Centro Acadêmico Álvares Penteado
ARTIGO – DIÁRIO COMÉRCIO E INDÚSTRIA – 21/05/1950
Teatro Universitário
Há em nossa capital, com vida permanente, apenas o Teatro Universitário do C.A. Horácio Berlinck. Possui esse teatro cinco anos de vida oficial. É um exemplo que deveria ser seguido por todos os Centros Acadêmicos ou Faculdades de São Paulo. Exemplo podemos tirar também das Universidades Norte-Americanas, onde em cada uma delas existe um grupo teatral permanente. Isso para não sairmos da América. Um grupo de teatro universitário tem a vantagem de congregar, distrair e ilustrar os acadêmicos, dando aos que tomam parte na interpretação um desenvolvimento nas atitudes, nos gestos e na conversação tornando-os mais aptos para a luta diária.
Como o esporte sadio faz parte da vida acadêmica, também o teatro é uma necessidade. Um para o físico, outro para o intelecto.
Desde a vinda do Teatro do Estudante do Brasil para São Paulo, que Paschoal Carlos Magno, seu diretor, deu novo impulso aos jovens estudantes paulistas, e a partir daquela época o gosto aumentou; entretanto nenhum grupo novo surgiu. Pelo contrário, o Grupo Universitário de Teatro desapareceu juntamente com outros grupos amadores, dando origem ao Teatro Brasileiro de Comédia. E, assim, somente o Teatro Universitário do C. A. Horácio Berlinck permaneceu na vida teatral amadorista. Porém, há meses atrás surgiu na Escola de Jornalismo um grupo de teatro dirigido pelo Prof. Georges Readers. Logo após, o Teatro Experimental do Negro, tendo a frente Geraldo Santos, seu incansável diretor que no próximo mês encenará “Todos os filhos de Deus têm asas” de O’Neill. Mas a notícia mais auspiciosa foi a de que a Escola Politécnica, por intermédio de seu Grêmio, fundou também seu grupo de teatro e irá dar um espetáculo em agosto, sob a direção de João Ernesto Coelho Neto. Por fim, alunos da Faculdade de Filosofia também resolveram organizar um grupo de teatro e tivemos imenso prazer em receber a notícia desses moços que desejam, além de estudar filosofia, dedicar-se um pouco ao estudo do teatro.
Parece que 1950 está dando sorte ao Teatro Universitário, pois apenas há um ano atrás somente o do Horácio Berlinck trabalhava nesse sentido, apesar das dificuldades financeiras por que sempre passou e que neste ano pretende apresentar em junho “As mulheres não querem almas”, de Paulo Gonçalves, o inesquecível comediógrafo paulista que tão cedo nos deixou. Nesse espetáculo será feita uma homenagem a esse inigualável escritor e poeta. Para a segunda metade do ano uma peça estrangeira. Nessa época, então com todos os grupos acima mencionados e mais alguns outros poderá ser realizado o 1º Festival Amador, com a participação de cada um, apresentando durante alguns dias suas peças.
Esse programa, não tão difícil de realizar, poderá falhar se a boa vontade e a dedicação de seus componentes não souberem trabalhar com interesse e afinco.
Aos jovens estudantes deve ser dado todo apoio, principalmente das pessoas que a isso for possível, pois sem dinheiro, difícil é realizar qualquer coisa, principalmente teatro.
Se tudo isso sair de acordo com os planos que nos divulgam, brevemente em São Paulo haverá uma vida teatral estudantil digna da “capital artística” do país. Aqui vai, portanto, nossos votos de progresso e bastante sorte aos jovens amantes do teatro. Um dia, num futuro próximo, poderão colher os frutos do seu trabalho vendo que no meio universitário o teatro já não será tão desconhecido como ainda hoje o é. À luta pois!