sábado, 7 de janeiro de 2012

UMA VIDA, UMA OBRA: TEATRO POPULAR


                                                                     Clovis Garcia


          Se alguém fixou um objetivo para sua vida e conseguiu realizá-lo, esse alguém foi Osmar Rodrigues Cruz. E esse objetivo foi tornar realidade um teatro popular, e o resultado foi o Teatro Popular do SESI, com seus mais de quarenta anos de existência  dos quais mais de trinta sob a direção firme de Osmar.
          A expressão teatro popular sofre muitas interpretações. As mais habituais são: 1 – um teatro de baixo preço, tornado acessível à população de baixa renda. As campanhas de popularização do Teatro, oficiais ou oficiosas, seguem essa linha; 2 – um teatro que permita a todas as faixas da população acesso ao patrimônio cultural da humanidade, quer dizer, no caso do Teatro, o oferecimento das grandes obras teatrais ao povo; 3 – um teatro com uma dramaturgia comprometida com doutrinas sociais, com o grave problema de que, na maioria dos casos, a qualidade artística fica prejudicada pela dominância panfletária: 4 – finalmente, teatro popular seria o que o povo faz, os folguedos e autos populares.
          Osmar Rodrigues Cruz se apoiou nos dois primeiros significados, levando-os ao extremo: em lugar de baixo preço das entradas, adotou preço nenhum. Durante sua gestão, o Teatro Popular do SESI foi sempre gratuito, apesar de algumas objeções. O resultado foi que em quarenta anos, o Teatro Popular do SESI foi visto por quase sete milhões de pessoas, possivelmente um número recorde no Brasil, obtido por qualquer companhia estável. De acordo com pesquisa feita, dos freqüentadores dos espetáculos do SESI, 72% eram operários, e ainda, 17%  estudantes e 3%  funcionários públicos, isto é, o TPS atingiu realmente o povo, graças a firmeza do objetivo e a um perfeito serviço de distribuição de entradas E quanto à qualidade, durante a gestão de Osmar, o repertório foi de alto nível artístico, seja composto pela dramaturgia nacional, seja pelos textos de grandes autores universais. Assim, foram oferecidas ao povo, na área do teatro brasileiro, peças de dramaturgos clássicos, como, entre outros, Martins Penna, Joaquim Manuel de Macedo, Oduvaldo Vianna, Gastão Tojeiro, França Junior, grandes autores literários e eventualmente dramaturgos, como Machado de Assis, José de Alencar, Gonçalves Dias, até aos mais importantes teatrólogos modernos, como Plínio Marcos, Nelson Rodrigues, Luiz Alberto Abreu, Maria Adelaide Amaral, e outros mais. Quanto ao teatro universal, os maiores nomes aparecem no repertório do TPS, como Shakespeare, Molière, Schiller,  Marivaux, Goldoni, Garcia Lorca, para citar alguns clássicos sem prejuízo de dramaturgos modernos, como Clifford  Odets.
          Assim, durante a gestão de Osmar Rodrigues Cruz, iniciada em 1959, quando ainda o teatro do SESI era amador como Teatro Experimental, passando a profissional em 1963, agora como Teatro Popular do SESI, até 1992 ocasião em que a entidade resolveu reformular suas atividades teatrais, afastando Osmar por razões até hoje não muito claras,
o TPS, com suas 30 encenações pelo elenco principal e 13 pelo elenco itinerante realizou uma obra monumental. Em qualquer país civilizado, o autor dessa extraordinária façanha, dedicando uma vida à realização de uma obra extraordinária, estaria com seu nome inscrito no panteon nacional.
INSTITUTO OSMAR RODRIGUES CRUZ
Estamos empreendendo a difícil tarefa de dar continuidade à criação do Instituto Osmar Rodrigues Cruz, que foi o criador e diretor durante 40 anos do Teatro Popular do Sesi (TPS) na cidade de São Paulo. O Instituto possui a biblioteca de Osmar Rodrigues Cruz com mais de 15.000 volumes sobre teatro nacional e internacional.

