Elenco da primeira direção de Osmar Rodrigues Cruz
"Adeus Mocidade" - Teatro Universitário
ARTIGO – “CLAN” – 05/1948
Teatro de Ideias e de Emoções
Ao estudarmos a arte dramática através dos tempos, verificamos que sempre houve em Teatro, a ideia e a emoção. O teatro de ideias é aquele em que o autor faz transparecer um motivo social, moral ou religioso. Tanto na comédia como na tragédia, e a ideia de apresentar o seu ponto de vista sobre determinado fato da vida. Os grandes dramaturgos que desde a Grécia até os nossos dias têm baseado suas peças num tema ideológico, não faziam o que hoje chamamos Teatro espetáculo.
Gino Saviotti chega a dizer no seu “Paradoxo sobre o Teatro” que Ibsen, De Curel, Shaw e Pirandello mataram o Teatro pois suas peças não visam somente a arte, mas sim, um meio para difundir suas ideias. Apesar desses homens terem seus nomes ligados à história da dramaturgia, são considerados, assim como por Saviotti, como literatos, mas nunca dramaturgos.
Por essas sugestões podemos verificar algo sobre esse Teatro. Nós que sabemos o valor daqueles escritores, podemos nos surpreender ao ver tão grandes nomes rejeitados pela Arte Dramática. Entretanto o que o mestre do Conservatório de Lisboa quer dizer é que o “Teatro é somente emoção, que o palco não é tribuna”. Num espetáculo deve existir unicamente o caráter teatral, nada mais.
Após essas deduções nós entramos no setor emocional do Teatro. Na arte o importante é a emoção; pois bem, sendo o Teatro, Arte, forçosamente ele será o reativo para despertar essa emoção. Exemplos temos aqui mesmo, no Brasil com Nelson Rodrigues, nos Estados Unidos com Eugene O’Neill.
Perguntamos qual dos dois deixa de ser Teatro? Tudo depende do ponto de vista em que o leitor compreende o Teatro.
Para nós o Teatro de ideias quase sempre não parece um grande espetáculo do ponto de vista da encenação, exceto em algumas peças. Existem peças que somente contém troca de ideias de problemas sociais ou morais. Para exemplificar podemos citar Joracy Camargo que faz de suas peças, conferências, característica da escola seguida por ele.
Já em Pirandello, que ironiza várias situações sociais e morais, o seu Teatro não deixa de ser ideológico, mas possui bastante teatralidade o mesmo acontecendo com Shaw. O Teatro pode ter um fundo social, mas que não perturbe o seu conteúdo teatral. Talvez por isso é que os encenadores não apreciem tanto esse teatro onde basta um bom ensaiador que cuide da unidade e equilíbrio cênico, não havendo necessidade de um diretor que, além do texto, cuide da parte do espetáculo.
Já o Teatro emocional é aquele em que o encenador prepara o espetáculo em que ele é parte integrante, formando o trio que Bragaglia tanto citou: AUTOR, ATOR, e DIRETOR. No Teatro de emoção, os três são indispensáveis porque os três formam o espetáculo. Nessa escola teatral não existe nada que provoque uma determinada emoção no espectador, nada que o faça sair do teatro aprendendo qualquer coisa, mas que somente a sua sensibilidade saia satisfeita. Ele poderá discutir sobre a teatralidade do espetáculo, mas nunca como nas peças de Ibsen em que se discute se o problema apresentado pelo dramaturgo norueguês é certo ou não. Por isso Shakespeare foi o autor mais procurado pelos encenadores modernos, porque suas peças não possuem indicações de cenários e remarcas, somente texto. Nele o encenador inspira-se e constrói o espetáculo. Podemos discutir os personagens do dramaturgo inglês, mas nunca o teor social ou moral de suas peças. Hamlet, Macbeth, Othelo, Romeu e Julieta, são caracteres humanos, nunca símbolos sociais ou morais, mas símbolos dos sentimentos humanos: a vingança, o ódio, o ciúme, o amor.
Nós adotamos o Teatro emocional mas em absoluto combatemos o outro. Nunca poderíamos dizer que Ibsen não foi um dramaturgo genial. Ibsen teve a sua época deixando um grande nome na história.
Hoje o Teatro é espetáculo, é conjunto, é orientação. É Jean Louis Barrault na França, Bragaglia na Itália, Gordon Craig na Inglaterra, Max Rheinhardt nos Estados Unidos, e Stanislawski na Rússia. O Teatro com esses nomes voltou a ser novamente o espetáculo de Arte. Esses homens fizeram pelo Teatro o que Beethoven pela Música e Picasso pela pintura, quebraram a forma até então usada e iniciaram uma época que servirá de marco para o Teatro do futuro.