Primeiras manifestações de teatro no Brasil (Osmar Rodrigues Cruz – Chefe do Serviço de Teatro)
Diz Viriato Corrêa que “a nossa civilização começou com o Teatro”, e é bem verdade! Nenhuma nação teve um início tão singular quanto a nossa. Aqui mesmo em São Paulo, mais tarde em São Vicente e Niterói, foi que Anchieta adotou, como a melhor maneira de catequizar os indígenas (dando-lhes noções de religião, moral e educação), o teatro, que age diretamente sobre o cérebro e os sentidos e ensina por meio de exemplos que são vistos e não apenas narrados. A fórmula usada por Anchieta foi por ele trazida da velha Espanha.
O efeito foi grande. Ao lado da sua choupana, Anchieta construiu um tablado, escreveu autos em castelhano, português e tupi-guarani, língua que logo aprendeu, e ensaiava as peças com os indígenas. O enredo delas, geralmente, girava em torno do mal que deveria ser expulso da aldeia. Assim escolhia para o papel de “mal”, um morador que fosse realmente mau ou tivesse fama de mau; para cada papel, pessoa com as características do papel a ser representado. Tendo como cenário as folhagens das árvores, o pôr do sol e o canto dos pássaros, eram armados o tablado e os bancos para os assistentes; e entravam logo depois os personagens, interpretando o “Auto da Pregação Universal” texto bilíngue de Anchieta, sobre a luta do bem e do mal. Representaram mais tarde os “Mistérios de Jesus”. Pouco a pouco, foi Anchieta iniciando nossa civilização através da arte do Teatro. Todos os indígenas, aos poucos, foram-se aproximando dessas representações, aderindo à escola, à igreja; através delas, receberam os primeiros ensinamentos, aprenderam a língua, boas maneiras e o principal, que era o trabalho.
Não escrevia Anchieta em linguagem difícil. Tudo era compreensível para os selvagens, desde a trama, até os locais onde se passava a ação. Muitas vezes o efeito desejado por Anchieta era recebido com palmas e gritos do auditório, que entendia perfeitamente.
Surgiu assim o nosso Teatro, entre as árvores de Piratininga, representado por nossos indígenas, e com a finalidade única de educar.
Essa deve ser a finalidade da arte.