O Instituto Osmar Rodrigues foi criado em 2009 graças ao incentivo que recebemos de Dante Lui Jr. da CRESCER e Eduardo Voigt da PRIMA, que ao conhecerem a biblioteca, deram o primeiro passo à realidade DOANDO O SISTEMA SOPHIA DE INDEXAÇÃO para que tudo possa acontecer.
Enquanto aguardamos o início da tarefa de indexação da biblioteca e sua posterior publicação na Internet como biblioteca virtual, temos procurado recursos, parcerias e doações para tanto.

O trabalho teatral de criação do TPS, bem como de toda a trajetória de Osmar Rodrigues Cruz, foi registrado no livro Osmar Rodrigues Cruz – Uma Vida no Teatro pela Editora Hucitec (2002) e que recebeu a Bolsa Vitae de Artes em 1999. Em 2005 foi escolhido como um dos livros brasileiros a fazer parte da Biblioteca do Congresso Americano que têm o maior acervo on-line do mundo.

Nesse momento o Instituto Osmar Rodrigues Cruz cumpre a missão de acolher, abrigar e proteger tanto a biblioteca como o acervo pessoal de Osmar Rodrigues Cruz. Esse Blog é um meio de divulgar textos inéditos, bem como trazer viva a obra e a memória de Osmar Rodrigues Cruz.     

