A REPRESENTAÇÃO
À medida
que os ensaios progridem, a relação de personagem com personagem e com a peça,
como um todo, cresce cada vez mais definida. A consistência do personagem nasce
desse contato durante os ensaios. Um teste, pelo que respeita ao trabalho
criador do ator, basear-se-á nessa descoberta, de que ele cessa de comportar-se
para com os seus comparsas como atores, mas como os personagens que eles
representam. A afinidade entre dois personagens – tal como uma mãe com o filho,
ou uma esposa com o marido – cessa de ser algo abstrato e torna-se uma coisa
definida, que o ator sente espiritualmente e emocionalmente. O contato contínuo
durante o ensaio encontrará o ator crescendo no seu papel, à medida que outros
atores crescem nos deles. Os personagens veem à vida apenas em relação a um
outro.
A dicção
das frases e a qualidade do movimento dependem principalmente da ideia da peça,
da caracterização e do contexto que mantém unidos os personagens ou os coloca à
parte. Aprender as frases e fixar posições muito rapidamente durante os ensaios
pode ser um recurso, quando o tempo é precioso ou quando os atores estão
irremediavelmente maus ou sumamente bons. Porém o resultado em muitos desses
casos é mecânico, artificial e pretensioso. Se o diretor for um inteligente
guia, as frases e as posições virão à medida que os atores desenvolvem as suas
caracterizações. Em seguida, as frases e os movimentos serão justificados de
dentro e não forçados de fora. Mas uma vez que as frases são aprendidas, as
palavras corresponderão exatamente àquelas do texto, pois presumivelmente o
autor exprimiu a forma dos pensamentos e das ideias do personagem através de
uma seleção cuidadosa e uma disposição de palavras. No entanto, mais cedo ou
mais tarde, os modelos de dicção e movimento tornar-se-ão cristalizados, mas
nunca numa extensão em que eles possam variar até ajustar as exigências de
qualquer momento particular, enquanto os atores não quebrem o fio e o modelo da
ideia da peça.
A
representação começa com um fator novo e importante: a plateia. Até aqui,
durante o ensaio, o diretor era a plateia, mas com a representação ele torna-se
um outro espectador. Os atores sensíveis aprenderão muito das reações da
plateia. Uma cena é representada bem ou mal, de acordo com o seu efeito sobre
uma determinada plateia. “Pérolas aos porcos” não é uma defesa quando a plateia
sucede ser obtusa (estúpida). Feliz é o ator que pode sentir o nível
intelectual e emocional de uma plateia e reage de acordo, porém dentro dos
limites do tato, da proporção e da propriedade. Isto não significa, certamente,
que o ator não procurará governar a plateia em suas reações. Pois é obrigação
dele fazer a plateia comportar-se, como exige o personagem. “O espírito do ator
deve ser sempre mais atilado do que o da plateia” – diz Jehlinger.
Efetivamente
o trabalho do personagem não termina com a representação. Cada noite o ator
deixará o teatro com as mais novas impressões do personagem e da situação,
recolhidas do seu contato com a plateia. Na noite seguinte ele pode somar aqui,
subtrair ali, conceber de novo isto ou aquilo. Ele continuará a dedicar-se
novamente e a testar de novo as leis da criação do personagem. Somente com tal
desejo de luta é que realmente melhora a sua caracterização. Mas não será
jamais perfeito. A perfeição é um ideal, não é? (ORC)
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