quarta-feira, 24 de junho de 2015

Capítulo 1 - primeira parte


A Preparação do Ator 


A preparação do ator foi sempre objeto de muita investigação, porém as poucas informações deixadas pelos próprios atores, assim como pelos mestres, que também foram atores permitem apenas que se faça um modesto panorama da história da interpretação. Embora seja somente pontuado, esse panorama servirá de guia para os capítulos seguintes. A cronologia obedece a uma ordem prática e particular. Prática no sentido de mostrar um panorama do processo histórico e a evolução da preparação do ator e particular no sentido de escolher aqueles atores que foram também professores, os quais são mais condizentes com a própria necessidade da pesquisa e da teoria que se pretende mostrar adiante. 

Segundo inúmeros autores, a civilização teve seu início na Mesopotâmia, os primeiros ”agrupamentos” já esboçavam uma formação coletiva organizada com divisões de funções. O homem dominou parcialmente a natureza, então, teve tempo para refletir sobre si mesmo e sobre o desenvolvimento de sua técnica rudimentar. Antes, resolveu perpetuar seu domínio, deixar sua marca, surgindo, então, as primeiras manifestações de arte que foram os desenhos de animais e de caçadores em movimento, corpos em movimento, simbolizando a realidade que se modifica eternamente como também o homem, que não é estático, mas se coloca no mundo de forma dinâmica. As figuras passam a representar rituais mágicos, em forma de movimento dos corpos. Foi o início da imitação por meio do movimento. No Egito, as figuras retratadas num período posterior são estáticas porque reproduzem exatamente o poder dos faraós que queriam a manutenção de uma sociedade estática. Assim, as primeiras manifestações artísticas retrataram o homem e seu contato com o mundo, é a arte mostrando o ser do próprio homem.

Na civilização grega, nasceu a democracia como forma de organização política da sociedade, na arte o poema épico, resultado das escolas dos grupos de poetas, semelhante ao que já acontecia nas artes plásticas e que também ocorreu no teatro. A figura isolada como ator ainda não existia, mas tão somente o aedo que era o poeta recitando sua poesia e o grupo – o ator, então era o grupo, no qual o diretor era o autor. Se, para o teatro oriental, seguir o ofício de ator vem de uma inclinação religiosa individual, sendo extremamente respeitada, para o teatro ocidental foi da religião, a partir do próprio rito religioso, portanto do coletivo, do coro, foi que se destacou a figura do ator. Depois que Téspis encarnou Dionísio e travou diálogo com o coro, o teatro que emergiu da dança e do ato religioso, tomou a cada dia, maior importância numa sociedade de cidades-estado, onde o poder, embora centralizador e dominado pela “nobreza”, se propunha justo, propiciando o surgimento do conceito de cidadão como homem livre e individual. Téspis, ator solitário em sua arte, desvendou, por muito tempo, o intrincado ofício da atuação. Era o próprio ator quem “ensinava”, ou mais propriamente, transmitia aos atores-iniciantes o que sabia. E desbravadores desse ofício nasciam e descobriam fórmulas e técnicas que ganhavam novo estilo. Segundo Paulette [1], os primeiros atores mesmo foram os alunos dos poetas, os quais primeiramente representavam seus próprios personagens. Porém, os atores foram se organizando e foi Sófocles o responsável pela primeira associação de “gente de teatro”, o que, certamente, possibilitou uma maior concentração em torno da própria aprendizagem do ator. Ao ler as pesquisas arqueológicas do interessante trabalho de Paulette [2], foi possível imaginar esse ator-aprendiz, esses atores veteranos, treinando com suas enormes roupas e coturnos, com suas máscaras, ensaiando tragédias. Os poucos registros em pedra descobertos e decifrados por Paulette [3] podem atestar um pouco mais de informação sobre o ofício de atuar, embora muitos registros devam ter se perdido ao longo do tempo, assim como outros registros de outras épocas que se seguiram.

