Essa ideia de viagem, nasceu por
acaso. No tempo do Paulo Correia eu tinha a intenção de fazer um grupo para
viajar, mas a despesa era muito grande, o De Nigris era o presidente na época e
a peça que estava em cartaz mexeu com todo mundo, era o Milagre, e ele quis levar para a Convenção da Fiesp em Campinas, só
que precisava fazer um novo cenário, ele autorizou e foi o começo de tudo.
A partir daí fomos levando outras
montagens, adaptamos Noites Brancas,
levamos Caprichos do Amor, com outro
elenco. Viajar era muito bom, eu achava muito bom e viajei bastante com o Milagre, com Noites Brancas, era cansativo, viajava de carro por quase todas as
cidades do estado. Mais tarde algumas foram feitas de avião, o que era melhor,
você vai para Ribeirão Preto, por exemplo, em quarenta e cinco minutos.
Araçatuba, Presidente Prudente, fiz tudo por rodovia. O elenco ia de ônibus
leito. Algumas fizemos por trem, as que tinham trem-leito. Bauru, por exemplo,
fizemos de trem, era cansativo, porque fazíamos essas cidades aos fins de
semana, em algumas de sexta a domingo, e voltávamos para São Paulo no domingo
depois da sessão da noite e recomeçávamos viagem logo na quinta ou sexta,
dependendo da cidade.
Em Campinas montamos a peça num
auditório de um colégio, que não tinha a mínima condição, foi uma loucura, mas
gostaram. Não havia ainda o Teatro Castro Mendes, havia o Municipal, mas não
sei por que não foi feito lá. Mas a ideia primeira das viagens era levar as
peças que fossem feitas aqui em São Paulo para o Interior. (ORC)
Como o material jornalístico dessas
peças é muito escasso, optamos em citá-las dentro de sua cronologia:
O Milagre de Annie
Sullivan – de
William Gibson (tradução de R. Magalhães Júnior) 1969 – Sorocaba
Noites Brancas – de Dostoiévski (adaptação de
Edgard Gurgel Aranha) 1970 – Lindóia
O Primo da Califórnia – de Joaquim Manuel de Macedo 1972
– Bauru
O Médico à Força – de Molière (música de J.-B.
Lully) 1973 – São Carlos
O Barão da Cotia – de França Júnior 1974 – Santo
André
Guerras do Alecrim e
da Manjerona – de Antonio
José de Silva 1976
Trocas e Trapaças – de Américo Azevedo 1978
Madalena, Seduzida e
Abandonada – de
Ronaldo Ciambroni 1981 – Santo André
Coitado do Isidoro – de Sebastião de Almeida (João
Garrucha) 1983 – Santo André
Senhora – de José de Alencar (adaptação de
Sérgio Viotti) 1984
O Caso da Casa – de Machado de Assis (adaptação de
José Rubens Siqueira) 1988
O Tipo Brasileiro – de França Júnior (adaptação de
Cecília Macedo) 1992
OUTRAS ATIVIDADES DO
TPS
O Teatro Infantil foi feito de 1969
a 1978, foram dez peças dirigidas pelo Eduardo Manuel Curado. Esse teatro
deixou de ser feito com a morte dele.
Foram diversos os cursos no TPS. O
primeiro teve Ruggero Jacobbi dando aula de História do Teatro e também o
Flávio Rangel.
O primeiro Curso de Formação de Atores foi feito com intuito de criar o Teatro
Experimental, concluído o curso os alunos que mais se destacaram passaram a
fazer parte da primeira peça do Teatro Experimental, que foi A Torre em Concurso. Junto com esses
alunos eu coloquei também os que faziam o curso de atores para cinema do MASP,
foi daí que veio a Nize Silva, alguns alunos da Caixa Econômica que também
haviam feito curso comigo lá. A seleção dos atores foi feita por teste de
leitura de um texto e improvisação de uma cena. Havia 180 inscritos. A ideia de
fazer o primeiro curso no Sesi nasceu da necessidade de formar gente para fazer
teatro amador, pois havia gente muito ruim e no Sesi não dava para fazer com os
operários.
[...]
No TPS eu fazia um curso por ano, no
princípio dava para contratar professores de fora, depois eu comecei a pagar
professores da casa mesmo, como o Eduardo Manuel Curado, o Francisco Medeiros.
Um dos cursos, foi quando estávamos alugando os dois teatros lá no TBC, foi no
Teatro de Arte que era o teatro onde ministrávamos aula. Eu montei com os
alunos o Beijo no Asfalto, do Nelson
Rodrigues, fez muito sucesso, nós distribuíamos convite para as pessoas que iam
assistir O Noviço, que era a peça que
estava em cartaz no TPS. Quando nós fomos para o teatro da Avenida Paulista
fizemos outro curso e eu montei com eles O
Chapéu de Sebo, do Francisco Pereira da Silva. (ORC)
O ESTÚDIO DO TPS
Já foi dito várias vezes que o meio
para aprender a representar é representar. Se isto fosse verdade, o meio para
aprender a tocar uma sonata de Beethoven seria sentar-se ao piano e tocar uma
sonata de Beethoven, sem antes estudar as notas e as escalas mais simples. A
primeira tarefa do artista é dominar seu instrumento. No caso do pianista, o
piano; no caso do ator, ele próprio. Somente depois de adquirir o domínio de si
mesmo está o ator pronto para interpretar uma parte em uma peça. Representar um
papel não significa aprender a marcação, as deixas, conhecer o palco e saber
dar a réplica. Significa criar a vida interior do caráter delineado no texto.