OSMAR RODRIGUES CRUZ

65 ANOS DE TEATRO

1945 - Enquanto estuda na Faculdade de Ciências Econômicas de São Paulo, Osmar Rodrigues Cruz organiza e inaugura o Teatro Universitário do Centro Acadêmico Horácio Berlinck, dirigindo Adeus Mocidade de Sandro Camasio e Nino Oxila que estréia a 15 de Outubro daquele ano. Ali, dirige também outros espetáculos, entre eles, Feitiço de Oduvaldo Vianna, As Mulheres Não Querem Almas de Paulo Gonçalves, Os Espectros de Ibsen. Nesse mesmo período, cursa, durante dois anos, o Conservatório Dramático e Musical e dirige outra montagem para o Teatro do Grêmio Politécnico: Nossa Cidade de Thorton Wilder.
Quando termina o Curso de Economia já se encontra totalmente dedicado ao teatro. Inaugura o Grande Teatro Tupi (Canal 3), às segundas-feiras, e entre as diversas peças ali montadas, destaca-se O Imbecil de Pirandello, Uma Tragédia Florentina de Oscar Wilde, Uma Porta Deve Estar Aberta ou Fechada de Musset e Sganarello de Molière. Alguns anos depois, Osmar Rodrigues Cruz voltava a dirigir teatro na extinta Televisão Excelsior, onde monta A Pequena da Província e O menino de Ouro ambas de Clifford Odets e a novela Sozinho no Mundo de Tatiana Belink.
Contratado pela Caixa Econômica dirige então vários espetáculos, sendo os mais importantes: O Badejo de Arthur Azevedo e As Guerras do Alecrim e Manjerona de Antonio José da Silva. Com essa última participou do festival de teatro dentro dos festejos do IV Centenário de São Paulo (1954) recebendo o Prêmio “Arlequim” de Melhor Diretor.
Há exatamente 55 anos, ele ingressaria como diretor dos grupos amadores que o SESI mantinha, em condições difíceis para o desenvolvimento de um trabalho. Eram grupos compostos por elementos que trabalhavam em indústrias - alguns sem preparo necessário, outros presos a problemas os mais diversos - que de qualquer forma impediam, na última hora, uma participação efetiva em ensaios e até nos próprios espetáculos. Entretanto, Osmar Rodrigues Cruz não desanimou. Continuou dedicando todos os seus esforços para a criação de um teatro estruturado, fundamentado em bons textos com elencos profissionais de nível elevado e não mais presos à condição de serem da indústria, mas sim de realizar espetáculos para industriários. Em 1958 ministrou aulas de interpretação no Curso de Atores para Cinema do Museu de Arte Moderna de S. Paulo.  Em 1959 cria o Teatro Experimental do SESI estreando no Teatro João Caetano com A Torre em Concurso de Joaquim Manoel de Macedo. Seguiram-se: O Fazedor de Chuva de Richard Nash em 1960, A Pequena da Província de Clifford Odets em 1960 e A Beata Maria do Egito de Rachel de Queiroz em 1961.
Em 1962 dirige Loucuras de Verão de Richard Nash para o Teatro de Comédia de São Paulo e no ano seguinte Osmar elabora um plano completo que inclui  desde o funcionamento do grupo até a divulgação dos espetáculos junto às indústrias.
O plano foi aprovado  e  acontece a profissionalização do grupo de teatro do SESI que passa a se chamar TEATRO POPULAR DO SESI. Osmar dirigiu muitas peças, várias delas de grande sucesso de público e de crítica:
·      CIDADE ASSASSINADA de Antônio Callado - 1963
·      NOITES BRANCAS de  Dostoievski - 1964
·      CAPRICHOS DO AMOR E DO ACASO de Marivaux – 1964 Prêmio APCT “Honra” pelo trabalhado realizado a frente do TPS
·      A SAPATEIRA PRODIGIOSA de Garcia Lorca - 1965
·      O  AVARENTO de Molière - 1966
·      MANHÃS DE SOL de Oduvaldo Vianna - 1966
·      O MILAGRE DE ANNIE SULLIVAN de Willian Gibson - 1967 - montagem que recebeu todos os prêmios do ano de 1969: Associação Paulista de Críticos Teatrais, Governador do Estado e Molière
·      INTRIGA E AMOR de Schiller - 1969
·      O MILAGRE DE ANNIE SULLIVAN de Willian Gibson, criando o Grupo Itinerante - 1969
·      MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILICIAS de Manoel A. de Almeida -1970
·      NOITES BRANCAS de Dostoievski - Grupo Itinerante – remotagem - 1970
·      SENHORA de José de Alencar (adaptação de Sérgio Viotti) - 1971
·      CAPRICHOS DO AMOR E DO ACASO de Marivaux - Grupo Itinerante - 1971
·      UM GRITO DE LIBERDADE de Sérgio Viotti - 1972
·      O PRIMO DA CALIFÓRNIA de Joaquim M. de Macedo - Grupo Itinerante - 1972
·      CAIU O MINISTERIO de França Júnior - 1973 - Prêmio Molière de Direção
·      O MÉDICO À FORÇA de Molière - Grupo Itinerante - 1973
·      LEONOR DE MENDONÇA de Gonçalves Dias - 1974
·      O BARÃO DA COTIA de França Júnior - Grupo Itinerante - 1974
·      A MOSQUETA de Angelo Beolco - Grupo Itinerante - 1975
·      O NOVIÇO de Martins Pena - 1976
·      GUERRAS DO ALECRIM E MANJERONA de Antônio José da Silva - Grupo Itinerante - 1976  
·      O POETA DA VILA E SEUS AMORES de Plínio Marcos, peça escrita especialmente para o TPS - Prêmio Molière de melhor Diretor e melhor ator para o protagonista pela APCA - 1977