Sófocles (497/405 A.C.) criou uma associação, escreveu Édipo Rei e Aristóteles (384/322 A.C.), no século seguinte, inspirado nessa peça criou o primeiro texto teórico do teatro ocidental, que embora trate mais das regras para uma perfeita dramaturgia, nos oferece, em alguns trechos, informações sobre a criação de um personagem. Não sabemos ao certo o quanto esse texto foi divulgado entre os atores, mas podemos imaginar que alguns deles tenham lido e refletido acerca do seu conteúdo.

Na efervescência do mundo grego o homem iniciou o processo de pensar a si mesmo e por meio da tragédia pensou o seu destino dentro das condições que lhe foram impostas na pólis grega. A ordem aristotélica, seu pensamento extremamente lógico nos ajuda a perceber no texto teatral, por meio da análise de Édipo Rei, a lógica dramatúrgica e consequentemente a lógica da atuação. A ação é colocada como o grande motor da obra dramática, o conflito o seu combustível. Isso valendo também para o ator, pois sendo o conflito inerente ao texto dramático, ele deve conhecer inteiramente seu mecanismo, estar consciente de sua dialética. Manter sempre o fio condutor da história, o fio condutor do personagem levando em conta a verossimilhança e os caracteres do personagem. A partir dos conceitos e da análise da tragédia de Sófocles acerca de Édipo, fazem com que essa passe a ser considerada como a peça perfeita e sirva de exemplo quando se quer mostrar um enredo bem construído e personagens instigantes e verdadeiros.[4] Daí é inferido o conceito de imitação, como a definição da ação do ator, assim como a poesia é imitação da natureza. Mesmo pertencendo à outra orientação filosófica, Platão (429/347 A.C.) também preconiza em seu Livro III da República que a imitação “torna-se uma segunda natureza”, portanto deve ser o princípio da arte de atuar. Existe, também, um texto hindu da época de Jesus Cristo (século I) no qual se encontra que a “imitação é uma regra do teatro” [5]. Horácio (65 a. C. / 8 d. C.) na Arte Poética também diz o mesmo. Já Tertuliano (séculos II/III) e Santo Agostinho (século IV) tomavam o teatro como uma arte diabólica.

Foi também na Grécia, onde nasceram a tragédia e o mimo, que se encontra, segundo Hauser [6], o ideal de “Kalakagathia”, “ideal perfeito entre qualidades corporais e espirituais”, conceito que influenciará muito todas as artes.

No Oriente, o teatro surgira bem antes, as primeiras produções chinesas datam da dinastia Chou (1122/255 A.C.) e já evocavam o que foi mais tarde a Grande Ópera de Pequim, marcada pelo rigor e pela dedicação de seus atores, que se submetem, até hoje, a um regime monástico de aprendizado e treinamento.

A comédia surgiu da manifestação laica do culto à natureza e seus ciclos de plantio e colheita, os quais também incluíam festa e dança. Foi de grande importância para o equilíbrio da sociedade grega, tornando-se o contraponto da tragédia oficial. Embora estivesse inserida nos festivais, tecia a crítica tão necessária ao desenvolvimento da consciência da própria pólis. E o artista corporal, vivo, era o artista popular, o ator da comédia e do mimo, os quais irão manter o teatro vivo durante a Alta Idade Média. Mesmo com a censura da igreja o ator suprimiu o texto e desenvolveu a arte de dizer com o corpo.

A sociedade romana privilegiava a comédia por conveniência, assim como os desfiles espetaculares, era a política do pão e circo. Entretanto, surgiram novos dramaturgos como Plauto, que fazia muito sucesso com suas comédias, sendo Pellio, o bufão, o ator que mais atuava em suas peças. Por outro lado, a formação do ator confunde-se com o ensino da retórica, Quintiliano (35/95) escreveu Institutio Oratoria para o ator, inspirado no texto de Cícero (106/43 A. C.) De Oratore.[7] Observando os atores, Quintiliano oferece no texto conselhos de como utilizar voz e gestos, reproduzindo basicamente o estilo que marcava a oratória. Foram os jogos, as danças e a acrobacia, entre outros gêneros, os quais dominaram a arte popular do ator, livre das regras do teatro institucionalizado, tanto na Grécia como em Roma.

