quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

5ª ETAPA


A REPRESENTAÇÃO

À medida que os ensaios progridem, a relação de personagem com personagem e com a peça, como um todo, cresce cada vez mais definida. A consistência do personagem nasce desse contato durante os ensaios. Um teste, pelo que respeita ao trabalho criador do ator, basear-se-á nessa descoberta, de que ele cessa de comportar-se para com os seus comparsas como atores, mas como os personagens que eles representam. A afinidade entre dois personagens – tal como uma mãe com o filho, ou uma esposa com o marido – cessa de ser algo abstrato e torna-se uma coisa definida, que o ator sente espiritualmente e emocionalmente. O contato contínuo durante o ensaio encontrará o ator crescendo no seu papel, à medida que outros atores crescem nos deles. Os personagens veem à vida apenas em relação a um outro.

A dicção das frases e a qualidade do movimento dependem principalmente da ideia da peça, da caracterização e do contexto que mantém unidos os personagens ou os coloca à parte. Aprender as frases e fixar posições muito rapidamente durante os ensaios pode ser um recurso, quando o tempo é precioso ou quando os atores estão irremediavelmente maus ou sumamente bons. Porém o resultado em muitos desses casos é mecânico, artificial e pretensioso. Se o diretor for um inteligente guia, as frases e as posições virão à medida que os atores desenvolvem as suas caracterizações. Em seguida, as frases e os movimentos serão justificados de dentro e não forçados de fora. Mas uma vez que as frases são aprendidas, as palavras corresponderão exatamente àquelas do texto, pois presumivelmente o autor exprimiu a forma dos pensamentos e das ideias do personagem através de uma seleção cuidadosa e uma disposição de palavras. No entanto, mais cedo ou mais tarde, os modelos de dicção e movimento tornar-se-ão cristalizados, mas nunca numa extensão em que eles possam variar até ajustar as exigências de qualquer momento particular, enquanto os atores não quebrem o fio e o modelo da ideia da peça.

A representação começa com um fator novo e importante: a plateia. Até aqui, durante o ensaio, o diretor era a plateia, mas com a representação ele torna-se um outro espectador. Os atores sensíveis aprenderão muito das reações da plateia. Uma cena é representada bem ou mal, de acordo com o seu efeito sobre uma determinada plateia. “Pérolas aos porcos” não é uma defesa quando a plateia sucede ser obtusa (estúpida). Feliz é o ator que pode sentir o nível intelectual e emocional de uma plateia e reage de acordo, porém dentro dos limites do tato, da proporção e da propriedade. Isto não significa, certamente, que o ator não procurará governar a plateia em suas reações. Pois é obrigação dele fazer a plateia comportar-se, como exige o personagem. “O espírito do ator deve ser sempre mais atilado do que o da plateia” – diz Jehlinger.

Efetivamente o trabalho do personagem não termina com a representação. Cada noite o ator deixará o teatro com as mais novas impressões do personagem e da situação, recolhidas do seu contato com a plateia. Na noite seguinte ele pode somar aqui, subtrair ali, conceber de novo isto ou aquilo. Ele continuará a dedicar-se novamente e a testar de novo as leis da criação do personagem. Somente com tal desejo de luta é que realmente melhora a sua caracterização. Mas não será jamais perfeito. A perfeição é um ideal, não é? (ORC)


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