·      TROCAS E TRAPAÇAS de Américo de Azevedo – Grupo Itinerante - 1978
·      A FALECIDA de Nelson Rodrigues - presença do autor ao espetáculo de estréia que considerou a montagem do TPS uma das melhores de seu texto - 1979
·      MADALENA SEDUZIDA E ABANDONADA de Ronaldo Ciambroni - Grupo Itinerante -1981
·      O SANTO MILAGROSO de Lauro Cesar Muniz - 1981
·      COITADO DO ISIDORO de Sebastião Almeida - Grupo Itinerante - 1983
·      CHIQUINHA GONZAGA, Ó ABRE ALAS, escrita especialmente para o Teatro Popular do SESI por Maria Adelaide Amaral - Comemoração dos 20 anos do TPS - 1983
·      SENHORA de José de Alencar, remontagem com adaptação de Sérgio Viotti para o Grupo Itinerante do TPS, que se apresenta no Interior do Estado e em bairros da periferia - 1984
·      O REI DO RISO escrita especialmente para o TPS por Luiz Carlos de Abreu, texto sobre Francisco Correia Vasques, o ator que da metade até o fim do século XIX , foi o primeiro astro popular do Brasil - 1985
·      MUITO BARULHO POR NADA de Willian Shakespeare. Texto inédito no Brasil, de autoria de um gênio da literatura mundial, com tradução de José Rubens Siqueira - 1986
·      FEITIÇO de Oduvaldo Vianna - 1987
·      O CASO DA CASA de José Rubens Siqueira, adaptação de contos de Machado de Assis - 1988
·      ONDE CANTA O SABIÁ de Gastão Tojeiro, Comemoração dos 25 anos do TPS - 1988
·      CONFUSÃO NA CIDADE de Carlo Goldoni, tradução de José Rubens Siqueira, permaneceu em cartaz, com absoluto sucesso de público de 1989 até 1991.
·      O TIPO BRASILEIRO de França Júnior - Grupo Itinerante – 1992
·      A ÁRVORE QUE ANDAVA – infantil de Oscar Von Pfuhl
·      A partir do dia 06 de abril de 1992, a sala de espetáculos do Teatro Popular do SESI passou a denominar-se “SALA OSMAR RODRIGUES CRUZ
Osmar Rodrigues Cruz cria em torno do Teatro Popular do SESI uma máquina de divulgação não somente através da promoção dos espetáculos junto à imprensa falada e escrita, como também através da distribuição dos convites gratuitos nas empresas trazendo o público operário das indústrias para o teatro. Amplia as atribuições do teatro criando uma Galeria de Arte, Concertos Semanais de Música Erudita e Popular, Curso de Teatro e nos conjuntos educacionais do SESI, Palestras e Núcleos de Artes Cênicas para crianças e adolescentes. 
Paralelamente às atividades como organizador e diretor do Teatro Popular do SESI desenvolve atividades como tradutor, sendo associado da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT) desde 1950. Foram publicadas através da Livraria Teixeira: Um Pedido de Casamento de Checov, A gramática e Os Dois Tímidos de Labiche. Osmar Rodrigues Cruz é também autor de um dos primeiros livros sobre técnica teatral editado no Brasil O teatro e sua técnica -1960.
No início de 1968, numa produção de Joe Kantor, dirigiu no Teatro Aliança Francesa, Dois na Gangorra de Willian Gibson com ótimas críticas e excelente acolhida do público os atores receberam o prêmio Molière de interpretação. Ainda em novembro desse mesmo ano, no Teatro Itália, junto ao Grupo União, dirigiu uma nova adaptação de Noites Brancas.
Em 1968 dirigiu no Teatro Anchieta A Moreninha adaptação musical de Cláudio  Petraglia e Miroel Silveira do famoso romance de Joaquim Manoel de Macedo, produção independente de Cláudio Petraglia.
Em 1970 dirigiu dois espetáculos de música e poesia no Teatro Anchieta intitulados Música e poesia no Brasil e Modinhas Brasileiras produções de Inezita Barroso. Nesse mesmo ano lecionou História do Teatro Brasileiro no Curso de Teatro da Fundação Armando Álvares Penteado. Em 1971 dirigiu a comédia Putz de Murray Schisgal, produção de John Herbert no Teatro Aliança Francesa. Em maio do mesmo ano dirige outra comédia Hans Staden no país da antropofagia, uma superprodução musical, texto de Francisco Pereira da Silva, produção de Laerte Morrone, no Teatro São Pedro.
Em 1972 dirige a comédia É hoje de Lawrence Holofcener, produção independente no Teatro Aliança Francesa. No mesmo teatro dirige Os amantes de Viorne de Marguerite Duras, produção de Elizabeth Ribeiro. Dirige ainda nesse ano Pequenos Assassinatos de Julles Pfeiffer, produção de John Herbert, no Teatro Oficina.
Em 1973 dirige uma produção de Sandro Polonio Jogo Duplo de Robert Thomaz, apresentada no Teatro Cacilda Becker.
No início de 1975 faz viagem de estudos à Europa, resultado do prêmio Molière que recebeu em 1973 por seu trabalho de popularização do teatro à frente do Teatro Popular do SESI, que naquele ano completou 10 anos de atividades.
Em 1976 dirigiu a remontagem de Putz de Murray Schigal no Rio de Janeiro no Teatro Maison de France.
Em 1979 dirigiu Quando as Máquinas Param de Plínio Marcos - produção de Luiz Gustavo.

