TEATRO NACIONAL POPULAR BRASILEIRO
COM AS BENÇÃOS DE PADRE ANCHIETA COMEÇA
O TEATRO NO BRASIL!
Eis
que depois de aportarem no Brasil, os portugueses tinham que fincar sua posse.
Não foi como a ida do homem à Lua onde foi fincada a bandeira americana,
ridículo, porque a Lua é de todos nós, brilha sempre igual para todos os
habitantes da Terra! Então, ao invés de os portugueses fincarem uma bandeira construíram
um pequeno altar para a primeira missa no Brasil. Rodeados por índios nus muito
curiosos e intrigados ainda sem saber bem o que aquele povo estava fazendo ali.
Muito bem, após, terminada a missa, o padre batiza aquelas terras de “Terras de
Vera Cruz”. Só faltou dizer Colônia de Portugal conquistada pelos portugueses e
para os portugueses.
A
expedição retorna à Portugal cheia de orgulho pela conquista e relata a
presença dos indígenas, povo dócil, pacífico e passivo, mas completamente
incivilizado... Com esta constatação surge a ideia de uma aproximação maior a
fim de darem o bote final – a conquista, não só das terras, mas deste povo. Em
nenhum momento pensaram ou respeitaram a existência e o respeito a uma
civilização diferente da sua e dona legítima daquelas terras. Não, o objetivo
maior era "civilizá-los”, torna-los submissos, já que a pele era de outra
cor, andavam nus, indícios semelhantes aos negros africanos. Sem respeito algum
ao diferente, aos conhecedores de plantas que curavam animais que deveriam ser
excluídos de sua caça e de sua pesca, começaram a articular maneiras de abordagem
pacíficas com o objetivo maior de servirem aos portugueses. Porém, algumas
tribos não se renderam facilmente, lutaram para preservar suas terras e suas
crenças e hábitos, sua civilização. Acredito que para os portugueses a maior
ameaça, a maior afronta era o modo de vida dos indígenas que representava a
total liberdade de que desfrutavam, nus de corpo e alma convivendo com a
natureza plenamente.
Em
1553 vem ao Brasil uma expedição portuguesa trazendo à bordo um jovem jesuíta
que havia cursado a Universidade de Coimbra em Portugal e que fora recrutado a
viajar nesta vinda ao Brasil. Aporta na Bahia e logo observa os índios com sua
dança e rituais. Já se havia viajado boa parte do país desde a chegada em Salvador,
tanto é que Anchieta chega a São Paulo de Piratininga e tem o primeiro contato próximo
com os índios.
Como
todo jesuíta, Anchieta adorava o teatro. Até hoje contam os padres que eles
sempre se reuniam em récitas para a leitura de textos trágicos gregos, em
grego! A tradição teatral do gosto pelo teatro na Companhia de Jesus vem de
longe e na época de Anchieta eram apaixonados pelos Autos de Gil Vicente. Não
nos esqueçamos de que estamos na Idade Média e o teatro era apresentado nas
portas das igrejas e versavam sobre a história religiosa católica. O teatro era
restrito no mundo europeu e a saída, como sempre ao teatro popular era a rua –
o teatro de rua, o teatro ambulante.
Aqui
se inicia um fato social da maior importância. A missão de Anchieta começa a
clarear para ele, “produzir” um teatro que também, ou primordialmente, fosse
uma forma de civilizar os indígenas para o modo de vida dos europeus.
Obviamente, para servirem aos portugueses na conquista da terra, na posse das
riquezas do Brasil. A exportação do pau-brasil já havia começado, era preciso
mão de obra para tanto e muito mais.
Os
Autos de Anchieta eram obras que misturavam costumes indígenas com a estrutura
dos Autos de Gil Vicente. Infelizmente foi fracasso de público e de crítica, um
desastre todo aquele esforço de um poeta tão empenhado na catequese destes
índios que gostavam dele.
Porém,
em 1561 Anchieta encena o Auto de Natal, certamente não com os indígenas. Torna-se
Superior em São Vicente e em 1577 é nomeado Provincial dos Jesuítas no Brasil,
um brasileiro apaixonado por estas terras, as Terras de Vera Cruz.
Entretanto
nem tudo são flores no Brasil, mas tem muito assunto ainda sobre essa época.
São os atores de uma tragédia.
Aos
interessados sobre os autos de Anchieta, que são poucos devido a falta de
documentos, existe a obra Teatro de Anchieta das Edições Loyola SP 1977 pelo P.
Armando Cardoso S.J.
É
do Padre Armando a conclusão: “A estrutura das peças de Anchieta, divididas em
diversos atos, representados em locais vários, com composições líricas que se
lhes ajuntam em récitas, cantos, danças e músicas, tem sido pouco salientada.
Sem isso não se podem bem avaliar seus Autos, diferenciados de Gil Vicente por
um cunho áudio visual bem próprio do Brasil quinhentista.”
Coleção de Programas de Teatro das décadas de 40 e 50
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