Cenário em dois planos de Francisco Giaccheri |
Referências sobre
a peça
O
Teatro Experimental do Sesi inicia sua terceira temporada. Cada vez nos convencemos
mais de que o teatro, quando procuramos realizá-lo bem, encontra por parte do
público uma boa acolhida. Disto já tivemos prova aqui, neste mesmo local, com o
Fazedor de Chuva. A experiência
bem-sucedida encorajou-nos a prosseguir na jornada. O TES foi criado para
aqueles que não têm oportunidade de frequentar as nossas casas de espetáculo. A
estes é que o Sesi se preocupa em dar, ao lado do seu vasto campo de
assistência social, uma parte recreativa e artística, com o objetivo de
integrar perfeitamente o trabalhador na sociedade, para que possa desfrutar de
todas as suas vantagens. Um dos recursos utilizados é o Teatro. Promovemos
perto de quarenta espetáculos de teatro por mês, com grupos dramáticos
localizados em comunidades industriarias, realizando aí e nos teatros
municipais nossas representações. Da necessidade de criar um grupo do mais alto
nível artístico, representando peças inéditas com elenco escolhido, surgiu o
TES, e assim se vem orientando. Este novo espetáculo compreende uma das
melhores peças do teatro moderno e um de seus maiores autores. A Pequena da Província e Clifford Odets
significam para nós um passo mais sério e difícil dentro da nossa empresa.
Tanto peça como autor apresentam dificuldades para sua montagem e para aqueles
que a assistem. O que hoje apresentamos é um texto sério, sobre problemas
humanos e emocionais que nos afligem. Odets é um autor que estrutura seus
personagens de maneira subjetiva. Não se pode deixar de notar claramente a
influência de Tchekhov, exercida, aliás, sobre quase todos os autores
contemporâneos. A Pequena da Província
sofreu essa influência, pois nela Odets demonstra seu gosto em desenhar
psicologicamente os fracassos e as frustrações dos incapazes de realizar seus
sonhos, como é o caso do nosso infeliz Frank Elgin. É um drama de
características realísticas e poéticas, é uma história humana, que nos
interessa profundamente; apesar de sua “problemática” a ação desenvolve-se com
naturalidade. A peça nos convence pelos altos dotes de Odets. Talvez poucos autores
demonstraram conhecer minuciosamente o mundo dos pequenos e humildes como ele.
Seus personagens têm vida própria na cena, que seu talento lhe dá, através de
diálogos vigorosos, dramáticos e às vezes humorísticos. O humor de Odets,
pouquíssimas vezes rebuscado ou fictício, surge naturalmente do personagem.
Através do amor, da liberdade de expressão e da revolta, seus tipos se
transformam – numa conversão, que se assemelha, por intensidade, ao sentimento
religioso – o que os leva à completa realização de si mesmos. Este é o
característico do movimento de renovação da década de 30, e explica toda a
importância de Odets. Ele é um autor realista no sentido moderno, isto é, de um
realismo poético; portanto suas cenas devem sugerir uma realidade para formação
de um ambiente que determine o desenvolvimento e compreensão da ação da peça.
Assim, a situação cenográfica se resume em determinar os momentos exteriores,
para facilitar a expressão interior dos personagens. O espaço normal do palco
não fornece requisitos para uma montagem de todas as cenas em conjunto, e um
cenário sintético ou um cenário de apenas sugestão poderiam fazer com que os
personagens se sentissem muito isolados dentro do seu mundo. Por isso
escolheu-se a solução da construção das cenas para que a ação material
estivesse em plena relação com o mundo interior dos personagens. Parece ser
esta a solução mais lógica para as peças do famoso autor. Suas obras necessitam
de ambiente, que dê a impressão de que as paredes, se não falam, pelo menos
escutam e sentem, e fazem-se sentir aos que dentro delas vivem. Em nenhuma das
cenas, a não ser a última, sentimos um pouco de alívio. Nas outras tudo é
carregado e tenso. Assim procuramos trazer ao palco todas as intenções do
autor. Só nos resta saber se o trabalho, o estudo e o carinho com que nos
lançamos na empreitada conseguiram alcançar esse objetivo. Essa foi sempre a
finalidade do teatro e principalmente de um teatro comercial. Nossos esforços
visaram respeitar e traduzir, dentro de nossas possibilidades, um autor que
tanto tem feito pelo Teatro. (ORC)
(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida
no Teatro Hucitec 2001)
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