segunda-feira, 23 de julho de 2018



           
         TEATRO NACIONAL POPULAR BRASILEIRO



COM AS BENÇÃOS DE PADRE ANCHIETA COMEÇA O TEATRO NO BRASIL!

Eis que depois de aportarem no Brasil, os portugueses tinham que fincar sua posse. Não foi como a ida do homem à Lua onde foi fincada a bandeira americana, ridículo, porque a Lua é de todos nós, brilha sempre igual para todos os habitantes da Terra! Então, ao invés de os portugueses fincarem uma bandeira construíram um pequeno altar para a primeira missa no Brasil. Rodeados por índios nus muito curiosos e intrigados ainda sem saber bem o que aquele povo estava fazendo ali. Muito bem, após, terminada a missa, o padre batiza aquelas terras de “Terras de Vera Cruz”. Só faltou dizer Colônia de Portugal conquistada pelos portugueses e para os portugueses.

A expedição retorna à Portugal cheia de orgulho pela conquista e relata a presença dos indígenas, povo dócil, pacífico e passivo, mas completamente incivilizado... Com esta constatação surge a ideia de uma aproximação maior a fim de darem o bote final – a conquista, não só das terras, mas deste povo. Em nenhum momento pensaram ou respeitaram a existência e o respeito a uma civilização diferente da sua e dona legítima daquelas terras. Não, o objetivo maior era "civilizá-los”, torna-los submissos, já que a pele era de outra cor, andavam nus, indícios semelhantes aos negros africanos. Sem respeito algum ao diferente, aos conhecedores de plantas que curavam animais que deveriam ser excluídos de sua caça e de sua pesca, começaram a articular maneiras de abordagem pacíficas com o objetivo maior de servirem aos portugueses. Porém, algumas tribos não se renderam facilmente, lutaram para preservar suas terras e suas crenças e hábitos, sua civilização. Acredito que para os portugueses a maior ameaça, a maior afronta era o modo de vida dos indígenas que representava a total liberdade de que desfrutavam, nus de corpo e alma convivendo com a natureza plenamente.

Em 1553 vem ao Brasil uma expedição portuguesa trazendo à bordo um jovem jesuíta que havia cursado a Universidade de Coimbra em Portugal e que fora recrutado a viajar nesta vinda ao Brasil. Aporta na Bahia e logo observa os índios com sua dança e rituais. Já se havia viajado boa parte do país desde a chegada em Salvador, tanto é que Anchieta chega a São Paulo de Piratininga e tem o primeiro contato próximo com os índios.

Como todo jesuíta, Anchieta adorava o teatro. Até hoje contam os padres que eles sempre se reuniam em récitas para a leitura de textos trágicos gregos, em grego! A tradição teatral do gosto pelo teatro na Companhia de Jesus vem de longe e na época de Anchieta eram apaixonados pelos Autos de Gil Vicente. Não nos esqueçamos de que estamos na Idade Média e o teatro era apresentado nas portas das igrejas e versavam sobre a história religiosa católica. O teatro era restrito no mundo europeu e a saída, como sempre ao teatro popular era a rua – o teatro de rua, o teatro ambulante.

Aqui se inicia um fato social da maior importância. A missão de Anchieta começa a clarear para ele, “produzir” um teatro que também, ou primordialmente, fosse uma forma de civilizar os indígenas para o modo de vida dos europeus. Obviamente, para servirem aos portugueses na conquista da terra, na posse das riquezas do Brasil. A exportação do pau-brasil já havia começado, era preciso mão de obra para tanto e muito mais.

Os Autos de Anchieta eram obras que misturavam costumes indígenas com a estrutura dos Autos de Gil Vicente. Infelizmente foi fracasso de público e de crítica, um desastre todo aquele esforço de um poeta tão empenhado na catequese destes índios que gostavam dele.
Porém, em 1561 Anchieta encena o Auto de Natal, certamente não com os indígenas. Torna-se Superior em São Vicente e em 1577 é nomeado Provincial dos Jesuítas no Brasil, um brasileiro apaixonado por estas terras, as Terras de Vera Cruz.
Entretanto nem tudo são flores no Brasil, mas tem muito assunto ainda sobre essa época. São os atores de uma tragédia.


Aos interessados sobre os autos de Anchieta, que são poucos devido a falta de documentos, existe a obra Teatro de Anchieta das Edições Loyola SP 1977 pelo P. Armando Cardoso S.J.
É do Padre Armando a conclusão: “A estrutura das peças de Anchieta, divididas em diversos atos, representados em locais vários, com composições líricas que se lhes ajuntam em récitas, cantos, danças e músicas, tem sido pouco salientada. Sem isso não se podem bem avaliar seus Autos, diferenciados de Gil Vicente por um cunho áudio visual bem próprio do Brasil quinhentista.”
                                           



                                            OSMAR ESPECTADOR



Coleção de Programas de Teatro das décadas de 40 e 50


















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