No feudalismo a Igreja imperava, o Estado confundia-se com a Igreja, e esta, segundo 

muitas ordens religiosas, detinha o saber que era restrito aos clérigos e nobres, um saber 

que dispunha de arbitrariedade total quanto ao que deveria ser divulgado ou não. 

Entretanto, um outro saber se escondia nos mosteiros; eram traduzidos, pela primeira 

vez, os textos gregos para o latim.

Os jograis, os menestréis, os trovadores, a Confraria da Paixão, os mistérios, as 

moralidades, o drama litúrgico, as sotties e a farsa, este era o ambiente teatral da Idade 

Média. Seja na mudança de local, o que influenciou demasiadamente a interpretação do 

ator, seja na maneira pela qual se desenvolveu a técnica de atuação - o teatro foi para 

dentro das igrejas e depois foi expulso delas – mas permaneceu a improvisação. Graças a 

essa resistência, o ofício do ator permaneceu vivo na Europa e evoluiu com a Commedia 

dell’Arte, na Itália, propiciando o surgimento dos primeiros textos teóricos escritos por 

atores-professores. Eles integravam as companhias ambulantes de Commedia dell’Arte, a 

fim de trazer viva a sua arte, ensaiavam entre eles novos jogos de cena, novas entradas e 

saídas, novos “improvisos”. Aos mais jovens ensinavam sua técnica, principalmente 

corporal, permitindo que esta não se perdesse. Podemos dizer que a preparação ocorrida 

durante 1000 anos transformará o ator no mais completo dos artistas pelo domínio do 

corpo (acrobatas, mimos, saltimbancos, procissionais e bufões) e o domínio da voz 

(menestréis, jograis, trovadores e cantores). O mais preponderante, e que foi decisivo 

para o desenvolvimento da Commedia dell’Arte foi a habilidade da improvisação, o 

domínio da criação de uma história sem um texto prévio, apenas baseada num roteiro, o 

que permitia ao ator total domínio da cena.

No Oriente, completa-se a arte da atuação inteiramente centrada no ator com Zeami 

(1363/1444) ator, autor e teórico do Nô japonês que escreve a “Tradição Secreta do Nô” 

comparando a atuação do Nô, que se baseia em inúmeras regras muito rígidas, portanto, 

um contraponto da improvisação, a uma flor sempre em transformação [8]. Talvez o 

autor pressuponha uma certa dinâmica nas rígidas regras do teatro oriental, ou levando 

em conta a transformação como uma evolução natural, assim como uma flor, dentro da 

própria atuação.

A França, humanista em sua essência, havia criado a arte gótica, alterando a função social da arte, tornando-a didática; foi a humanização do religioso, a ampliação das cidades, do capital monetário e da burguesia. Surgiram as feiras e dentro delas os teatros de feira com aqueles atores preparados para improvisar, cantar e dançar. Os autos e as moralidades ainda dominavam principalmente nos países de idioma latino e com forte influência da Igreja Católica dominante (Portugal, Espanha e a própria França). Uma curiosidade encontrada: São Genésio, ator de mimos perseguido, convertido e martirizado é o padroeiro dos atores e São Nicolau padroeiro dos estudantes.

O primeiro estudo sobre a técnica do ator da Commedia dell’Arte foi escrito por Andréa Perrucci (1651/1704), ator e professor, que também escrevia prólogos e intermezzos para a Companhia Armonici di San Bartolomeo. Ao final do período de domínio da Commedia dell’Arte, surge Luigi Riccoboni (1675/1753), filho de Antonio Riccoboni, famoso Pantalone, em Modena. O filho seguiu a carreira de ator e é também conhecido por Lélio, nome de seu personagem. Luigi, ou Lélio, foi um grande ator em seu tempo e um intelectual do teatro italiano, escrevendo vários textos teóricos sobre a arte de representar, uma história do teatro italiano, sobre a Commedia dell’Arte e sobre a reforma do teatro italiano que se dava no momento em que o gênero da Commedia dell’Arte declinava. Cria, em 1716, uma companhia de comédia italiana em Paris. 

