Eva , Tatá e Juca falam sobre
Osmar, o diretor (Programa da peça)
Osmar é o típico diretor
“Sumerhill” ou seja, o diretor da liberdade sem medo. Ele nos dá a impressão de que, finalmente, pela
primeira vez em nossa carreira teatral, temos a possibilidade de fazer
artisticamente aquilo que muito bem entendemos. A sua presença carinhosa e
paternal nunca interferiu nas verdadeiras batalhas, atritos e xingamentos que
constantemente desencadeamos sobre esta ponte (aliás não entendemos como ela
ainda se mantém em pé). É provável que tais conflitos tenham provocado efeitos
maléficos na sua constituição psico-física, já tão trucidada por persistente
hipocondria. Senão vejamos: no início dos ensaios ele se ministrava apenas 4
Cibalenas, 2 Alka-Seltzers, 3 Engovs, meio tubo de descongestionante nasal, uma
ampola de Metiocolin com B-12 (aplicação endovenosa), e um comprimido de Arovit
por dia. Agora na véspera da estreia, o que ele consumia de medicamentos, não
consta nos manuais farmacológicos da maior drogaria da cidade. Estamos
desconfiados, de que agravamos um pouco o seu estado de saúde. Como dissemos, a
gente tinha a impressão de que estava fazendo o que muito bem entendia.
Acontece, porém, que no exato momento em que redigimos estas despretensiosas
linhas, nos assaltou o terrível pressentimento de que, pérfida e
maquiavelicamente, o homem nos levou a fazer aquilo que ele muito bem entendeu!
Conclusão: Somos três crianças conduzidas a esta Ponte, totalmente
desamparadas. E queremos deixar bem claro, que, tudo aquilo que vier a ocorrer
sobre o palco esta noite, é de inteira e total responsabilidade de Sr. Osmar
Rodrigues Cruz. E nesta nossa ciranda, ele nos transmitiu essencialmente uma coisa.
Como foi bom nós quatro nos encontrarmos. PUTZ!!!
TRECHOS CRÍTICA - JORNAL DA TARDE – POR SÁBATO
MAGALDI – 21/01/1971
Putz, novo cartaz do Teatro Aliança Francesa, preenche uma
função definida e sem dúvida importante: procura atrair de novo o público
arredio, oferecendo-lhe um entretenimento com as necessárias garantias de
agrado. Já que não há condições para romper a estrutura que regula atualmente a
atividade cênica, esse é um caminho de bom senso acomodado e de eficaz luta
pela sobrevivência.
(...) Murray Schisgal, o autor,
havia sido mais ambicioso em dois textos anteriores, Os Dactilógrafos e O Tigre. Embora sem acrescentarem nada ao processo da vanguarda, esses atos
únicos assimilam a experiência que vai das sínteses futuristas italianas a
Ionesco, encaixando-a na realidade norte-americana. O substrato é a
indefectível incomunicabilidade e o desejo de comunicação, num mundo que aliena
o homem. Embora estejamos cansados de peças com duas personagens, essas obras,
reunidas, num espetáculo, poderiam propiciar um rendimento artístico
apreciável.
Putz (Luv, no original) parece uma demissão das propostas
anteriores. Schisgal barateia a vanguarda, suaviza o que provocaria atrito. Com
as concessões sucessivas na trama, passa-se do absurdo ao inverossímil. E a
mecânica do maldito “play-writing”, pelo forçado e pela repetição dos recursos,
acaba por cansar. Dentro de todo o artificialismo da história, tranquiliza-se a plateia: o amor do primeiro
matrimônio é o verdadeiro, as outras inclinações esvaziam-se no efêmero.
Uma virtude da encenação de Osmar Rodrigues Cruz está
em não mistificar a peça, fazendo o que ela é. Outra se refere ao resultado que
obtém do elenco. A montagem, em relação aos seus trabalhos anteriores, se
mostra mais flexível, aberta, movimentando os atores com liberdade.
(...) Um bem concebido cenário de Túlio Costa
ambienta a ação, numa prova de que esse gênero de peça atinge o público pelo
cuidado em todos os elementos do espetáculo.