segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A EXPRESSÃO NO TEATRO 4



Sincronização da voz e do movimento

O movimento do corpo e a pronunciação vocal não são itens distintos. Na verdade, são canais diferentes através dos quais o pensamento, o sentimento e o desejo de um personagem se tornam patentes. Podem ser diferentes meios de comunicação, porém devem ambos transmitir a mesma coisa, ao mesmo tempo. Deve existir aquela combustão espontânea entre o pensamento, o sentimento e o desejo e a expressão resultante, no movimento e no som. Ainda que, com efeito, o estado intrínseco preceda a sua expressão no corpo e na voz (a teoria de James-Lange em relação ao sem embargo contrário) será prático ao ator a fim de vê-los como simultâneos. Aliás, ele pode facilmente cair em clichês e artifícios comerciais técnicos. Como, por exemplo, a mera frase “não quer sentar-se?” pode degenerar em “não quer (pausa, em seguida gesticulação) sentar-se?” Existirá sempre esta harmonia contrabalançada entre a gesticulação e a voz, uma suplementando a outra, de acordo com a que é mais importante, no momento. Podem existir momentos em que a peça exija que o movimento do personagem conduza o choque da ideia do autor, em que o exemplo da voz e da linguagem podem ser mais importantes, quando a pantomima se tornará secundária. Shakespeare deu sábios conselhos sobre isto. Diz Hamlet, no seu conselho aos atores, “ajustem a palavra ao gesto, esta àquele, com cuidado especial para não ultrapassarem a modéstia natural.” Ou uma situação pode elevar-se bem separadamente da própria peça quando os atores devem depender por completo de um só canal para transmitir a peça à plateia. Recorda-se tal momento no 1º ato de “O Dr. Knock”, durante uma trovoada e um aguaceiro violentos, que se fizeram ouvir no Westport Country Theatre” de Lawrence Langner. Literalmente, os atores gritaram para fazer-se ouvir, mas de nada serviu. Sabedores de que a peça está sendo apresentada em benefício de uma plateia, os atores em completo desespero criaram a cena através somente da pantomima. Eles conversaram com as mãos, as faces, os pés, os corpos. Conhecem a sua tarefa como atores, que foi a de transmitir a peça à plateia, e se isso não pudesse ser feito oralmente, tinha de ser feito através da expressão física. O bom ator sabe que a pantomima, a gesticulação, a atividade corpórea são básicas (ver é acreditar e as ações falam mais alto do que as palavras) e que a voz e a linguagem servem para ampliar a comunicação.

A sincronização dos canais de expressão, portanto, é uma condição que exigirá atenção no teatro. Os atores que realmente sincronizam esses dois canais importantes, são uma exceção à regra.  


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