Foto de Sérgio Eluf e Cenografia de Clovis Garcia |
Trechos de
Crítica – A Nação – por Clovis Garcia
– 28/09/1963
O
Teatro Experimental do Sesi, sob a direção de Osmar Cruz, vem, de forma
continuada, realizando um trabalho de divulgação do teatro como forma de
culturização dos trabalhadores. As peças escolhidas procuram um equilíbrio
entre o nível artístico e a sua acessibilidade por parte de um público que não
está habituado ao espetáculo teatral. É uma forma de teatro popular que, se não
é comprometido, pelo menos se utiliza honestamente desse meio de expressão
artística como força de democratizar a cultura. Agora, com a locação do Teatro
Maria Della Costa por um longo prazo, Osmar Cruz pretende desenvolver suas
atividades, ampliando sua experiência. E, para essa nova fase, escolheu a peça
de Antônio Callado, Cidade Assassinada,
escrita para concurso do IV Centenário de São Paulo. A figura histórica de João
Ramalho, cercada de lendas e as lutas pelo predomínio no planalto entre a vila
fundada por esse desbravador, a antiga Santo André da Borda do Campo e o novo
povoado erigido pelos jesuítas em torno do Colégio de São Paulo, são elementos
de marcada teatralidade, atingindo mesmo o nível da tragédia, no sentido
clássico. Antônio Callado compreendeu essa importância do tema, dando à sua
peça um sentido épico e, alterando o fato histórico, fez João Ramalho morrer
juntamente com sua vila, para ser respeitada a dimensão trágica. A peça existe
em função do personagem central, opondo sua vontade contra tudo e contra todos,
até ser destruído pela força do destino. Nesse sentido, Cidade Assassinada atinge o nível clássico da tragédia. O que lhe
tira uma força maior é a indecisão entre o épico e o lírico, a intenção de
quebrar a tensão com cenas poético-românticas, que resultam numa certa
descontinuidade no impacto trágico. Essa descontinuidade mais se acentuou na
encenação de Osmar Cruz, que não contava com atores capazes de sustentar as
cenas líricas num tom elevado. A concepção geral do espetáculo, porém, está
acertada e não temos dúvida de que, com um elenco de maior força dramática, o
trabalho do diretor obteria um melhor resultado. Assim mesmo, deve ser louvado
o efeito épico conseguido nas cenas centrais, inclusive no segundo quadro do
terceiro ato, cuja dramaticidade beira o melodrama, que a habilidade do
diretor, auxiliada pelo principal interprete, conseguiu evitar. [...]. Um
espetáculo semiprofissional mas que atinge, pelos valores da peça, pela
concepção do diretor e pela interpretação do principal ator, um nível superior
a muito espetáculo profissional que se apresenta por aí, com muita pretensão.
(in Osmar Rodrigues Cruz Uma Vida
no Teatro Hucitec 2001)
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