O homem se descobriu o centro do mundo no Renascimento e na Itália, a partir do 

chamado Quattrocento Italiano. Os italianos já possuíam o domínio da perfeição da arte 

grega, então retomam seus conceitos, fazendo renascer os ideais de “perficere” 

(aperfeiçoamento). Que se fizeram renascer também como espírito científico e método

 de conhecimento, a arte dissociou-se da Igreja, se individualizou, o homem e a cidade 

tornaram-se o centro do mundo. A praça tornou-se o lugar de intercâmbio de idéias e de 

mercadorias como na pólis grega. O teatro retratou o surgimento da perspectiva na 

pintura e exibia cenários grandiosos. Porém, o que fazia mesmo sucesso era a Commedia 

dell’Arte ao ar livre, nas praças, nas feiras e em todos os lugares onde poderia estar.

Na Inglaterra, a época de Inigo Jones e Ben Jonhson houve até de disputa de público. 

Marlowe iniciou a criação do que vem a ser o drama renascentista e foi o mestre de 

Shakespeare. Enquanto os menestréis e os jograis trabalhavam nos palácios, surgiu na 

Inglaterra um teatro novo, em arquitetura e estilo, que influenciou a representação, 

assim como foi com a Commedia dell’Arte. William Shakespeare (1564/1616) dramaturgo 

e ator, com a riqueza de sua obra, sempre mereceu estudos aprofundados e, 

especialmente para o ator, a leitura de sua obra é uma reflexão sobre a arte de 

representar. A análise de seus personagens é um exercício de compreensão das várias 

facetas da alma humana. Em Hamlet, deixou-nos conselhos para o ator, já esboçando um 

viés naturalista.

Contemporâneo de Shakespeare, Colley Cibber (1671/1757) foi professor e escreveu peças, atuando como ator cômico no Drury Lane. Deixou-nos Apology for his life, na qual apresenta os diferentes estilos de atuação por meio da descrição dos diversos personagens que representou.[9] Outro ator do Drury Lane, sendo administrador e diretor de atores, David Garrick (1717/1779) um dos maiores atores da Inglaterra, modificou para sempre a arte de representar, pois foi o responsável pela ênfase nos gestos, coisa pouco comum num período em que o teatro era essencialmente declamatório. [10] Segundo Duerr [11], era como no tempo de Cícero, representar era o mesmo que fazer um discurso público, os gestos não eram realistas, a caracterização era de pura imitação, porém com um estilo retórico.

 

O humanismo se espalhou da França para a Europa, assim como o Barroco. Na Itália, o Renascimento se expande. O Barroco trouxe a emoção, com as formas curvas, viver tornou-se um espetáculo.

A situação na França não era diferente dos outros países: um teatro dominado pela declamação e por uma representação estática, norteados pelo texto de François Hédelin Abbé D’Aubignac (1604/1676), La Pratique du théâtre, que se remete à Poética de Aristóteles. Foi o tempo do classicismo francês, da tragédia clássica com Corneille e Racine e da comédia de caracteres, com Molière; Marivaux escreveu suas peças ainda com traços da comédia italiana. Surgiu, nos palcos da Comédie Française, Hyppolite Clairon (1723/1803) citada inúmeras vezes por Diderot, em seu “Paradoxo”, como a grande atriz da França. O trabalho artístico de Clairon, mais cerebral, rivalizava com o de Mlle. Dumesnil, mais emocional. Clairon escreveu Réflexions sur la declámation théâtrale, nas quais sistematizou sua experiência teatral e tudo aquilo que julga ser mais importante para os atores. Uma voz forte e sonora era o atributo necessário para quem representava, principalmente, os personagens de Corneille e Racine. O “estudo constante do personagem e do gosto do público” [12] sobressaem em seu texto. Não se imagina uma reflexão tão moderna no século XVIII. Proclamou a igualdade dos sexos e conclamou as mulheres a cultivarem a razão, assim como aponta a necessidade de escolas onde se possa aprender as regras e convenções do teatro. Como as únicas escolas disponíveis na época eram as troupes que atuavam nas cidades, pode-se pensar que Clairon tenha tido algumas aulas com os atores ambulantes.

