segunda-feira, 4 de março de 2013

NOITES BRANCAS



Foto Sérgio Eluf Bertha Zemel e Odlavas Petti














Trechos de Crítica 
O Estado de S. Paulo – por Décio de Almeida Prado – 06/03/1964
Três adaptações quase sucessivas, duas cinematográficas (a russa e a de Visconti) e esta teatral, vem demonstrar que a velha e romântica novela de Dostoiévski ainda tem alguma coisa a revelar ao espectador moderno, ainda que seja, simplesmente, trazer aos seus ouvidos ecos de uma melodia outrora familiar e agora já quase esquecida. Noites Brancas, com efeito, é uma história paradigmática, exemplar, fundindo numa ação simples toda uma série de mitos populares do romantismo em sua face que poderíamos chamar de angélica, em oposição à satânica: o jovem sonhador, solitário e incompreendido, a revelação súbita do amor através da mulher que é a sua alma gêmea, a efusão sentimental, a esperança da felicidade e a separação trágica – o encontro perfeito dera-se demasiado tarde. Tudo parece emanar da magia de algumas noites de primavera, como se as próprias personagens fossem produto do devaneio e o romance de amor não passasse de uma dessas imagens fugidias da felicidade que fabricamos para nós mesmos, sabendo embora que não podem ter qualquer correspondência no mundo real. É uma fantasia típica da adolescência, um sonhar acordado – mas nem por isso menos significativa ou cativante. A encenação do Teatro Popular do Sesi, estreada anteontem no Teatro Maria Della Costa, fica a meio caminho entre o amadorismo, de onde o grupo provém e o profissionalismo, para o qual se dirige. Daí, paradoxalmente, boa parte do seu inegável encanto. Fosse outra a história, menos baseada na força da imaginação, e talvez exigíssemos, do texto e do espetáculo, maior dose de técnica artesanal. Mas o faz-de-conta deste Dostoiévski quase lírico casa-se bem com o caráter por vezes primitivo da encenação, no bom sentido em que a palavra é empregada em pintura, de obra que se comunica a nós pela simplicidade e ingenuidade de tom. Tanto a adaptação de Bertha Zemel como a direção de Osmar Rodrigues Cruz tiveram a sabedoria de não desejarem ser espertas demais, criando uma atmosfera de inocência humana e artística que, sem nos levar a uma realização estética acabada, faz o suficiente para que possamos compreender e sentir o sabor da novela [...]. Cenário de Clovis Garcia, aproveitando com inteligência as soluções mais atuais do teatro moderno.
(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida no Teatro Hucitec 2001)

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