sábado, 30 de novembro de 2013

Censura: alguém se lembra ou já ouviu falar?

REPORTAGEM -  FOLHA DE SÃO PAULO – 12/02/1968
Teatros cerram hoje suas portas em repúdio à censura.
A classe teatral de São Paulo, em reunião que se prolongou até a madrugada de hoje, decidiu paralisar totalmente suas atividades, até amanhã, e concentrar-se nas imediações do Teatro Municipal, em protesto contra as últimas determinações da censura federal. A medida foi tomada em solidariedade aos artistas do Rio de Janeiro, que adotaram atitude semelhante em repúdio aos cortes impostos pela censura no texto de “Um Bonde Chamado Desejo”, peça de Tenessee Willians que a atriz Maria Fernanda estava apresentando em Brasília, e à proibição da peça “Senhora da Boca do Lixo”, de Jorge Andrade, em todo território nacional.
A concentração no Municipal terá início às 14 horas de hoje, com Procópio Ferreira à frente, e prosseguirá até a meia-noite de amanhã. Com a greve de artistas, estará suspensa, amanhã, a apresentação dos seguintes espetáculos: “Lisístrata” (Ruth Escobar); “Deus lhe Pague” (TBC); “O Homem do Princípio ao Fim” (Bela Vista); “Navalha na Carne” (Oficina);”O Olho Azul da Falecida” (Cacilda Becker); “Sérgio Ricardo na Praça do Povo” (Arena); “Dois na Gangorra” (Aliança Francesa) e “O Milagre de Annie Sullivan” (SESI).    

REPORTAGEM - DIÁRIO DE SÃO PAULO – 20/02/1968
No último sábado, os artistas da Guanabara mantiveram-se em assembléia até as 4 horas da madrugada. O motivo era o mesmo da semana passada: cobrar as promessas feitas pelo ministro Gama e Silva. Tonia está através de um “slogan”, convidando o público a também participar do movimento, passando um telegrama ao ministro ou então ao presidente da República. Como sabemos, além das proibições que já são do conhecimento de todos, o filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol” foi proibido no Maranhão e a Censura ameaça retirar do cartaz o espetáculo “Roda Viva”. Mas o problema mais grave que o teatro enfrenta no momento não é somente com proibições mas principalmente com a centralização da Censura Federal. Os censores não dão a mínima e os empresários ficam sem ação. Fernando Torres já gastou um dinheirão com telefonemas para Brasília e não consegue resolver nada sobre o problema da peça “A Volta ao Lar”. Provavelmente irão repetir-se os mesmos casos de “O Sonho Americano” e “Dois na Gangorra”, que no dia da estréia, ainda não haviam chegado de Brasília. Aliás, consta que esta semana ainda o ministro Gama e Silva, antes de mais nada, iria baixar um decreto, transformando a Censura Federal em estadual. Isto é, cada Estado teria sua Censura, sem depender de Brasília.

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