I Gelosi foi uma das companhias que excursionou pela Europa levando a Commedia dell’Arte e chegou à França para se juntar aos atores comediantes do Hotel de Bourgogne. Jean Baptiste Poquelin foi ator no grupo Les Enfants de Famille, antes de tornar-se ator profissional e autor de sucesso com o pseudônimo de Molière. Deixou-nos uma obra fascinante, com traços marcantes da Commedia dell’Arte e um texto especialmente dirigido aos atores, O Improviso de Versalhes (Improptu de Verssaille) em que satiriza os atores clássicos.

Filósofo integrante do grupo de iluministas que concebeu a Enciclopédia, junto a Voltaire e Montesquieu, Denis Diderot (1713/1784) contribuiu para um novo enfoque da filosofia. Como reação ao texto de Pierre Rémond de Sainte-Albine (1699/1778), editor do Mercure de France, Le Comédien, em que enfatiza a necessidade da emoção e da sensibilidade no ator, Diderot escreveu O Paradoxo sobre o Comediante, obra filosófica e sobre a atuação. Nela é revelada a grande paixão de Diderot pelo teatro, pois conhecia bem todos os atores, citando-os nominalmente e identificando seus personagens mais representados. Era amigo, particularmente, de Clairon e Garrick. Uma exceção em nosso capítulo, porque Diderot não era ator, porém analisou em seu texto o trabalho do ator sob a ótica do espectador e do trabalho dos atores com os quais convivia. Sobressaiu-se, na medida em que tomou como base a interpretação dos atores. Introduziu a noção de estranhamento para a atuação que será revista, mais tarde, por Brecht. Diderot, acima de tudo, queria que o ator emocionasse a platéia e não necessariamente se emocionasse atuando todos os dias para tanto. (fim da primeira parte do capítulo)



[1] GHIRON-BISTAGNE, Paulette. Recherches sur les acteurs dans la Grèce
  Antique. Paris, Société D’Édition “Les Belles Lettres”, 1976
[2] Idem
[3] Ibidem
[4] ARISTÓTELES. Poética. Coleção Os Pensadores, SP, Ed. Abril, 1979
[5] SCHERER, Jacques; BORIE,Monique e ROUGEMONT, Martine de. Esthétique
 Théâtrale. Paris, Editions C.D.U. et Sedes reunis, 1982, pg.22
[6] HAUSER, Arnold – História Social da Literatura e da Arte. 2 volumes, SP, Ed.
  Mestre Jou, s/d, pg. 107
[7] COLE Toby & CHINOY Helen Krich. Actors on Acting. New York, Crown
  Publishers, 1949, pg. 26 
[8] SCHERER, Jacques; BORIE, Monique e ROUGEMONT, Martine de. Esthétique
  Théâtrale. Paris, Editions C.D.U. et Sedes reunis, 1982, pg 32
[9] COLE Toby & CHINOY Helen Krich. Actors on Acting.New York, Crown
  Publishers, 1949, pg. 102
[10] Vie de David Garrick. S/a, Chez Riche et Michel, Paris, 1801
[11] DUERR, Edwin. The Length and Depth of Acting. New York; Holt, Rinehart and
  Winston, 1962, pg. 178
[12] CAIRON, Hyppolite. Mémoires D’Hyppolite Clairon, et reflexions sur la déclamation théatrale;
publiés par elle-même. Paris, Chez f. Buisson, 1793, pg. 246 e 322




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