Sincronização
da voz e do movimento
O
movimento do corpo e a pronunciação vocal não são itens distintos. Na verdade,
são canais diferentes através dos quais o pensamento, o sentimento e o desejo
de um personagem se tornam patentes. Podem ser diferentes meios de comunicação,
porém devem ambos transmitir a mesma coisa, ao mesmo tempo. Deve existir aquela
combustão espontânea entre o pensamento, o sentimento e o desejo e a expressão
resultante, no movimento e no som. Ainda que, com efeito, o estado intrínseco
preceda a sua expressão no corpo e na voz (a teoria de James-Lange em relação ao
sem embargo contrário) será prático ao ator a fim de vê-los como simultâneos.
Aliás, ele pode facilmente cair em clichês e artifícios comerciais técnicos.
Como, por exemplo, a mera frase “não quer sentar-se?” pode degenerar em “não
quer (pausa, em seguida gesticulação) sentar-se?” Existirá sempre esta harmonia
contrabalançada entre a gesticulação e a voz, uma suplementando a outra, de
acordo com a que é mais importante, no momento. Podem existir momentos em que a
peça exija que o movimento do personagem conduza o choque da ideia do autor, em
que o exemplo da voz e da linguagem podem ser mais importantes, quando a
pantomima se tornará secundária. Shakespeare deu sábios conselhos sobre isto.
Diz Hamlet, no seu conselho aos atores, “ajustem a palavra ao gesto, esta
àquele, com cuidado especial para não ultrapassarem a modéstia natural.” Ou uma
situação pode elevar-se bem separadamente da própria peça quando os atores
devem depender por completo de um só canal para transmitir a peça à plateia.
Recorda-se tal momento no 1º ato de “O Dr. Knock”, durante uma trovoada e um
aguaceiro violentos, que se fizeram ouvir no Westport Country Theatre” de
Lawrence Langner. Literalmente, os atores gritaram para fazer-se ouvir, mas de
nada serviu. Sabedores de que a peça está sendo apresentada em benefício de uma
plateia, os atores em completo desespero criaram a cena através somente da
pantomima. Eles conversaram com as mãos, as faces, os pés, os corpos. Conhecem
a sua tarefa como atores, que foi a de transmitir a peça à plateia, e se isso
não pudesse ser feito oralmente, tinha de ser feito através da expressão
física. O bom ator sabe que a pantomima, a gesticulação, a atividade corpórea
são básicas (ver é acreditar e as ações falam mais alto do que as palavras) e
que a voz e a linguagem servem para ampliar a comunicação.
A
sincronização dos canais de expressão, portanto, é uma condição que exigirá
atenção no teatro. Os atores que realmente sincronizam esses dois canais
importantes, são uma exceção à regra.
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