Através da Bolsa Vitae de Artes em 1998, Osmar escreve, em co-autoria com Eugênia Rodrigues Cruz, sua biografia teatral Osmar Rodrigues Cruz –  Uma Vida no Teatro editado pela Editora Hucitec em 2001. 

Em 2005 é homenageado com a Exposição Memória do Teatro Paulista - Osmar Rodrigues Cruz na Galeria da Caixa Cultural da Paulista. Nesta ocasião o livro Osmar Rodrigues Cruz – Uma Vida no Teatro passa a pertencer ao acervo da Biblioteca do Congresso Americano, a maior em acervo disponível via internet. Os catálogos da Exposição também foram encaminhados para dez universidades americanas. 

Memória do Teatro Paulista - Leituras Dramáticas da Caixa do Conjunto Cultural da Sé realizada no primeiro semestre de 2006 utilizou-se do acervo de textos de Osmar Rodrigues Cruz.

Em 5 de Abril de 2007 Osmar Rodrigues Cruz falece.

PROJETO

INTRODUÇÃO


Osmar Rodrigues Cruz foi o criador e diretor do Teatro Popular do Sesi¹ -TPS – durante 40 anos. Essa instituição é singular na América Latina, única experiência vitoriosa para levar cultura, arte e educação a camadas menos favorecidas da sociedade e que não têm condições financeiras de ter acesso à produção do teatro comercial.

Por intermédio de seu teatro popular, o TPS, com ingressos gratuitos, produzia espetáculos teatrais com profissionais de renome e apresentava textos clássicos e modernos para um público, na sua maioria, constituído por operários², com casas lotadas todas as noites.

Enquanto instituição, o Sesi é mantido pela arrecadação da própria indústria paulista. E, desse modo, sujeito a enfrentar dificuldades devido às crises econômicas pelas quais o país passa. A continuidade de seu trabalho, do TPS, portanto, deveu-se sobretudo à habilidade de seu fundador que sempre se empenhou no sentido de manter a instituição fiel aos seus propósitos, mesmo tendo de administrar um orçamento limitado por verbas escassas.

O TPS foi formalmente criado em 1963, portanto, às vésperas do golpe que deu início à Ditadura Militar no Brasil em 31 de março de 1964. Seu principal objetivo era expor à população cultura, arte e educação de uma forma prazerosa, tendo como meta atingir um público não constituído pelas elites, mas sim um público que nunca antes havia sido incentivado a ver o teatro como forma de cultura e participação em decorrência de uma política que promovia alienação.

O TPS teve de buscar meios para cumprir seus objetivos, a despeito dos interesses políticos que marcaram sua trajetória desde sua fundação, uma vez que a Ditadura Militar serviu-se dos mais variados métodos para sufocar qualquer tipo de participação política da população brasileira, valendo-se, inclusive, da oficialização da censura enquanto um instrumento de repressão.

