÃO QUEREM ALMAS” - 1950
Temporada no Teatro Municipal
Foi para nós um prazer quando as possibilidades financeiras do nosso “Teatro Universitário” nos permitiram encenar uma peça de Paulo Gonçalves, o autor que, para nós, é  um dos maiores dramaturgos do Brasil. Em todo o seu teatro a poesia é o que predomina, e, sem nunca ter feito teatro burguês, ou melhor de ambiente burguês, Paulo Gonçalves moldou sua obra dramática  com um cunho de poesia romântica. Se para sua época ele foi um vanguardista, sua obra hoje não envelheceu, pois os seus personagens, não são pessoas ou tipos de uma época, mas sim, símbolos do sentimento humano. E não é esse o verdadeiro teatro? Sem dúvida. Todo autor dramático que explorar o sentimento do homem e não os seus atos burgueses, tais como os seus vícios, costumes e hábitos é um escritor que não morrerá. E assim é Paulo Gonçalves.
Talvez essa peça que dirigimos não seja a melhor do seu repertório, pois “Núpcias de D. João Tenório” e “Comédia do Coração” têm mais valor literário e mesmo dramático. Entretanto, “As mulheres não querem almas” é a mais romântica, adaptando-se mais ao estilo dos moços e, devido ao seu enredo pode ser mais compreendida pelas nossas platéias. Isso não quer dizer que essa peça seja inferior às outras. Todo o teatro de Paulo Gonçalves é belo e de grande valor; cada uma de suas peças abrange uma faceta diferente da vida emocional, e “As mulheres  não querem almas” é uma delas.
Não iremos justificar a encenação, porque a fizemos baseados exclusivamente no texto, sem lhe cortar uma fala ou rubrica. Era nossa intenção dar a peça um ambiente de fantasia, tanto nos cenários como no estilo de representação, porém teríamos com isso um trabalho muito mais longo, pois todos os atores teriam que estudar uma mímica exclusiva para a peça, com uma movimentação quase de “ballet”. Achamos melhor, ainda uma vez, ouvir Paulo Gonçalves, “mesclando” a representação, onde “a fantasia se mistura à realidade, não se sabendo onde principia uma e onde termina a outra”. Por isso é que em certos momentos a representação é realista e, em outros trechos, predominam a fantasia e a estilização.
Não será essa a verdadeira fórmula da obra dramática de Paulo Gonçalves? Fantasia e realidade?
Os cenários e as músicas serão os dois elementos que irão caracterizar a época, isto é, um carnaval carioca de muitos anos atrás, onde o amor, a ambição, a velhacaria, enfim, a volúpia de todos os personagens estão colocados num baile de terça-feira carnavalesca.
Diz o prólogo que a peça foi “um sonho que o autor sonhou num carnaval carioca”, e de fato no texto ele soube fixar esse sonho, não no que ele tem de material e vulgar, mas no que ele possui de humano, de sentimento e de poesia. A idéia principal de Paulo Gonçalves é evidenciar a inconstância feminina, resolve a intriga da melhor maneira: escolhe a última noite de carnaval e coloca três tipos femininos, de temperamento diferente, amados por um boneco sentimental que as deseja uma após outra; ao mesmo tempo que cada uma delas deseja outros homens. Mas, ao demonstrar essa inconstância, ele se perde completamente no personagem mascarado que é uma interrogação constante. E todo aquele amor que Paulo Gonçalves sentia pelas mulheres que amou saiu nas frases desse personagem.
Achamos que além da ideia central estabelecida pelo autor há o amor incompreendido, o amor sincero e outro, que não consegue seu intento e vê frustadas todas as tentativas para obter o amor velhaco e interesseiro, e é justamente nesses trechos que a realidade poética toma conta do texto.
Já nas cenas em que o velhaco e interesseiro predomina, aparece em grande evidência o grotesco. Disso resulta o ambiente de fantasia e realidade impregnadas na peça: Sonho e vida real. Para isso usamos luzes e cores, músicas e um ambiente amplo, onde cada cor tem sua função e cada música é uma recordação de carnavais que já se foram.
Muita coisa poderíamos ainda explicar, mas o melhor é ver o espetáculo. Ele dirá o que pretendemos, pelo menos é a nossa intenção .
Assim, desde o prólogo até o último foco de luz. Há um objetivo na peça: Interpretar Paulo Gonçalves e com isso prestar-lhe uma simples, mas sincera homenagem. (ORC)