Isto inclui pensamentos, emoções, sensações, percepções e técnica. Somente
quando o ator cria essa vida interior, esta corrente de sentimentos e
comportamentos de outra pessoa, pode ele dizer que está representando e
criando. Portanto o Estúdio de Atores do
TPS terá um método de desenvolver e capacitar o ator a interpretar, sem ser
através de fórmulas e conceitos preestabelecidos.
Sabemos que nenhum método,
entretanto, pode por si só capacitar um indivíduo a tornar-se um ator. Um ator
deve ter talento. Talento é uma aptidão superior, essa superioridade é um dom e
não pode ser adquirida artificialmente.
Um ator de talento é o que pode
expressar em termos próprios a vida interior de outro indivíduo. Ele deve ter
as qualificações de todos os outros artistas, como: elevada sensibilidade,
imaginação viva e a facilidade de comentar a vida através de um dado meio. O
preparo do ator deve incluir, ao lado destes dons, concentração desenvolvida,
observação aguda, corpo plástico, técnica vocal perfeita, além de outros
conhecimentos gerais.
Enquanto o talento não pode ser
transmitido em uma sala de aula,os elementos que integram a técnica, podem. O
propósito do curso é esse: fornecer um método simples de adquirir essa técnica
de desenvolver o talento.
A representação é um tema
inesgotável. Tem toda a fascinação da arte e toda a complexidade da ciência.
Assim como um indivíduo difere do outro, a representação é um assunto que
contém material discutível e sempre renovado para discussão.
No método de trabalho que iremos
desenvolver no Estúdio, não defenderemos regras rígidas e fixas. Certos atores
podem chegar aos mesmos resultados com métodos diversos. Alguns atores podem
necessitar dessas sugestões apenas em parte. Outros podem exigir ainda maiores
esclarecimentos. Resumimos para o treinamento do ator um sistema seguro que
visa capacitá-lo a ser um artista sincero e inspirado.
O teatro de hoje não é mais lugar de
pura diversão, não mais se satisfaz em ser um derivativo, uma fuga para as
realidades da vida. Hoje ele é fonte de saber e um meio de comunicação entre
indivíduos e grupos de indivíduos. Conquanto o teatro tenha sido quase sempre
de elite, a despeito dessa elite ele teve períodos ruidosos e populares e
atualmente esse é o seu único caminho – ser
popular e ao mesmo tempo educar esse público.
Para atingir a dupla finalidade do
teatro atual, cada indivíduo ligado a ele não deve poupar esforços para dar o
melhor de si. Não há lugar para o diletante. Participação desinteressada em uma
arte de tais dimensões é sacrílega. O maior inimigo do teatro é a mediocridade.
Há necessidade de tentar colocar o
teatro em bases mais científicas. Há atores ou candidatos que frequentemente
desprezam sugestões que podem ser encontradas entre as páginas de um livro. O
teatro exige laboriosos e inesgotáveis esforços.
Se o Estúdio de Atores conseguir dar
à mente de seus frequentadores a enorme tarefa do ator e a necessidade de uma humildade
e aplicação, terá servido ao propósito que foi criado. (ORC)
Fizemos também algumas Leituras Dramáticas dirigidas por Celso
Ribeiro, com participação de alguns atores do TPS, apresentando os textos A Casa Fechada, de Roberto Gomes, Mimosa, de Leopoldo Fróis e Micróbio do Amor, do Bastos Tigre.
O curso, como já disse, não
profissionalizava, então os interessados diminuíam. Nesse período eu fiz um
exercício de improvisação sem palavras e o Alienista,
do Machado de Assis, sem o personagem do alienista, os atores comentavam sobre
ele, foi uma criação coletiva.
Esses cursos complementavam um
“Plano” que eu fiz em 1962, 1963 das coisas que eu queria ver no teatro:
Galeria de Arte e Concertos. As ideias contidas no plano foram sendo colocadas
em prática aos poucos, com muito sacrifício. A última grande coisa que nós
fizemos no TPS foi um plano que o Mário Amato pediu-me que fizesse de teatro
infantil, mas eu criei algo melhor. Ao invés de fazer um teatro para crianças,
criei os Núcleos de Artes Cênicas que
funcionavam nos conjuntos do Sesi. Contratávamos professores que tinham
especialidade em Artes Cênicas e em cada conjunto do Sesi havia um Núcleo de
Artes Cênicas, que eu nem sei se ainda são mantidos, onde os professores davam
aulas para alunos menores em idade de primeiro grau, antigo primário, que
passavam praticamente o dia nos conjuntos, lá almoçavam, porque todos os
conjuntos têm cozinhas. Essas aulas complementavam o curso primário com
“educação artística” e no fim do ano eles montavam um espetáculo. Funcionou com
sucesso. (ORC)
VISITE TAMBÉM
WWW.BLOGDOVICTORINO.BLOGSPOT.COM