"O teatro popular não é um movimento estético é um movimento social"
"Nessa época eu tinha deixado de fazer TV e como no Sesi ia haver um concurso para trabalhar como ensaiador de peças, na época chamava-se assim, prestei esse concurso e passei em primeiro lugar. O Nicanor Miranda que fazia parte da banca, era o chefe do Serviço de Teatro do Sesi.
(...)
Optei por aceitar a função de ensaiador, porque estaria lidando com teatro que era minha meta, fui para Santo André ensaiar um grupo do “clube” da Fábrica Rhodia. O mais interessante é que encontrei nesse grupo um pessoal esforçadíssimo. O Chiarelli que era chefe da “troupe” era muito dedicado e um bom cômico. Ensaiei com eles o Maluco n.º 4 de Armando
Gonzaga que foi um sucesso estrondoso. O Armando Gonzaga é um autor que faz
sucesso, claro que não para a elite intelectual. As peças dele funcionam para o
grande público popular. Os cenários eram alugados na Casa Teatral, quase tudo
que usávamos era alugado. Eu morava no Cambuci e pegava um ônibus que passava
na Av. Independência, era uma viagem longa até chegar em Santo André. O ensaio
era às 20 horas e eu tinha de tomar o ônibus às 18 e 30 horas, durante o
percurso aproveitava para ler.
(...)
Fazer um teatro popular
voltado para a grande massa era uma velha ideia que começou a se solidificar na
Rhodia. A cada nova peça a casa enchia que era uma loucura! O público se
divertia tanto que queria ver de novo a peça e vinham várias vezes.
Comecei a perceber que peça
brasileira faz grande sucesso, sucesso que se repetiu mais tarde no Teatro
Popular do Sesi, quando montei, “Manhãs de Sol” de Oduvaldo Viana. Havia
assistido essa peça, ainda rapazinho, em Campinas com a Cia. de Emílio Russo e
Norma de Andrade, o espetáculo fascinou-me ficando na minha lembrança. E o
Paulo Mendonça, que assistiu a minha montagem no TPS, em sua crítica chegou a
comentar que essa escolha devia ter sido
motivada por alguma fixação de infância. Algum tempo
depois tive a oportunidade de lhe dizer que tinha acertado em cheio, isso foi
quando estivemos juntos na diretoria da APCT, que depois virou APCA, ele como
presidente e eu como secretário. O Paulo Mendonça foi um crítico que amava o
teatro acima de tudo, suas críticas eram muito bem feitas, foi um crítico muito
importante.
(...)
GRUPOS DRAMÁTICOS
Entrei no Sesi em 1951, para
ensaiar grupos dramáticos, o Sesi tinha uma estrutura de teatro completamente
arcaica. Havia um grupo dramático na rua Visconde de Parnaíba, que era o Clube
do Trabalhador, lá o Nicanor Miranda ensaiava os grupos dramáticos e o Sesi
resolveu contratar mais ensaiadores para desenvolver o teatro nas indústrias.
Foi por isso que eu fui para a Rhodia, mas, com o decorrer do tempo, esses
grupos dramáticos não eram nem de operários, nem de estudantes, era de gente
que queria fazer teatro. Acho até que era interessante, mas quem assistia aos
espetáculos eram amigos, família, pessoal do clube que patrocinava o teatro.
Tinham trinta e tantos grupos dramáticos, era uma coisa de louco!, cada
ensaiador tinha dois, três grupos e cada ensaiador... um era pior que o outro!
Aquilo me deixava meio confuso, meio atrapalhado, porque eu achava que o Sesi
tinha obrigação de fazer um teatro melhor, porque os grupos eram de atores
fracos, que não tinham condições de fazer teatro, então os espetáculos eram
falhos, os cenários eram alugados na Casa Teatral, os móveis, tudo... foi como
eu fiz na Rhodia!" (ORC)
(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida no Teatro Hucitec 2001)
SESI - Serviço Social da Indústria
APCT - Associação Paulista de Críticos Teatrais
APCA - Associação Paulista dos Críticos de Artes
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