Trechos
de crítica
Última Hora
– por João Apolinário – 28/9/1972
Deve ter sido muito difícil a Sérgio
Viotti vencer a primeira grande dificuldade que o texto Um Grito de Liberdade, que você poderá ver no Teatro de Arte
Israelita Brasileiro (Taib), oferecia a quem quisesse biografar a vida e a
época histórica de D. Pedro I e da Independência do Brasil.
As distorções e os preconceitos
existentes em relação a essa figura apaixonante de homem que em tão curta vida
foi rei de dois povos, tornaria difícil repor, com a necessária autenticidade
histórica, essa aventura humana excepcional, só por si merecedora de ganhar a
dignidade teatral.
Outras dificuldades o autor de Um Grito de Liberdade soube contornar,
realizando um texto carpinteirado com maestria. Selecionando as cenas capitais
da biografia e da história e usando a linguagem própria, fluente e convincente,
para que os personagens à volta dos quais se desenvolve a ação, vivam com
aquela plenitude existencial indispensável à veracidade dos fatos indiscutíveis
que teria de respeitar, como fez.
A ideia de propor a narrativa
partindo da simultânea criação do espetáculo, com os atores representando-se e
interpretando ao mesmo tempo os personagens, é, além de muito, didático, uma
colocação inteligente, quebrando o lado mágico e teatral da história e
oferecendo a outra face, a face crítica, ao espectador. Essa aparente quebra ou
essa dualidade entre uma pretensa realidade (os atores ensaiando) e uma
pretensa ficção (os personagens históricos vivendo a história) resultou, a meu
ver, permitindo a encenação de Osmar Rodrigues Cruz uma totalidade de
informações, coerentemente desenvolvidas pela via mais perfeita de comunicação
que é, afinal, o teatro sem teatralidade, o teatro despojado, direto, concreto,
sem sofismas. Em suma: a simplicidade. Em tudo: os praticáveis, os figurinos,
as marcações, em tudo Osmar Rodrigues Cruz obteve uma perfeita sintonia, um
acabamento a que a luz e a música põem o toque final de encenação simples e ao
mesmo tempo perfeita que nestes anos todos o vimos realizar.
Essa simplicidade custa um preço,
desperta incompreensões, permite preconceitos, falsos, naturalmente, como por
exemplo a atitude cultural que não leva em conta o público para quem Um Grito de Liberdade foi realizado.
E, no entanto, é nessa simplicidade
que devemos mais elogios a Sérgio Viotti e a Osmar Rodrigues Cruz. E ao elenco,
todo ele integrado nessa dimensão popular sem concessões, espontânea sem
esforço, artística sem trair o nível que o bom teatro se deve e nos deve. [...]
enfim, todos me parecem cumprir essa ordem geral de simplicidade que faz do
espetáculo um divertimento fácil, fluente, ao mesmo tempo que informa sobre a
personalidade e a época que pretende marcar, no teatro paulista, o
Sesquicentenário da Independência do Brasil.
(in Osmar Rodrigues Cruz Uma
Vida no Teatro Hucitec 2001)
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