INTRODUÇÃO
Existem muitos estudos,
pesquisas e teorias sobre a preparação do ator. Muitos deles são utilizados
isoladamente como técnicas a serem apreendidas e aplicadas, primeiramente em
exercícios e depois na concepção de um personagem. A partir da metade do século
XX, muitas dessas técnicas foram aglutinadas a outras e experiências teatrais
foram empreendidas visando à criação de novos métodos. Porém, a base continuava
a mesma, chegando-se a conclusão de que nenhum método pode conter em si todas
as soluções para uma arte tão complexa como a da atuação teatral. Sem dar
ênfase demais às emoções, à mente ou ao corpo, a aglutinação das diversas
técnicas possibilitou que se passasse a ver o ator tal qual um ser humano vivo
e não mais como uma figura idealizada e pronta, por vezes artificial e
retórica.
O mergulho feito na cultura
oriental por parte de diretores-encenadores, tais como Peter Brook e Eugênio
Barba, pôde trazer à luz outra realidade para o ator, surgindo a necessidade de
um conhecimento maior de sua própria personalidade, num primeiro momento, para
somente então criar um personagem dentro de um processo de construção e
elaboração: é o início de uma busca por uma filosofia que norteie o trabalho do
ator.
Filosofia no sentido de criar o
fazer e o saber, de adquirir a maior quantidade de conhecimento possível acerca
do teatro, da arte de atuar e de ensinar, ao mesmo tempo em que produz saber.
Colocar, em seguida, todo esse conhecimento em benefício da própria
coletividade, direcionando o teatro para a evolução do país.
Diante
dessa nova realidade investigativa, também realizamos pesquisas e vivências,
porém no âmbito pessoal, pois ocorreram dentro de um processo pré-definido de
concepção de um espetáculo, a fim de que pudéssemos reconhecer a eficácia ou
não desses novos caminhos. Foi uma investigação inserida na atuação
propriamente dita, dos diversos métodos e aplicações possíveis, dentro de um
espetáculo e um personagem já definidos, com o público como medida do resultado
obtido ou não. Esse exercício dialético nos possibilitou, mais tarde, que todo
material teórico e prático fosse transformado em vivências em sala de aula,
seja na preparação de atores, seja no trabalho com não atores. O estudo e a
vivência na atuação forjaram a orientação para sala de aula, que viria a ajudar
no processo de aprendizagem do aluno-ator e na busca por uma filosofia que
marcasse o trabalho como sendo mais de conscientização e desenvolvimento, de
conhecimento e experimentação de si mesmo.
O
trabalho realizado ao longo dos anos em Oficinas de Teatro é analisado a partir
da prática em sala de aula. Como também a reflexão, por intermédio dos
depoimentos escritos expressos em relatórios dos próprios alunos, possibilita a
formulação de uma proposta que possa servir de estímulo aos atores,
professores, alunos e todos aqueles que utilizam o teatro como meio de
expressão. Partindo do pressuposto de que é de bom hábito esvaziar a cesta das
laranjas velhas, antes de colocar as novas, o aluno-ator necessita primeiro
saber lidar com suas próprias emoções, reconhecê-las, ter consciência de seus
próprios conceitos e preconceitos sobre o mundo em que vive e conhecer o seu
próprio corpo. Somente depois desse processo, (ele pode até jogar algumas
laranjas fora) nós podemos oferecer alguma técnica, inserir exercícios mais
elaborados, pois se o ator resolver interpretar sem o conhecimento do
funcionamento de sua psicologia e do seu corpo, certamente as laranjas velhas
apodrecerão com o tempo! Visto que o teatro exige do ator o envolvimento
integral de sua mente, suas emoções e seu corpo é preciso despertar, o quanto
antes, todas as potencialidades do aluno-ator.
Existem em nosso país inúmeros
cursos de curta duração, os assim chamados Oficinas Teatrais, nos quais o
professor é requisitado a iniciar aspirantes a ator, ou simplesmente atender a
uma demanda de pessoas interessadas em “fazer” teatro para ocupar-se e perder a
timidez, desconhecendo a profissão de ator. Esses cursos são o primeiro contato
que o aluno faz com o teatro, poderíamos até chamá-los de a pré-escola de
teatro, pois é exatamente nesses cursos que a sua aptidão se mostrará ou não.
