Elenco da peça |
Trechos
de crítica
Última Hora
– por João Apolinário – 4/8/1971
APROVEITE. É DE GRAÇA. VEJA SENHORA, UM BOM ESPETÁCULO
Há mil razões, todas maravilhosas,
para aplaudir este espetáculo que o povo pode ver no Teatro Popular do Sesi
(Rua Três Rios, 252, sem pagar nada). E se me dão licença os mercenários do
teatro, vou aplaudir de pé todos os que fazem de Senhora uma prova provada de que estão certos aqueles que defendem
a necessidade de um teatro brasileiro popular.
Em seguida, um aplauso muito
intencional para Osmar Rodrigues Cruz, não só como diretor desta encenação, mas
sobretudo por ter sabido usar os recursos do Serviço Social da Indústria no
sentido que devia e pela primeira vez aplica com total objetividade didática e
cultural, em função do público em formação de que também dispõe aos milhares.
Chamo agora a vossa atenção para
Sérgio Viotti: ele provou com esta adaptação do romance de José de Alencar, Senhora, ao povo que o teatro brasileiro
que devemos poder alcançar com boas adaptações como a sua, um alto nível
catalisador no desenvolvimento da formação de espectadores, sintonizando neles
todo um repertório estudado em sucessivos graus de revelação cultural que
utiliza não só as peças existentes, mas a nossa literatura de ficção, adaptada
inteligentemente, não apenas para adultos, mas também para os estudantes
secundários.
Exatamente a proposta que já foi
feita pela Comissão Estadual de Teatro, da qual o Sesi dá este primeiro passo e
magnífico exemplo.
Exemplo ainda mais significativo, o
quanto Osmar Rodrigues Cruz soube reunir uma equipe de rigorosa capacidade
profissional e com ela realizar uma encenação cujo mérito está em alcançar o
nível artístico que teria se se tratasse de uma exploração comercial, o que
prova que o diretor sabe que deve ao povo, a quem oferece gratuitamente o
resultado do seu trabalho e dos recursos do Sesi, o máximo do desenvolvimento
que é possível atingir-se entre nós em espetáculos do gênero, sem que se
subestime o mínimo detalhe.
Está nesse caso, por exemplo, a
concepção dos cenários e figurinos, aparentemente contraditórios, mas a meu ver
certos na sua justaposição realista e impressionista, com o objetivo igualmente
certo de apoiar o ator a exprimir, essencialmente, a expressão verbal, resultado
último da adaptação do romance para a qual havia necessidade de se criar um
lugar dramático, um local generalizado, de ação múltipla, por vezes quase
simultânea, aqui suprindo a falta orgânica da carpintaria, impossível de dar a
um texto que não nasceu para o teatro.
E Túlio Costa, o cenógrafo foi muito
feliz, mas Ninette Van Vuchelen muito mais, caracterizando os figurinos em uso
na sociedade carioca do Segundo Reinado não só de uma leveza de bom gosto, mas
ainda mais no equilíbrio das cores, permitindo a fusão plástica com a luz, cuja
distribuição visava só o essencial para sugerir o lugar dramático e a emoção, o
que aliás foi conseguido plenamente.
O estilo de representação, obrigado
a impor-se no sentido de uma convincente e consistente expressão verbal, teria
de ser indiscutivelmente naturalista, como é, embora realizado melhor por uns
do que por outros intérpretes, isto se exigíssimos deles mais do que podem dar.
O que dão, porém, é eficiente, claro e uma nítida substância da ideia ou tema
do romance feito peça [...] todos a final merecendo aplausos e, em nome do
espectador mais comum, o nosso agradecimento.
Desculpem se ainda não foi desta vez
que fizemos o comentário popular que também devemos aos espectadores de Senhora, mas não resistimos ao entusiasmo
de somente saudar todos os que colaboraram com o Sesi para dar ao público o
teatro que ele precisa.
(in Osmar Rodrigues Cruz Uma
Vida no Teatro Hucitec 2001)
VISITE TAMBÉM
WWW.BLOGDOVICTORINO.BLOGSPOT.COM