REPORTAGEM - FOLHA DE SÃO PAULO – 12/02/1968
Teatros cerram hoje suas portas
em repúdio à censura.
A classe teatral de São Paulo, em reunião que se
prolongou até a madrugada de hoje, decidiu paralisar totalmente suas
atividades, até amanhã, e concentrar-se nas imediações do Teatro Municipal, em
protesto contra as últimas determinações da censura federal. A medida foi
tomada em solidariedade aos artistas do Rio de Janeiro, que adotaram atitude
semelhante em repúdio aos cortes impostos pela censura no texto de “Um Bonde
Chamado Desejo”, peça de Tenessee Willians que a atriz Maria Fernanda estava
apresentando em Brasília, e à proibição da peça “Senhora da Boca do Lixo”, de
Jorge Andrade, em todo território nacional.
A concentração no Municipal terá início às 14 horas
de hoje, com Procópio Ferreira à frente, e prosseguirá até a meia-noite de
amanhã. Com a greve de artistas, estará suspensa, amanhã, a apresentação dos
seguintes espetáculos: “Lisístrata” (Ruth Escobar); “Deus lhe Pague” (TBC); “O
Homem do Princípio ao Fim” (Bela Vista); “Navalha na Carne” (Oficina);”O Olho
Azul da Falecida” (Cacilda Becker); “Sérgio Ricardo na Praça do Povo” (Arena);
“Dois na Gangorra” (Aliança Francesa) e “O Milagre de Annie Sullivan”
(SESI).
REPORTAGEM - DIÁRIO DE SÃO PAULO
– 20/02/1968
No último sábado, os artistas da Guanabara
mantiveram-se em assembléia até as 4 horas da madrugada. O motivo era o mesmo
da semana passada: cobrar as promessas feitas pelo ministro Gama e Silva. Tonia
está através de um “slogan”, convidando o público a também participar do
movimento, passando um telegrama ao ministro ou então ao presidente da
República. Como sabemos, além das proibições que já são do conhecimento de
todos, o filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol” foi proibido no Maranhão e a
Censura ameaça retirar do cartaz o espetáculo “Roda Viva”. Mas o problema mais
grave que o teatro enfrenta no momento não é somente com proibições mas
principalmente com a centralização da Censura Federal. Os censores não dão a
mínima e os empresários ficam sem ação. Fernando Torres já gastou um dinheirão com
telefonemas para Brasília e não consegue resolver nada sobre o problema da peça
“A Volta ao Lar”. Provavelmente irão repetir-se os mesmos casos de “O Sonho
Americano” e “Dois na Gangorra”, que no dia da estréia, ainda não haviam
chegado de Brasília. Aliás, consta que esta semana ainda o ministro Gama e
Silva, antes de mais nada, iria baixar um decreto, transformando a Censura
Federal em estadual. Isto é, cada Estado teria sua Censura, sem depender de
Brasília.
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