sábado, 7 de janeiro de 2012

UMA VIDA, UMA OBRA: TEATRO POPULAR


                                                                     Clovis Garcia


          Se alguém fixou um objetivo para sua vida e conseguiu realizá-lo, esse alguém foi Osmar Rodrigues Cruz. E esse objetivo foi tornar realidade um teatro popular, e o resultado foi o Teatro Popular do SESI, com seus mais de quarenta anos de existência  dos quais mais de trinta sob a direção firme de Osmar.
          A expressão teatro popular sofre muitas interpretações. As mais habituais são: 1 – um teatro de baixo preço, tornado acessível à população de baixa renda. As campanhas de popularização do Teatro, oficiais ou oficiosas, seguem essa linha; 2 – um teatro que permita a todas as faixas da população acesso ao patrimônio cultural da humanidade, quer dizer, no caso do Teatro, o oferecimento das grandes obras teatrais ao povo; 3 – um teatro com uma dramaturgia comprometida com doutrinas sociais, com o grave problema de que, na maioria dos casos, a qualidade artística fica prejudicada pela dominância panfletária: 4 – finalmente, teatro popular seria o que o povo faz, os folguedos e autos populares.
          Osmar Rodrigues Cruz se apoiou nos dois primeiros significados, levando-os ao extremo: em lugar de baixo preço das entradas, adotou preço nenhum. Durante sua gestão, o Teatro Popular do SESI foi sempre gratuito, apesar de algumas objeções. O resultado foi que em quarenta anos, o Teatro Popular do SESI foi visto por quase sete milhões de pessoas, possivelmente um número recorde no Brasil, obtido por qualquer companhia estável. De acordo com pesquisa feita, dos freqüentadores dos espetáculos do SESI, 72% eram operários, e ainda, 17%  estudantes e 3%  funcionários públicos, isto é, o TPS atingiu realmente o povo, graças a firmeza do objetivo e a um perfeito serviço de distribuição de entradas E quanto à qualidade, durante a gestão de Osmar, o repertório foi de alto nível artístico, seja composto pela dramaturgia nacional, seja pelos textos de grandes autores universais. Assim, foram oferecidas ao povo, na área do teatro brasileiro, peças de dramaturgos clássicos, como, entre outros, Martins Penna, Joaquim Manuel de Macedo, Oduvaldo Vianna, Gastão Tojeiro, França Junior, grandes autores literários e eventualmente dramaturgos, como Machado de Assis, José de Alencar, Gonçalves Dias, até aos mais importantes teatrólogos modernos, como Plínio Marcos, Nelson Rodrigues, Luiz Alberto Abreu, Maria Adelaide Amaral, e outros mais. Quanto ao teatro universal, os maiores nomes aparecem no repertório do TPS, como Shakespeare, Molière, Schiller,  Marivaux, Goldoni, Garcia Lorca, para citar alguns clássicos sem prejuízo de dramaturgos modernos, como Clifford  Odets.
          Assim, durante a gestão de Osmar Rodrigues Cruz, iniciada em 1959, quando ainda o teatro do SESI era amador como Teatro Experimental, passando a profissional em 1963, agora como Teatro Popular do SESI, até 1992 ocasião em que a entidade resolveu reformular suas atividades teatrais, afastando Osmar por razões até hoje não muito claras,
o TPS, com suas 30 encenações pelo elenco principal e 13 pelo elenco itinerante realizou uma obra monumental. Em qualquer país civilizado, o autor dessa extraordinária façanha, dedicando uma vida à realização de uma obra extraordinária, estaria com seu nome inscrito no panteon nacional.

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