TRECHOS CRÍTICA - JORNAL DA TARDE – POR SÁBATO
MAGALDI – 14/11/1968
Depois de uma peça violenta, outra montagem, boa,
desta vez, poesia e amor.
Delicadeza, ternura,
sensibilidade definem Noites Brancas, o novo espetáculo do Grupo
União no Teatro Itália. Sob todos os aspectos, a adaptação cênica da novela de
Dostoiévski está no polo oposto de Navalha na Carne, montagem inaugural do conjunto.
Mais uma oportunidade para ver que tudo tem o seu lugar, desde que feito com
rigor e propósito honesto.
Noites Brancas não é ainda o
Dostoiévski de Os Demônios e Os Irmãos Karamazov. Parece uma balada, diante da composição sinfônica dos grandes romances.
O leitor ou a platéia sentem de imediato, porém, a presença do ficcionista que
sabe penetrar no mundo subterrâneo e extrair das personagens as notas mais
íntimas e profundas. Uma poesia melancólica banha todo diálogo de Nastenka e
Wladimir, os seres solitários que num momento se encontram, se reconhecem e
quase se aproximam, para logo depois tomarem caminhos diferentes. Edgard Gurgel
Aranha soube preservar a atmosfera do original e ao mesmo tempo deu-lhe
credibilidade cênica, pondo em flash-back a narrativa de Nastenka sobre
os seus encontros com Stepan. A peça não adquire total autonomia na linguagem
do palco, mas falta ao espectador como um sofrido poema dramático.
A tarefa de Osmar Rodrigues
Cruz, na encenação, foi mais a de assegurar fidelidade ao espírito da obra e
fazer que desempenho e luz mantivessem o indispensável clima poético. Suas
marcações são simples e espontâneas, como convém ao espetáculo, e pode-se
afirmar que ele muito acertadamente desapareceu atrás dos atores.
(...) Seria Noites Brancas uma encenação romântica e por isso fora da realidade atual? Ou essa
reivindicação de poesia, em meio às dissonâncias do mundo de hoje, guarda um
encanto secreto e tem o dom de comover-nos? A resposta afirmativa à segunda
pergunta parece a verdadeira.
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