Apesar de todas as condições adversas à concretização de seus objetivos, o TPS buscou conscientizar os brasileiros da sua grandeza, expondo-os à realidade nacional, por intermédio da apresentação de autores nacionais, dos clássicos aos modernos, procurando incessantemente fazer do panorama da dramaturgia um lugar de reflexão da realidade nacional, ainda que tendo de criar meios para evitar a perseguição explícita de uma política de repressão, o que, seguramente, acabaria impedindo a continuidade do seu trabalho.

Mesmo antes da fundação do TPS, seu fundador e diretor, enquanto diretor de teatro amador, sempre teve a preocupação de oferecer um trabalho de maior qualidade ao público e buscou se inteirar da literatura relativa a essa área, movido por sua curiosidade intelectual e científica e por seu espírito investigativo. Infelizmente, essa busca enfrentou uma escassez muito grande de material dessa natureza no Brasil, levando-o a recorrer à bibliografia estrangeira.

Ao longo de 50 anos, Osmar Rodrigues Cruz reuniu um acervo raro que conta com mais de 20 mil exemplares (livros datados dos séculos XVII, XVIII e XIX, manuscritos, coleções numeradas, peças, revistas, etc.).

Afastado da direção do TPS e aposentado por motivos políticos em 1990, seu diretor fundador viu que os objetivos da instituição que criou e dirigiu por 40 anos deixaram de ser uma prioridade para esse tipo de teatro.

Produzindo, hoje, um trabalho muito mais centrado na promoção da própria indústria e preocupado em ocupar um espaço na mídia, o TPS atende mais aos interesses de uma camada da população constituída pela classe média, desviando-se, portanto, do objetivo primeiro que norteou sua própria criação.

A trabalho teatral de criação do TPS, como de toda a trajetória de Osmar Rodrigues Cruz, foi registrado no livro Osmar Rodrigues Cruz – Uma Vida no Teatro pela Editora Hucitec e que recebeu a Bolsa Vitae de Artes em 1999.



MISSÃO

Possuindo uma biblioteca particular formada por um acervo de grande valor que ele não adquiriu com o intuito de ser um mero colecionador, tampouco de comercializar esse material, mas sim, movido unicamente por sua curiosidade intelectual, Osmar Rodrigues Cruz procurou dividi-la, na medida do possível, com outras pessoas, movidas pela mesma curiosidade, permitindo consultas para a realização de trabalhos de pesquisa, tais como dissertações e teses.

Apesar de ver com grande dificuldade a possibilidade de mantê-la, ele jamais pensou na possibilidade de vendê-la, ainda que tenha recebido propostas para isso, pois se o fizesse acabaria por consentir que seu acervo ficasse nas mãos de um grupo restrito. A possibilidade de doá-la para uma universidade, considerando que nenhuma instituição de ensino e pesquisa tenha um acervo de valor igual, teve de ser descartada porque, infelizmente, as universidades não possuem a necessária infra-estrutura para manter um acervo dessa grandiosidade, constituído de obras antigas que não podem ser submetidas à consulta por manuseio, porque isso as condenaria a um fim.

Esse projeto, portanto, tem como objetivo organizar uma biblioteca virtual que, na realidade, terá condições de preservar este acervo para as futuras gerações e, ao mesmo tempo, colocá-lo à disposição de um público maior de pesquisadores tão inquietos quanto Osmar Rodrigues Cruz.

Essa biblioteca atingiria a um público ainda mais heterogêneo pelo fato de poder ser acessada via Internet. A repercussão dessa biblioteca, na difusão do conhecimento, permitiria a continuidade do trabalho que teve início com o TPS, porque, através da Internet, as escolas públicas poderiam expor alunos das classes menos favorecidas à arte e à cultura, permitindo-lhes pensar o teatro como um lugar de participação e não de mero lazer.