Se em nosso país damos pouca importância a quem inicia nossas crianças na
escola regular, o que podemos dizer de um curso de teatro?
A originalidade do tema se dá
na medida em que se faz o levantamento das técnicas e métodos destinados à
atuação, a exposição das bases de uma proposta no ensino de interpretação baseada
na exposição de uma práxis, até então, confinada à sala de aula.
A hipótese que esse trabalho
coloca é da necessidade do questionamento quanto à seriedade no trato com
iniciantes e da criação de uma filosofia em sala de aula. Haja vista que o
perfil desse aluno em questão é eclético, no que tange a classe social,
escolaridade e faixa etária, a pré-escola de teatro requer o mesmo cuidado que,
se presume, haja na pedagogia de uma pré-escola regular.
Utilizo, nesse
trabalho, a arte de atuação, assim como atuar, para designar o trabalho do
ator, visto estar na própria raiz da palavra ator a palavra atuar, e por ser
seu significado mais dinâmico, designando movimento e criação. Acredito ser o
trabalho do ator, não mera repetição, mas criação, imitação, improviso,
técnica, emoção e racionalidade. O termo representação, portanto, aparecerá
sempre que o período teatral citado denote um estilo de declamação, e também
por designar a representação de uma forma global, ou seja, quando se refere a
todo o espetáculo. Conforme o Dicionário Aurélio, representar é tornar-se
presente, é apresentar de novo com uma visão diferente. Atuar é por em ação, é
mais relativo ao processo de criação do ator. No Aurélio, somente representar é
relativo a teatro, podendo-se concluir que representação é a atuação colocada
em cena.
Segundo Paulo Luís de Freitas,
estando o teatro comprometido com a própria história humana, visto ser um
espelho de sua época, refletindo os acontecimentos sociais e psicológicos do
ser humano, há a necessidade de o ator estar em sintonia com o seu tempo, tomar
parte ativa dos acontecimentos, formar uma opinião, mas antes de tudo, formar
consciência. Para tanto surge a necessidade de que o ensino, de que o trabalho
com o aluno-ator seja pautado por uma filosofia, por uma linha de pensamento e
de ação. A cada época se exige uma postura sempre levando em conta as várias
posturas anteriores, porque somente a partir delas pode-se conhecer o processo
histórico e saber situar-se e reconhecer-se na contemporaneidade.
O método utilizado foi o
indutivo, através do estudo das experiências e pesquisas em vários cursos, para
chegar a uma pedagogia para a preparação de atores. Não foi descartada a
pesquisa bibliográfica abrangente a respeito das várias teorias de interpretação,
dos métodos pedagógicos adotados, e tomou-se como apoio a linha da psicologia
de Wilhelm Reich. Faz parte, também, o relato das vivências por meio da
organização da documentação das Oficinas ministradas e relatórios dos alunos
participantes, bem como entrevistas com os alunos que aplicaram os ensinamentos
adquiridos.
A tese se divide em quatro
capítulos, análise e conclusão, bibliografia e anexos:
No capítulo I temos um
histórico de algumas das mais importantes técnicas existentes de iniciação
teatral, interpretação e sobre a preparação do ator.
No
capítulo II estão as bases da minha proposta, como as experiências com os
exercícios de Reich direcionados para a atuação; uma pequena explanação sobre o
método de Stanislávski e de Brecht, assim como o jogo teatral e a consciência
corporal.
No
capítulo III formulamos a proposta, como a criação de uma filosofia que tenha
um viés nacional, baseada em técnicas com predominância no enfoque corporal e
orgânico do ator e metodizamos esta proposta.
No
capítulo IV apresentamos algumas Vivências e análises das Oficinas ministradas
ao longo de 10 anos.
Finalmente,
temos a análise e conclusão, bem como a bibliografia e os anexos.
(IORC)
VISITEM TAMBÉM
BLOGDOVICTORINO.BLOGSPOT.COM.BR
Nenhum comentário:
Postar um comentário