sexta-feira, 7 de junho de 2013

LEONOR DE MENDONÇA



Trechos de crítica – Jornal da Tarde
por Sábato Magaldi – 15/10/1974

Osmar Rodrigues Cruz realiza em Leonor de Mendonça, oferecida de graça, no TBC*, sua encenação mais ousada e por isso mais eficaz artisticamente. Algumas contradições entre o tratamento que ele deu ao desempenho e a linguagem do drama de Gonçalves Dias ainda não estão resolvidas, mas a carreira do espetáculo deve encarregar-se de trazer o tom e o tempo justos.
[...]. Talvez Leonor de Mendonça não represente para o público o mesmo apelo dos cartazes anteriores do TPS. Por outro lado, é possível que a direção do elenco nunca tenha andado tão certa ao escolher, a esta altura do trabalho, a peça de Gonçalves Dias.
Leonor de Mendonça é, de longe, o melhor drama brasileiro do século XIX e um grupo de teatro popular honra a sua missão ao montá-lo para um grande público.

*TBC - Teatro Brasileiro de Comédia

Trechos de crítica – Jornal do Brasil
por Ian Michalski – 5/11/1974

Até que ponto a tragédia romântica de Gonçalves Dias pode ser considerada como matéria-prima adequada para quem se propõe, hoje em dia, a fazer teatro para um público eminentemente popular, como é o caso do TPS? A enorme fila que eu encontrei na porta do teatro, e as notícias que tive da lotação esgotada em todas as sessões, parecem insinuar uma resposta significativa, embora a gratuidade dos ingressos constitua é claro, um fator que não pode ser desprezado.
Para transmitir o conteúdo da tragédia – provavelmente a mais bela e completa de todo o acervo clássico nacional – numa linguagem capaz de ser assimilada por esse público popular, o diretor Osmar Rodrigues Cruz procurou realizar um espetáculo moderno, pelo menos sob dois aspectos importantes: os três personagens centrais foram manifestamente estudados à luz dos conceitos atuais da psicologia, e assumem um comportamento coerente com a tipologia dentro da qual foram enquadrados a partir desses conceitos; o texto está sendo dito pelos atores, na medida do possível, de uma maneira coloquial, sem dar qualquer ênfase ou arrebatamento poético, mas também sem submeter a linguagem do poeta a qualquer adaptação ou atualização.
[...]. Por mais que se possa discutir certas peculiaridades da política cultural do TPS, e mesmo a qualidade das realizações de Osmar Rodrigues Cruz (entre as quais Leonor de Mendonça é certamente uma das melhores), é impossível deixar de reconhecer o resultado que o movimento vem obtendo no seu trabalho de popularização do teatro e conquista de novas plateias. Seu último espetáculo Caiu o Ministério saiu de cartaz com casas cheias, após um ano e meio de carreira. Agora, a obra mais representativa do nosso romantismo teatral será também vista, numa encenação honesta, por milhares de pessoas que sem o TPS dificilmente encontrariam o caminho das bilheterias. Isto já justificaria a iniciativa, que está agora no seu décimo segundo ano de existência, e caminhando para acolher o seu espectador nº 3.000.000.
(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida no Teatro Hucitec 2001)


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