domingo, 8 de abril de 2012

A Arte do Ator











Osmar antes do espetáculo - Teatro Experimental

ARTIGO – DIÁRIO COMÉRCIO E INDÚSTRIA – 25/06/1950
A Arte do Ator
É o ator, no dizer de Jean Louis Barrault “o meio essencial da arte dramática” e, sem dúvida alguma, ele tem toda razão nessa sua assertiva. É o ator a única pessoa no teatro que enfrenta o público, nem o autor e menos ainda o diretor, entram diretamente em contato com a plateia, apenas indiretamente pela voz, gestos e mímicas do intérprete, que é o ator.
Inúmeras teorias existem sobre o ator. Umas que dão a ele a qualidade de ser o único artista que de fato possui o teatro, isto é, que somente no ator está a essência do teatro. Outras o consideram apenas um dos intérpretes da obra literária, qualificando o autor o verdadeiro criador da arte dramática. Outros ainda acham que o ator é apenas um estorvo à realização do espetáculo. Esse princípio é seguido por Gordon Craig, o qual na sua teoria sobre a super-marionete ele prefere bonecos a atores de carne e osso.
Por isso concordamos com Jean Louis Barrault, quando diz: “O instrumento do qual deve servir-se o autor para praticar a arte dramática, é o ator. O ator é um ser humano especializado para servir de instrumento à arte do teatro: especializado no desenvolvimento da vontade, na determinação dos movimentos do seu corpo, da sua respiração, da sua voz e da sua dicção, através de estudo particular sobre diversas expressões estéticas e vocais”. De fato é o ator um meio do qual se serve, juntamente com o diretor, para formar com ele uma encenação, mas isso não quer dizer que o autor e o diretor não deixam de ser, também, instrumento para a arte dramática. Se é verdade que o escritor fornece a matéria prima, também é claro que, sem ator, nunca essa matéria teria vida, todos os três são instrumentos, um do outro, formando, assim, o teatro como arte de equipe.
Nesse triunvirato, como já dissemos é o ator quem mais recebe glórias, entretanto, é quem depois da morte é menos lembrado e menos ainda estudado. Sua arte vale enquanto ele puder entrar em cena, caso contrário sua fama desaparece com sua geração. 
Hoje ouvimos falar e lemos sobre Tespis, mas não nos importa a sua maneira de interpretar, nem se sua voz era boa ou sua mímica rica em nuances. O tempo só conserva no teatro o autor, porque ele grava em letras a sua arte. Entretanto, o ator que é um artista apenas visual permanece estático e sem análise pelas gerações posteriores. Isso não quer dizer que ele não seja um criador de sua arte que pertença só a ela. A prova que existe uma arte toda sua e que a interpretação de qualquer personagem pode variar de um para outro artista, e nem por isso deixa de estar certa na linha imaginada pelo escritor. Um Hamlet de Lawrence Oliver é tão puro como o de Jean Louis Barrault, entretanto são bem diferentes na interpretação. Cada um de nós apresenta um Shakespeare, diferente.
Por isso a arte do ator é intensa e laboriosa, porque ele tem que viver todo o seu futuro como artista, no presente.