INSTITUTO OSMAR RODRIGUES CRUZ
TEATRO NACIONAL POPULAR BRASILEIRO (TNPB)
UM
BRASILEIRO E PORTUGUÊS...
As obras de Cláudio Manoel da Costa O Parnaso Obsequioso, como também de
Alvarenga Peixoto Enéias do Lácio não
obtiveram muito sucesso e talvez por serem obras não populares.
Então, quem foi o primeiro dramaturgo
brasileiro a nos brindar com uma obra eclética da ópera à comédia? Antônio José
da Silva, chamado de O Judeu, que nasceu no Brasil, porém foi logo para
Portugal e lá viveu até que a Inquisição de Portugal acusou sua mãe de
“judaísmo”. Veio para o Brasil e trouxe parte de sua produção de óperas, que
estavam sendo encenadas no Bairro Alto de Lisboa.
Um dos nossos maiores desastres que o nosso
mundo produziu foi a Inquisição. Digo produziu, porque foi a Igreja Católica
que o criou e se estabeleceu em toda Europa, ou quase toda, como forma de
Tribunal. Convocava pessoas que a seus olhos eram considerados não cristãos por
“juízes” (alto clero) nomeados para caçar os judeus, intelectuais, professores,
“bruxas”, qualquer um aleatoriamente que não se enquadrasse às ideias,
doutrinas e práticas da Igreja. O chamado Tribunal da Santa Inquisição prendia,
torturava e queimava vivo todo aquele que fora condenado pelo “Tribunal”
arbitrariamente.
Mas o assunto aqui é Antônio José que
produziu uma obra popular, sem deixar de ser consistente. Como a curiosidade da
dramaturgia é muita, vamos transcrever a introdução ao primeiro volume ao todo
em quatro de suas obras da edição brasileira de 1910 que vale muito pela
análise dos seus textos dramatúrgicos.
Primeiro uma “Advertência”:
“Poucas pessoas conhecem o teatro de Antônio
José, o Judeu, o autor de comédias
mais popular que teve a literatura da nossa língua.
Muitas edições se fizeram outrora das suas
obras, mas são já raras em Portugal, e no Brasil raríssimas.
Das Obras
do Diabinho da mão furada apenas existia uma impressão única nas páginas da
Revista Brasileira que é também rara.
O primeiro editor do Teatro Cômico escreveu, em 1744, a propósito das comédias do Judeu, as seguintes palavras que ainda
convém reproduzir (reserva feita dos erros de história literária):
““ Leitor:
Foi tão grande o aplauso, e aceitação, com que foram ouvidas as Óperas, que no
Teatro Público do Bairro Alto de Lisboa se representaram desde o ano de 1733,
até o de 1738, que não satisfeitos muitos dos curiosos que as ouviram
quotidianamente repetirem, passavam a copia-las, conservando aos outros estas
cópias com tal avareza, que se faziam invisíveis para aqueles, que desejavam
ler, e para outros apagar o desejo de as lerem, pelas não terem ouvido, outros
renovar a recreação, com que no mesmo Teatro as viram representadas. Por
satisfazer o desejo de uns e outros, tomei a empresa de juntá-las e fazê-las
imprimir com o título Teatro Cômico Português, para que com facilidade e sem o dispêndio, que as cópias manuscritas
fazem, pudessem todos gozar de umas Obras tão apetecidas por singulares. Estou persuadido
que não é desagradável esta minha Coleção; porque além de satisfazer um desejo,
sirvo a Pátria, publicando estas obras, que segundo as leis da composição
dramática, são as primeiras, que deste gênero se tem escrito no nosso idioma.
Algumas comédias foram impressas, como as de Antônio Prestes, Gil Vicente,
Antônio Ribeiro, Sebastião Pirez, e Simão Machado, compostas em versos.
Publicou Jorge Ferreira em prosa a Eufrozina, a Ulyssipo, e a Aulegrafia. Saiu à luz Francisco de Sá e Miranda com a
intitulada Os Estrangeiros, e Vilhalpandos, e D. Francisco Manoel com as duas, a que deu por título O
Labirinto da Fortuna, e Os Segredos
bem Guardados, sem nos esquecermos de
também das duas do nosso Luiz de Camões, que andam impressas no fim das suas
Obras; porém todas estas, umas pelo diverso gênio dos tempos outras pela sua
informe disposição, e dilatada contextura, serviam aos curiosos somente de
fastio, que de recreio. Nestas, que agora te ofereço por benefício da
impressão, acharás pelo contrário daquelas uma suave, e natural disposição das
partes, o caráter dos sujeitos sustentado sem decadência, à locução própria a
cada um dos interlocutores, e o jocoso tão temperadamente honesto, que não
ofende com a graça os ouvidos, e tão vivo, que se não encontra semelhante em
nosso idioma, e não sei também se nos dissera das Nações estranhas; os que
confessariam, não sem inveja, se fossem ainda vivos. Moreto entre os espanhóis,
Molière entre os franceses, e Nicolao Amenta entre os italianos.””