Há que se considerar ainda a necessidade de promover esse conhecimento específico junto aos educadores e aos profissionais de áreas que tangenciam com esse tipo de arte, formando profissionais mais críticos e de formação mais sólida, sobretudo em um país como o Brasil.

É fundamental que se considere que desde a sua própria colonização, o Brasil sempre sofreu as conseqüências de uma política que resiste a formar um povo mais consciente de seus deveres e direitos de cidadãos, de seus valores culturais, crítico dentro da sua própria realidade, porque o perfil de um povo não informado sempre foi favorável à manutenção de governos autoritários e à perpetuação de uma política centrada em interesses de elites.



JUSTIFICATIVA

O sistema de educação no Brasil, que vem se democratizando, ainda é muito carente de um ensino mais investigativo, mais pautado na reflexão, voltado para a formação de uma postura crítica. A ausência de reconhecimento mais expressivo, na forma de remuneração de seus professores, acaba não incentivando e até desestimulando o educador a buscar aperfeiçoamento e conhecimento em cursos de pós-graduação, que na verdade são freqüentados por um número muito baixo de pessoas que formam o pico da pirâmide, que tem uma grande base.

Um país onde se tem 40% de analfabetos, 70% de ANALFABETOS FUNCIONAIS e cujo ensino fundamental prima por uma linha de não reprovação é formado por um público carente de conhecimento que não desenvolve sua capacidade interpretativa e crítica. E quando conseguem, têm de limitar-se às instituições particulares, porque as públicas, onde o ensino é de maior valor, acabam se tornando um monopólio das classes mais elitizadas, cujos filhos têm acesso a um ensino de melhor qualidade em escolas particulares. A faculdade acaba tendo de dar conta de resolver as questões adiadas pelos ensino fundamental e médio para nivelar o conhecimento do aluno.

Profissionais com uma formação restrita e muito pouco eclética não buscam o teatro como um lugar de arte e cultura – de formação de consciência – mas sim de lazer.

Uma biblioteca dessa natureza que iria ao encontro daqueles que necessitem de uma melhor formação mudará esse perfil, a médio e longo prazo. O Projeto Educacional inicial visa colocar à disposição de escolas em geral e de Escolas Públicas do Estado e Município em particular, além das universidades e escolas técnicas, uma enorme fonte de conhecimento de qualidade inclusive atraente, porque o teatro sempre desperta um gosto especial. A médio e longo prazo favorecerá as escolas permitindo-lhes conhecer o funcionamento do teatro, favorecendo a criação de grupos de teatro e, finalmente, permitindo que o teatro seja um lugar de aprendizado da própria língua e do conhecimento do potencial de expressão de cada um, criando um intercâmbio com os próprios estudantes de Artes Cênicas para que sejam despertados para o valor do teatro popular como formador de consciências mais críticas, tomando-o como um meio e não simplesmente como um fim.



