domingo, 3 de fevereiro de 2013

A PEQUENA DA PROVÍNCIA

Cenário em dois planos de Francisco Giaccheri












Referências sobre a peça
O Teatro Experimental do Sesi inicia sua terceira temporada. Cada vez nos convencemos mais de que o teatro, quando procuramos realizá-lo bem, encontra por parte do público uma boa acolhida. Disto já tivemos prova aqui, neste mesmo local, com o Fazedor de Chuva. A experiência bem-sucedida encorajou-nos a prosseguir na jornada. O TES foi criado para aqueles que não têm oportunidade de frequentar as nossas casas de espetáculo. A estes é que o Sesi se preocupa em dar, ao lado do seu vasto campo de assistência social, uma parte recreativa e artística, com o objetivo de integrar perfeitamente o trabalhador na sociedade, para que possa desfrutar de todas as suas vantagens. Um dos recursos utilizados é o Teatro. Promovemos perto de quarenta espetáculos de teatro por mês, com grupos dramáticos localizados em comunidades industriarias, realizando aí e nos teatros municipais nossas representações. Da necessidade de criar um grupo do mais alto nível artístico, representando peças inéditas com elenco escolhido, surgiu o TES, e assim se vem orientando. Este novo espetáculo compreende uma das melhores peças do teatro moderno e um de seus maiores autores. A Pequena da Província e Clifford Odets significam para nós um passo mais sério e difícil dentro da nossa empresa. Tanto peça como autor apresentam dificuldades para sua montagem e para aqueles que a assistem. O que hoje apresentamos é um texto sério, sobre problemas humanos e emocionais que nos afligem. Odets é um autor que estrutura seus personagens de maneira subjetiva. Não se pode deixar de notar claramente a influência de Tchekhov, exercida, aliás, sobre quase todos os autores contemporâneos. A Pequena da Província sofreu essa influência, pois nela Odets demonstra seu gosto em desenhar psicologicamente os fracassos e as frustrações dos incapazes de realizar seus sonhos, como é o caso do nosso infeliz Frank Elgin. É um drama de características realísticas e poéticas, é uma história humana, que nos interessa profundamente; apesar de sua “problemática” a ação desenvolve-se com naturalidade. A peça nos convence pelos altos dotes de Odets. Talvez poucos autores demonstraram conhecer minuciosamente o mundo dos pequenos e humildes como ele. Seus personagens têm vida própria na cena, que seu talento lhe dá, através de diálogos vigorosos, dramáticos e às vezes humorísticos. O humor de Odets, pouquíssimas vezes rebuscado ou fictício, surge naturalmente do personagem. Através do amor, da liberdade de expressão e da revolta, seus tipos se transformam – numa conversão, que se assemelha, por intensidade, ao sentimento religioso – o que os leva à completa realização de si mesmos. Este é o característico do movimento de renovação da década de 30, e explica toda a importância de Odets. Ele é um autor realista no sentido moderno, isto é, de um realismo poético; portanto suas cenas devem sugerir uma realidade para formação de um ambiente que determine o desenvolvimento e compreensão da ação da peça. Assim, a situação cenográfica se resume em determinar os momentos exteriores, para facilitar a expressão interior dos personagens. O espaço normal do palco não fornece requisitos para uma montagem de todas as cenas em conjunto, e um cenário sintético ou um cenário de apenas sugestão poderiam fazer com que os personagens se sentissem muito isolados dentro do seu mundo. Por isso escolheu-se a solução da construção das cenas para que a ação material estivesse em plena relação com o mundo interior dos personagens. Parece ser esta a solução mais lógica para as peças do famoso autor. Suas obras necessitam de ambiente, que dê a impressão de que as paredes, se não falam, pelo menos escutam e sentem, e fazem-se sentir aos que dentro delas vivem. Em nenhuma das cenas, a não ser a última, sentimos um pouco de alívio. Nas outras tudo é carregado e tenso. Assim procuramos trazer ao palco todas as intenções do autor. Só nos resta saber se o trabalho, o estudo e o carinho com que nos lançamos na empreitada conseguiram alcançar esse objetivo. Essa foi sempre a finalidade do teatro e principalmente de um teatro comercial. Nossos esforços visaram respeitar e traduzir, dentro de nossas possibilidades, um autor que tanto tem feito pelo Teatro. (ORC)
(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida no Teatro Hucitec 2001)





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