PROJETO EDUCACIONAL 
Quando tanto se fala na diversidade de linguagens, atualmente, predominantemente visuais, mais se torna necessária uma visada atenciosa ao texto escrito. Foi dele que tudo se originou, todo progresso, todas as linguagens, todas as expressões. A literatura proporcionou durante séculos que a percepção do mundo fosse aguçada pelo leitor reconhecendo-se no próprio texto por ele lido. A dialética existencial sempre se deu por meio dessa comunicação tão peculiar que é a literatura.
O texto teatral, a dramaturgia ou a literatura dramática também inclusas na literatura, é sempre preservado, mesmo que não visto, na leitura de peças, seja pelo “espectador-leitor” solitário, seja através das chamadas leituras dramáticas.
Portanto, o texto teatral jamais perderá sua importância e sua posição no teatro, mesmo que a figura do dramaturgo como contador de histórias e crítico social de seu tempo tenha sido questionada através dos anos. O texto no teatro ganha sua posição de peça teatral quando é falado, pois teatro se faz no palco, na ação.
Este projeto visa primordialmente destacar nossas raízes dramatúrgicas, tão esquecidas, como pretexto para o ensino multidisciplinar de nossos costumes, de nossa história, de nosso país. A pouca importância que se dá à comédia predominantemente na dramaturgia nacional, tomando-a quase sempre como gênero menor, faz com que sejam esquecidos nossos verdadeiros valores e nossa tendência maior para a arte de fazer rir. A criança e o adolescente tomarão em suas mãos seu próprio passado e somente assim poderão realizar seu presente.
O Instituto Osmar Rodrigues Cruz, por meio de sua Biblioteca fornecerá, paralelamente à indexação do acervo de teatro brasileiro:
1 - treinamento para professores de Português, Literatura, História do Brasil, Artes e outras disciplinas que sejam convenientes ao objetivo proposto;
2 - textos dos dramaturgos Martins Pena, que criou o teatro brasileiro e França Junior, ambos legítimos representantes do nosso teatro de costumes;
3 - acompanhamento das oficinas propostas aos alunos, bem como material sobre: história do teatro brasileiro e técnicas de teatro e montagem.
O teatro brasileiro nasceu de um educador, o Padre José de Anchieta e tem até hoje a função de promover a integração social e cultural, suscitar a criatividade e acima de tudo educar.
As escolas regulares de Primeiro e Segundo Graus, particulares ou públicas, ainda têm pouco interesse em inserir disciplinas que desenvolvam a arte, sejam elas teatro, música ou artes plásticas. Há uma grande dificuldade dos próprios professores em reconhecer a importância dessas disciplinas como fundamentais para o desenvolvimento da multidisciplinaridade e como complemento da interdisciplinaridade. Essa inserção propiciaria ao aluno um aprendizado e um desenvolvimento global mais eficaz, mostrando que ele está inserido no mundo em que vive, onde aplicará o que irá aprender. Além disso, compondo com outras disciplinas situações novas para o aluno, seria um fator de pesquisa e maior aprendizado.


O Projeto Educacional será executado pela Presidente do Instituto Eugenia Rodrigues Cruz, atriz do TPS durante 20 anos, Graduada em Filosofia (PUC-SP), Mestre e Doutor em Artes (USP), ministrou Oficinas de Teatro durante 10 anos. Co-autora junto a Osmar Rodrigues Cruz da biografia dele.



¹ Serviço Social da Indústria
² O TPS distribuía ingressos aos operários nas próprias fábricas
MEMBROS DO CONSELHO

PRESIDENTE – Profa. Dra. M. Eugenia de A. Rodrigues Cruz
Vice- Presidente – Prof. Dr. Raimundo Matos de Leão
1º Secretário – Prof. Dr. Clovis Garcia
2º Secretário – Prof. Dr. Antonio Lopes Neto
3º Secretário - Fabiana Sacoman Magalhães
Tesoureiro - Valdemir Gonçalves da Silva
Assessoria Jurídica – Dra. Daniella Maglio Löw


Presidente - Eugenia Rodrigues Cruz é Bacharel em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Mestre em Artes (Artes Cênicas) - Escola de Comunicações e Artes – USP e Doutora em Artes ECA/USP. Trabalhou como atriz durante 20 anos no Teatro Popular do Sesi e é co-autora na biografia de Osmar Rodrigues Cruz.

Vice- Presidente - Raimundo Matos de Leão ver seu Blog – www.cenadiaria.blogspot.com

1º Secretário – Clovis Garcia é Professor Emérito da Universidade de São Paulo, Cenógrafo renomado e Crítico Teatral.

2º Secretário – Antonio Lopes Neto é Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Alagoas.

3º Secretário - Fabiana Sacoman Magalhães ver seu Site – www.wix.com/fabimagalhaes/home

Tesoureiro - Valdemir Gonçalves da Silva é Sonoplasta, Técnico de Som, Operador de Som, Iluminador e Fotógrafo.